O retorno de Neymar ao Santos é motivo de comemoração não só para quem torce para o time da Vila Belmiro, mas também para quem deseja um futebol brasileiro cada vez mais competitivo. O craque tem tudo para ainda ser rei na liga nacional, que insiste ao tomar para si o posto de uma das mais competitivas do planeta. Contudo, em um cenário de mercado inflacionado por cifras nunca antes despejadas na compra de jogadores, e SAFs abalando o status quo para inserir novos protagonistas no jogo, o atacante terá de superar problemas físicos para brilhar nos gramados do País.
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Há quem diga que o Santos foi uma escolha controversa para a volta de Neymar, e que outros clubes, como Palmeiras e Flamengo, estariam mais bem preparados para acolhe-lo. Fato é que o casamento tende a ser o melhor para ambas as partes. Se por um lado o time santista carece atualmente de grandes referências técnicas, e vê no ídolo e uma maneira de voltar aos holofotes após uma Série B tumultuada, o atacante, teoricamente, terá uma torcida menos intransigente quanto ao seu período de adaptação, que será necessário, além de um calendário mais ameno, sem competições internacionais em 2025.
Neymar deixou a Arábia Saudita com números inexpressivos. Foram sete jogos, um gol e três assistências em 17 meses de Al-Hilal. A maior parte do tempo passou no departamento médico após romper o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo em jogo da seleção brasileira contra o Uruguai pelas Eliminatórias, em novembro de 2023. Pouco mais de duas semanas após se recuperar, em novembro do ano passado, teve constatada nova lesão, desta vez na coxa direita, e ficou afastado por quase dois meses. Desde então, não entrou mais campo no Oriente Médio.
Antes de sentir o problema na coxa, Neymar ficou fora da convocação da seleção brasileira após a comissão técnica liderada por Dorival Júnior entender que o jogador ainda não estava com ritmo de jogo ideal para uma disputa em alta intensidade. Este é o principal fator que coloca um ponto de interrogação na volta do craque ao País. Apesar de a Arábia Saudita dispor de craques do primeiro escalão, possui um nível de competitividade consideravelmente abaixo do Brasileirão. Os problemas físicos do jogador precisam ser superados para a contratação não virar um fiasco.
Desde 2018, Neymar já acumulou mais de 700 dias ausente por causa de lesões. São mais de 200 partidas somando compromissos de Paris Saint-Germain, Al-Hilal e seleção brasileira. É preciso ser justo é dizer que apenas uma das últimas cinco contusões do atacante foi causada por um problema muscular, mas a baixa rotatividade em campo é um dos fatores que deixa o camisa 10 vulnerável a se machucar mais gravemente.
Há pouco menos de uma semana de completar 33 anos, Neymar já não tem a mesma velocidade de outrora — como já disse Tite, está mais “arco” e menos “flecha” —, mas seu nível técnico ainda o coloca entre os craques da primeira divisão com facilidade. É importante ressaltar que o desafio do atacante está muito mais em manter condições físicas de se manter ativo durante o ano do que provar que ainda pode fazer diferença. Neste sentido, atuar no Brasil é melhor do que na Arábia Saudita para quem ainda pensa em chegar na Copa do Mundo de 2026 em alto nível para alcançar a redenção com a camisa da seleção.
No atual esquema 4-2-3-1 utilizado pelo técnico Pedro Caixinha, seria natural vendo vê-lo sendo utilizado como a peça central do trio de meio-campistas. Exímio finalizador como Neymar é, a parceria com Tiquinho Soares, que se destacou no Botafogo não só pelos gols, mas também pelas assistências, além do ótimo pivô, se desenha promissora. O time santista como um todo, porém, ainda precisar contratar outros nomes para elevar o nível da equipe.
Neymar de volta ao Brasil é bom para o Santos, para a seleção e para o futebol nacional. Resta saber se será bom para o próprio Neymar. Abrir mão abrir mão de parte dos 65 milhões de dólares e preferir o calor da Vila Belmiro a outro destino mais cômodo, como os Estados Unidos, como ele mesmo já afirmou ter vontade, já é um bom começo.