O sucesso dos astros de Hollywood Ryan Reynolds e Rob McElhenney com a compra do Wrexham, da Inglaterra, não é a único caso de aproximação entre artistas e clubes de futebol. Quando se trata de outras equipes de pequena expressão, as estrelas levam em conta a paixão pelo futebol no momento em que se tornam patrocinadores.
O rapper argentino Milo J, de 18 anos, por exemplo, dispensa o globalizado futebol europeu para dedicar sua torcida ao Deportivo Moron, da segunda divisão do país. Ele é um dos principais patrocinadores do clube para 2025, com uma linha especial do uniforme que estampa a marca do cantor, enquanto as camisas de jogo contam com outras logomarcas. Cada unidade custa 58 mil pesos (R$ 340). Na loja online do clube, todos os tamanhos, com exceção de XP, estão esgotados.
Foi especulado que o valor da parceria rendeu 28 milhões de pesos (R$ 165,7 mil) ao Deportivo Morón, o que representa cerca de 40% do futebol profissional do clube. Pouco depois do anúncio da parceira, Milo J fez um show no estádio Nuevo Francisco Urbano, do Morón.
“Essa associação na Argentina é um ótimo exemplo de ganhos mútuos. Um clube e um artista por completo desconhecidos fora dos seus países, que passam a ser mencionados no noticiário de maior audiência em todo o mundo, que é o esportivo. Só o que vai ser publicado sobre eles, em publicidade e menções, vale mais que o próprio clube”, avalia Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil.
Fundado em 1947, o clube viveu o auge em 2017, quando foi semifinalista da Copa Argentina. Se chegasse à final, o Morón disputaria o título e uma vaga na Libertadores. O sonho parou no River Plate, que eliminou o clube depois acabou campeão.
Já Milo J vive o começo de uma carreira de grande potencial. Na 24ª edição do Grammy Latino, ele foi um dos indicados a melhor canção de rap/hip hop, com a música “Dispara ***”, em parceria com a também rapper argentina Nicki Nicole.
Alexandre Mota, diretor de criação da End to End, aponta para a vantagem no futuro, quando um clube menor apresentar sucesso e surgirem as perguntas sobre como o time chegou lá. “Clubes menores são hoje um contraponto às potenciais multinacionais do mercado da bola, os azarões com os quais todo mundo simpatiza. Caso se destaquem, chamarão a atenção para quem investiu neles”, avalia.
Granada conta com cantor de reggaeton e trap para difundir marca
O patrocínio máster do Granada na temporada atual é a marca de Saiko, músico com 10,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Com 22 anos, o artista é da cidade de Armilla, na província de Granada, e trabalha com gêneros como reggaeton e trap, ligados a públicos mais jovens.
“Espaço na mídia, relação com a comunidade e o seu público, novas fontes de receita como produtos em collab. Várias são as razões financeiras para artistas como Milo J e Saiko investirem em times de futebol. Torcer por eles é o bônus que gera maior identificação e autenticidade a parcerias e projetos desenvolvidos”, aponta Mota.
Foi o que o Granada quis quando anunciou a parceria. “Este patrocínio une cultura e futebol para formar uma sinergia entre artista e clube. Não será um patrocinador típico, porque o protagonismo e as experiências terão protagonismo”, publicou o clube.
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O acordo foi divulgado após um show de Saiko no estádio Nuevo Los Cármenes, casa do Granada. O local não recebeu eventos musicais por quase duas décadas. A apresentação do músico só foi possível por uma autorização da Câmara Municipal de Granada. O clube garantiu que não houve dano ao campo de jogo. Mesmo assim, a parceria prevê a instalação de um novo gramado, bancado pelo artista.
A busca por mais exposição e diversificação de receitas, com shows, por exemplos, veio depois de o Granada ter sido rebaixado como lanterna de LaLiga. Hoje na segunda divisão, o time ocupa posição no meio da tabela e dificilmente retornará à elite nesta temporada.
Enquanto gigantes europeus como Manchester City e Real Madrid buscam cada vez mais internacionalizar suas marcas, clubes menores olham para o que há de mais próximo. Thiago Freitas, da Roc Nation, acredita que a internacionalização não é viável com celebridades locais.
Já para Alexandre Mota, ações como as do Deportivo Morón com Milo J e do Granda com Saiko remetem ao lema “pensar globalmente e agir localmente”. “Marcas menores (clubes, músicos ou, neste caso, os dois) podem construir narrativas de grande apelo para outras culturas e mercados. Internacionalização é uma boa história do bairro conversando com o planeta inteiro” argumenta o diretor da End to End.
Ed Sheeran é acionista do time do coração e ‘contratou’ meia antes de show com Taylor Swift
O Ipswich Town briga para não ser rebaixado na Premier League, logo após ter sido promovido à elite. No começo da temporada, o cantor Ed Sheeran comprou 1,4% das ações do clube pelo qual torce desde criança. “O sonho de qualquer fã de futebol é ser dono do clube que torce. Estou muito grato por esta oportunidade. Há altos e baixos, mas o futebol é sobre aproveitar esses momentos”, disse o cantor na época.
Apesar de não integrar o conselho de administração do clube, Ed Sheeran ajudou o Ipswich Town a contratar o irlandês Sammie Szmodics, que estava no Blackburn e havia sido artilheiro da Championship (segunda divisão inglesa), com 27 gols. A história foi revelada pelo diretor-executivo Mark Ashton.
Segundo Ashton, dirigentes do Ipswich souberam que o jogador era fã de Ed Sheeran. O cantor, então, foi chamado para uma chamada de vídeo com o meia irlandês, pouco tempo antes de subir ao palco ao lado de Taylor Swift, em apresentação no estádio Wembley, em Londres, em 15 de agosto, na The Eras Tour. No dia seguinte, Szmodics foi anunciado.
