Neymar no Santos? Como retorno do craque pode impactar no futebol brasileiro

Especialistas discutem potencial comercial de um eventual retorno do craque ao País; ex-jogadores pedem calma e ponderam sobre a melhor alternativa para o craque

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Foto do author Rodrigo Sampaio

Em baixa desde a transferência para a Arábia Saudita, Neymar tem chances de retornar ao Santos em 2025. O Al-Hilal, time do brasileiro no Oriente Médio, estuda rescindir com o atacante antes do fim do contrato, assinado até junho de 2025. Assim, o clube santista teria caminho livre para repatriar o ídolo sem a necessidade de uma compensação financeira. Afinal, qual seria o impacto de Neymar, aos 32 anos e com uma extensa lista de lesões, em um eventual retorno ao futebol brasileiro?

Apesar da possibilidade de Neymar pintar no Santos no próximo ano, a situação não é tão simples assim. Ao Estadão, o presidente Marcelo Teixeira revelou que tem um projeto concreto para o atacante e que já conversou com familiares do craque sobre o assunto. A transferência é considerada de alta complexidade pelos dirigentes santistas e o tema é tratado com cautela nos corredores da Vila Belmiro.

Em baixa na Arábia Saudita, Neymar pode estar de malas prontas para voltar ao futebol brasileiro.  Foto: Divulgação/Al-Hilal

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Um dos principais entraves são os valores envolvidos. Levando em consideração luvas e acordos comerciais, Neymar ganha mensalmente 13,3 milhões de euros no Al-Hilal, aproximadamente R$ 100 milhões por mês. A título de comparação, o montante é 30 vezes mais do que Memphis Depay recebe no Corinthians. O astro holandês lidera a lista de mais bem pagos do País. Assim, o craque brasileiro teria de adequar as expectativas salariais. Há pelo menos cinco anos, o futebol nacional é marcado por estrelas, como Hulk e Gabigol, ganhando acima de R$ 1 milhão. O regresso de Neymar tem a capacidade de mexer com as cifras de todo o mercado da bola.

“A volta de Neymar ao Santos seria um marco transformador para o clube e para o futebol brasileiro. Ele não é apenas um jogador, mas uma marca global que impulsiona bilheteria, venda de camisas e patrocinadores, mas que deve exigir um ‘super salário’ que só faria sentido se houver garantia de que ele seja sustentável, convertendo a empolgação inicial em um impacto duradouro para o clube e para a percepção global do futebol brasileiro”, diz Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.

Além de ter de convencer Neymar a se adaptar aos valores pagos no Brasil, o Santos tem a concorrência dos Estados Unidos pelo camisa 10. O Inter Miami é um dos interessados no jogador, e sua contratação foi sugestão de Lionel Messi, com quem o brasileiro jogou no Barcelona. O clube santista, inclusive, vê na chance de fechar com o atacante a possibilidade de causar um frisson semelhante ao do craque argentino nos EUA para alavancar o time comercialmente.

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Em seu primeiro ano disputando a segunda divisão, o Santos precisou fazer cortes internos importantes para não fechar o ano no vermelho. Fora da Copa do Brasil, o time praiano teve uma temporada pouco atrativa para marcas e focou na renovação de acordos já estabelecidos. A contratação de Neymar é vista como um trunfo para atrair novos negócios e engajar a torcida. A partir de 2025, a equipe santista vai jogar no Pacaembu durante as obras da Vila Belmiro, e terá a oportunidade jogar regularmente em um estádio com alta capacidade de público.

