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O que as casas de apostas têm feito para minimizar os efeitos do vício no jogo

Plataformas promovem ações que visam combater a ludopatia, condição que atinge cerca de 1% da população do Brasil

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Foto do author Ricardo Magatti

Com a iminente regulamentação das plataformas de apostas esportivas e o surgimento da Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, que trouxe à tona esquema fraudulento de manipulação de partidas do futebol brasileiro, as casas de apostas ficaram em evidência. Parte delas tem trabalhado, agora, para defender a integridade do esporte e tentar fazer com que o vício no jogo seja combatido e minimizado.

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Também definido como ludopatia, o vício em apostas é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1980. No Brasil, a estimativa é de que 1% a 1,3% da população enfrente problemas patológicos relacionados ao hábito.

Estudos de instituições renomadas no mundo apontam que o percentual de pessoas que desenvolvem algum tipo de compulsão ligada às apostas têm aumentado, embora não seja maior do que em segmentos de outras indústrias que também possuem pessoas com desenvolvimento de compulsão, casos de alcoolismo, drogas, remédios, alimentação, jogos e pornografia. De acordo com esses dados, mundialmente, os percentuais são similares e variam entre 2 a 5% entre todos eles.

Patrocinador oficial do Brasileirão, o galera.bet entende que, ainda que os números não sejam altos, o controle ao vício deve ser considerado intolerável pela indústria e até mesmo colocado como um dos tópicos principais na regulamentação, que, no momento, está travada no governo e, em vez de ser publicada via Medida Provisória, deve se tornar um projeto de lei votado na Câmara.

Plataformas criam mecanismos para combater vício em apostas Foto: Felipe Rau/Estadão

“Acreditamos que nenhuma pessoa que apresente compulsão deva ser tolerada como aceitável pela indústria. Por isso é importante que essas ações não sejam questões isoladas das casas de apostas que, eventualmente, demonstrem compreensão e preocupação com esse fato, mas que possa ser um assunto relevante para toda a indústria, e objeto da regulamentação que está por vir”, explica Marcos Sabiá, CEO do galera.bet.

O executivo foi um dos que se reuniram com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o secretário especial do ministério, José Francisco Mansur, para discutir a regulamentação do setor no País. O texto elaborado pelo governo está pronto há um mês, mas a medida deve ser discutida no Congresso. A demora tem gerado apreensão no setor.

Segundo Sabiá, a Playtech, empresa sócia do galera.bet, desenvolveu o “Bet Buddy”, uma inteligência artificial capaz de combater a compulsão do apostador com o envio de alertas e mensagens. A ferramenta torna a plataforma menos atraente para o usuário - em casos extremos, o site é bloqueado. “O nosso envolvimento é para que o jogo responsável seja centro das discussões da regulamentação e que seja uma obrigatoriedade para todos os operadores do sistema”, crê Sabiá.

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Plataforma que patrocina dez clubes das séries A, B e C do futebol brasileiro, o Esportes da Sorte diz que disponibiliza para seus clientes ferramentas que auxiliam na manutenção do controle emocional e financeiro de suas finanças enquanto desembolsam recursos na plataforma.

“Frisamos sempre em nossas comunicações institucionais que o jogo é uma forma de entretenimento e como tal deve ser encarado com responsabilidade e sem falsas promessas de ganho fácil ou certo”, explica o CEO do Esportes da Sorte, Darwin Filho.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, se reuniu com casas de apostas para discutir regulamentação do setor Foto: Wilton Junior/Estadão

Ele afirma que a empresa adota limitações de valores despendidos, tempo de uso de plataforma, restrições temporárias de jogadores, banimento irrevogável da plataforma até suporte psicológico através de instituições parceiras de jogadores anônimos como medidas para minimizar os riscos à saúde dos apostadores.

Patrocinadora da equipe feminina do Palmeiras e de figuras conhecidas do futebol, como Ronaldo Fenômeno, a Betfair informa que disponibiliza ao jogador o serviço de bloqueio da conta para que ele dê uma pausa se necessário, conta com uma ferramenta de controle de gastos e oferece até conselhos para familiares e amigos do apostador.

Autocontrole

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Doutor em psicologia pela USP e coordenador de psicologia esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Eduardo Cillo faz uma comparação com o álcool para argumentar que a regulamentação e regras mais bem definidas podem auxiliar nestes casos, mas não extirpá-los.

“É só se pensar no raciocínio da legalização do álcool. O álcool é uma droga, e uma droga legalizada acaba sendo um problema de saúde pública. Neste caso, podemos ter o mesmo raciocínio para as apostas, já que ela se torna também uma situação de saúde pública à medida que mais pessoas, provavelmente, terão dificuldades de autocontrole”, reflete.

Para Cillo, é mandatório a criação de uma estrutura de suporte para lidar com o aumento no número de viciados. “Isso significa estar atento e manter também serviços de saúde mental que possam ajudar pessoas que, porventura, venham a perder o autocontrole”, diz. “Também é importante ter atividades à disposição da população, para que existam campanhas educativas e as pessoas possam antecipar os riscos de se envolver com certas atividades, no caso com apostas, o risco de desenvolver”, acrescenta o psicólogo.

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“A falta de regulamentação dificulta a padronização e a supervisão dessas práticas”, constata Cristiano Maschio, fundador da Qesh, instituição de pagamento. Sua empresa monitora transações financeiras e, quando identifica frequência muito alta de depósitos e saques, avisa as casas de apostas. “As operadoras de apostas têm de cumprir requisitos mínimos e específicos que protejam os jogadores em situações financeiras vulneráveis ou ludopatas”, pontua.

Ações coordenadas

A avaliação dos representantes das casas de apostas é de que o processo de prevenção e controle deve começar desde cedo, por meio de ações educacionais direcionadas principalmente a jovens jogadores que integram as categorias de base dos clubes de futebol.

“Ao mesmo tempo em que deveriam acontecer campanhas para a população, que ajudariam a levar uma mensagem educativa e a entender o mercado, isso também deveria acontecer nos clubes de futebol e esportes em geral. Vimos atletas falando que não sabiam que isso poderia caracterizar um crime, agindo com naturalidade. Logo, a conscientização deveria partir desde as categorias menores dentro dessas instituições”, aponta Sabiá.

“Deveria ser uma ação governamental. Também seria importante que alguma maneira isso fosse abordado dentro do sistema educacional brasileiro, desde a adolescência, porque afinal de contas a prevenção precisa começar cedo, e dentro de casa, as pessoas precisam conversar abertamente sobre esses assuntos”, corrobora o psicólogo Eduardo Cillo.

O CEO da galera.bet conta que tem falado com membros do governo e do Congresso para a criação de uma ação coordenada que combata os malefícios das apostas e que fomente o desenvolvimento da indústria de jogos no Brasil, associado ao “entretenimento, diversão, conexão e alegria”.

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