A contusão mais grave da carreira de Neymar faz aniversário nesta quinta-feira. Foi em 17 de outubro de 2023 que o principal jogador do Brasil há pelo menos uma década rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e machucou dois meniscos em um lance fortuito, ao não conseguir pisar como queria no gramado.
Na noite daquela terça-feira, a derrota da seleção brasileira por 2 a 0 para o Uruguai foi secundária. Todos queriam saber a gravidade da lesão de Neymar, que deixou o gramado do Centenário, em Montevidéu, de maca e o estádio, de muletas, com o joelho imobilizado. Estava cabisbaixo e contrito. A expressão denunciava o que exames confirmaram no dia seguinte: a contusão era gravíssima, a mais temida por todo atleta de alto rendimento e a pior em 15 anos de carreira do atacante.
“Ficar tanto tempo fora impacta o atleta de várias formas. Fisicamente, ele perde ritmo de jogo, resistência específica do esporte e a força muscular necessária para a alta performance. Psicologicamente, a confiança no corpo pode ser um desafio, especialmente em esportes de contato, como o futebol. Além disso, ele pode sentir mais pressão para retornar rapidamente ao nível esperado, o que pode gerar ansiedade”, explica a médica do esporte Flávia Magalhães.
Neymar construiu uma carreira importante, embora nunca tenha ganhado uma Copa do Mundo nem tenha sido eleito o melhor do mundo, além de ter feito escolhas questionáveis. Seus números são expressivos e sua importância é indiscutível para a seleção brasileira, do qual é o maior artilheiro na história, segundo os dados da Fifa - não os da CBF, para quem Pelé ainda reina sozinho.
Em 717 partidas, o atacante tem 439 gols marcados e 228 assistências. São 29 títulos somando as passagens por Santos, Barcelona, Paris Saint-Germain e Al-Hilal, além da seleção brasileira. Entre as conquistas mais importantes estão a Champions League 2014/15, a Libertadores 2011 e o ouro olímpico inédito na Rio-2016.
Subcelebridade
Mas ao menos até que volte a jogar, os seus feitos futebolísticos ficaram no passado. Enquanto se recupera de lesão, o craque brasileiro adotou uma postura de subcelebridade e passou a figurar mais nas páginas de fofoca por causa de controvérsias e discussões, desde traições a privatização de praias.
Em maio deste ano, o jogador de 32 anos bateu boca com Luana Piovani nas redes sociais após ser duramente criticado pela atriz por supostamente se beneficiar de uma Proposta de Emenda à Constituição em discussão no Congresso que transfere a responsabilidade de construções à beira-mar para a iniciativa privada.
Neymar havia anunciado uma parceria com uma incorporadora para a criação de um projeto anunciado como “Caribe brasileiro”, com imóveis de alto padrão em uma área de 100 quilômetros entre os litorais de Pernambuco e Alagoas. O atleta foi chamado de “péssimo cidadão” por Luana, e rebateu chamando a atriz de “louca” e afirmando que ela “deveria colocar um sapato na boca”.
Pelo mesma razão que o levou a brigar com Luana, o atleta também chamou o comediante Diogo Defante de “fanfarrão” e “otário” em publicação que foi posteriormente apagada. Depois disso, as polêmicas envolvendo Neymar se arrefeceram.
Parte de sua recuperação ele fez no “Ney em alto mar”, seu cruzeiro promovido no fim do ano passado. Curtiu a festa, mas sem deixar de fazer sessões de fisioterapia, segundou disse. Dias depois, cedeu advogado e emprestou R$ 800 mil para Daniel Alves, condenado por estupro na Espanha, atenuar sua pena. Em agosto, anunciou o nascimento da filha Helena, fruto do relacionamento com a influenciador Amanda Kimberlly - ele também é pai de Davi Lucca, de 13 anos, e Mavie, de 1.
Quando Neymar volta a jogar?