“Neymar é um canhão de audiência e engajamento, é um talento dentro de campo e fora dele, e seu modo de viver acaba atraindo o público de alguma forma. Vemos várias marcas querendo conversar com a sua comunidade, por isso precisamos entender que os atletas, atores e outros perfis de influenciadores são grandes canais de comunicação, e isso também pode ser decisivo e ajudar na captação de novos negócios junto a ele e ao clube”, aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

“O futebol brasileiro mudou muito desde quando o Neymar saiu do país. Hoje temos um mercado mais maduro e o retorno dele poderá ter uma influência em vários setores. Em termos de sócios-torcedores, é possível potencializar o crescimento do programa, indo além da presença nos jogos em casa, que se restringe a um número limitado. Por meio da tecnologia e do uso de dados pode-se pensar em experiências exclusivas e benefícios únicos, criando uma relação de proximidade e um atendimento de qualidade que é capaz de atender o torcedor em real time, mesmo em meio a uma alta demanda — que certamente acontecerá em caso de confirmação da contratação”, diz Sara Carlasade, co-founder e responsável pela vertical de esportes da Somos Young, empresa que utiliza IA no atendimento a torcedores de clubes.

Calma e ponderação

Um dos motivos para Neymar retornar ao futebol brasileiro seria a possibilidade de se preparar melhor para a Copa do Mundo de 2026. Apesar de Arábia Saudita ter injetado dinheiro para contratar medalhões do mercado europeu, como Cristiano Ronaldo e Benzema, o nível do campeonato local ainda está aquém em intensidade e qualidade técnica. Não à toa, atletas com passagem pelo Oriente Médio que desembarcam posteriormente no Brasil têm dificuldades de adaptação em um primeiro momento.

Em um ano e meio no Al Hilal, foram apenas sete jogos, com um gol e duas assistências. Apesar dos rumores, o pentacampeão Rivaldo acredita que Neymar permanecerá mais alguns anos atuando pelo clube saudita e não irá se transferir logo para outros centros do futebol. “Neymar tem que ficar marcado na história do clube, então acredito que ele tem que continuar no Al-Hilal. Fazendo um bom campeonato, em mais um ou dois anos, talvez ele pense em mudar de clube”, argumenta o ex-jogador.

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Ainda de acordo com Rivaldo, é preciso ter paciência com Neymar até ele recuperar a forma física e o ritmo de jogo necessário para voltar a atuar em alto nível. “Tanto o clube dele quanto a seleção brasileira precisam ter calma com essa recuperação. É importante respeitar o corpo do atleta, as fases no pós-recuperação, não podemos apressar essa volta dele, ainda mais porque acho que o Brasil tem elenco para se classificar para a Copa do Mundo, mesmo sabendo que ele é um grande jogador e que faz muita falta.”

Dorival Júnior, técnico da seleção brasileira, já deixou claro que conta com o jogador para a Copa de 2026. Ele cogitou convocar o atacante para os duelos contra Chile e Peru, mas ambas as partes decidiram que era melhor aguardar o camisa 10 engatar uma melhor sequência no Al-Hilal. Poucos dias depois, Neymar voltou a se machucar e só deve retornar aos gramados em dezembro.

Neymar pode estar vivendo últimos momentos com a camisa do Al-Hilal.  Foto: Divulgação/Al-Hilal

Grafite, ex-atacante da seleção brasileira e comentarista dos canais Globo e SporTV, acredita que a melhor opção para Neymar se preparar para o Mundial é voltar a jogar no Brasil. Porém, pondera sobre a possibilidade de ele vestir novamente a camisa do Santos. O ex-jogador crê que o melhor para o camisa 10 seria assinar com uma equipe mais estruturada, e vê o Flamengo como o clube ideal.

“(O Flamengo) já tem um time organizado e o Neymar encaixaria bem pelo estilo de jogo dele. Seria bom para ele chegar em 2026 preparado fisicamente e tecnicamente. Na Arábia Saudita ele não vai ter condições de se preparar bem, e a MLS (Major League Soccer tem um nível técnico muito baixo”, afirma Grafite.

“O Brasil depende muito de ele chegar bem na Copa do Mundo. A conquista da Copa passa pela recuperação do Neymar. A opção mais viável é voltar ao futebol brasileiro, até porque não sei se ele está no radar de outros clubes grandes da Europa, como Barcelona ou Bayern de Munique. Pode até ser o Santos esse clube, mas vai depender muito do que ele quer.”

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