Hoje, o que mais se especula é o dia em que Neymar voltará a jogar. Não há uma data definida. Certo é que ele tem treinado com o elenco do Al-Hilal desde 29 de setembro. “O pai tá voltando”, escreveu ele suas redes sociais no mês passado. Dá sinais de estar plenamente recuperado - ou em fase final. Mas a cautela quanto ao seu retorno é mantida no time saudita.
“O Neymar é um jogador importante para o Al-Hilal e para a liga saudita. Não posso, no entanto, especificar uma data de quando ele irá voltar”, afirmou o técnico Jorge Jesus, segundo o qual o brasileiro será reavaliado apenas em janeiro, mês em que reabre a janela de transferências e os clubes podem alterar seus elencos.
Neymar não está inscrito no Campeonato Saudita e só poderá ser novamente registrado na competição em 2025, mas está apto a disputar a Liga dos Campeões da Ásia. Por isso, existe a expectativa de que seja esse campeonato que marcará o retorno do brasileiro. Segundo a ESPN há a possibilidade de que entre em campo na partida contra o Al Ain, dos Emirados Árabes, marcada para a próxima segunda-feira, 21.
Rodrigo Lasmar, médico da seleção brasileira e o profissional que operou Neymar, deve ir à Arábia Saudita para fazer a última avaliação no atleta. A notícia anima a comissão técnica, embora ninguém na CBF diga se o plano é convocar o astro para os jogos da próxima Data Fifa, em novembro, contra Venezuela fora e Uruguai em Salvador. Dorival tem de enviar a pré-lista até o dia 27. A relação com dos 23 convocados será no dia 1º de novembro. Caso não o atacante não seja chamado, terá passará todo 2024 sem defender a seleção.
Conforme Rodrigo Caetano, coordenador de seleções, existe um “monitoramento constante” quanto à recuperação do camisa 10 da seleção brasileira. “As informações que nós temos dizem que ele vem numa velocidade muito boa de recuperação, mas a gente não pode ir além.”, ponderou o dirigente.
Segue a ‘Neymardependência’
Neymar participou de quatro dos seis jogos com Fernando Diniz e não defendeu a seleção desde que Dorival Júnior assumiu o comando da formação pentacampeã. Os dois tiveram rusgas, que, porém, ficaram no passado, segundo o treinador, ansioso para poder usar o seu melhor jogador.
“Estamos tendo a percepção do quanto esse jogador é importante. Que nesses próximos anos, a partir do momento que ele retorne, possamos desfrutar de um dos grandes jogadores do futebol mundial em um momento marcante na carreira dele e na nossa seleção”, disse o técnico. “Temos paciência, não tem importância se ele não puder voltar em outubro, novembro ou só em fevereiro. Ele tem que estar confiante, atuando e, principalmente, totalmente zerado em relação a essa lesão, que não foi simples, demanda tempo”.
Dorival se aliviou com as vitórias do Brasil sobre Chile e Peru, mas está claro que a seleção continua dependente do único jogador extraclasse de que dispõe. Esperava-se que Vinicius Júnior, candidato a melhor do mundo, assumisse o protagonismo enquanto Neymar se reabilitava. Contudo, o atacante não repete com a camisa verde e amarela as atuações de brilho pelo Real Madrid, com o qual foi bicampeão da Champios League.
“O Brasil tem de aprender a jogar sem o Neymar. Mas nós temos um dos três maiores jogadores do mundo, e depois vamos contar com ele”, havia dito Dorival, esperando que Vini Jr fosse o sucessor de Neymar. Ainda pode ser porque é improvável que o camisa 10 volte a atuar em alto nível, dada a gravidade da lesão e o recente histórico de contusões.
Para Luís Fabiano, camisa 9 da seleção na Copa do Mundo de 2010, o Neymar extraclasse, que tanto encantou, não existe mais. “Ele está voltando de lesão e não é mais aquele Neymar que a gente estava acostumado a ver, aquele que desequilibrava. Quem viu, viu”, comentou o hoje comentarista da ESPN.
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