Na última semana, Neymar compartilhou com o seus seguidores no Instagram a boa nova: voltou a calçar uma chuteira depois de quase dez meses. O jogador sofreu lesões gravíssimas no joelho esquerdo em outubro, em partida da seleção brasileira pelas Eliminatórias. Foi a primeira notícia do craque relacionada à futebol em algum tempo, já que o atleta adotou uma postura de subcelebridade durante a recuperação e passou a figurar mais nas páginas de fofoca por causa de polêmicas, desde traições a privatização de praia. Perto de voltar a jogar, o atacante vê a carreira sem os mesmos holofotes de outrora, mas com lastro de idade para realizar feitos significativos.
Neymar acumula números importantes na carreira. Em 717 partidas, o atacante tem 439 gols marcados e 228 assistências. São 29 títulos somando as passagens por Santos, Barcelona, Paris Saint-Germain e Al-Hilal, além da seleção brasileira. Entre as conquistas mais importantes estão a Champions League 2014/15, a Libertadores 2011 e o ouro olímpico inédito na Rio-2016. Ele também é o jogador que mais vezes balançou as redes com a camisa do Brasil, anotando em 79 oportunidades.
Ao trocar o Barcelona pelo PSG, em 2017, Neymar protagonizou a transferência mais cara da história do futebol. A operação, recorde até os dias atuais, custou 222 milhões de euros aos cofres do time francês, aproximadamente R$ 812 milhões à época. Porém, ele não atendeu às expectativas do clube pela conquista tão sonhada Champions, tampouco assumiu o protagonismo para derrubar a hegemonia de Messi e Cristiano Ronaldo entre os melhores do mundo. O atleta acumulou lesões, esteve ausente em momentos-chave tanto no clube quanto na seleção.
Um dos argumentos de quem defende que Neymar não venceu a Bola de Ouro ou um The Best é o fato de disputar a premiação com justamente com Messi e Cristiano Ronaldo. Porém, a dupla começou a demonstrar a natural queda técnica por causa da idade nos últimos anos e deu brecha para outros atletas fisgarem os prêmios. Sem conseguir engatar boa sequência por causa da má condição física, o brasileiro viu outras jogadores mais experientes, como Modric, Lewandowski e Benzema, herdarem a preferência os troféus.
Agora, outro brasileiro surge como favorito ao título de melhor do mundo. Vini Jr. ganhou a segunda Champions como destaque do Real Madrid e desponta como favorito a receber a Bola de Ouro. “Acho que, se avaliar temporada por temporada, a do Neymar foi tão grande quanto a do Vini, mas ele tinha adversários que eram difíceis de se competir contra na época”, avalia Roger Flores, comentarista da Globo e do SporTV.
Messi e CR7
Aos 32 anos, Neymar está distante da aposentadoria. Levando em consideração a idade dos contemporâneos Messi e Cristiano Ronaldo, com 36 e 39, respectivamente, é possível afirmar que o atacante tem pelo menos mais meia década de futebol. Assim, ainda há a possibilidade de o brasileiro ajudar a seleção a conquistar uma Copa do Mundo ou receber um prêmio individual de destaque, como o The Best e a Bola de Ouro — apesar de a realidade não indicar isto. Pesa contra o atleta as seguidas lesões, algo incomum na carreira de argentino e do português, e a ida para a Arábia Saudita, onde o campeonato continua “escondido” mesmo com o alto investimento do governo no esporte.
Em 2019, ano em que Messi alcançou a idade atual de Neymar, o argentino encerrou a temporada iniciada no ano anterior com 51 gols e 19 assistências em 50 partidas, recebendo a Bola de Ouro e o The Best. O craque ainda veio a conquistar o Campeonato Espanhol e a Copa do Rei antes de fazer companhia ao brasileiro no PSG. Apesar de já não mostrar a mesma desenvoltura de antes, o atacante apresentou sua versão mais sanguínea com a camisa da Argentina e levou a seleção albiceleste aos títulos da Copa América e da Copa do Mundo, dando fim a pressão de nunca ter erguido nenhum troféu com a equipe nacional.
Por sua vez, Cristiano Ronaldo tinha somente um ano menos do que Neymar tem atualmente quando liderou Portugal à conquista da inédita Eurocopa. Posteriormente, o português ainda venceu uma Champions League com o Real Madrid, recebendo o prêmio The Best e uma Bola de Ouro em 2017, quando completou 32. De lá para cá, o gajo ainda ergueu troféus com a Juventus, marcou um hat-trick contra a Espanha na Copa do Mundo da Rússia e retornou à Premier League, na Inglaterra, antes de ir para Arábia Saudita. Em 2023, fechou o ano como o artilheiro do planeta, com 54 gols em 59 jogos.
Polêmicas e bate-boca nas redes
O ano de 2023 foi um dos piores da carreira de Neymar. O brasileiro teve duas lesões graves e frustrou torcedores com a escolha controversa de ir jogar no Al-Hilal, da Arábia Saudita. A imagem do atleta também acabou arranhada com as inúmeras polêmicas envolvendo o nome do jogador, incluindo a suspensão da obra um lago artificial em sua mansão, no RJ, por falta de licença ambiental, e a assumida traição à namorada Bianca Biancardi enquanto ela estava grávida.
As coisas não mudaram na virada do ano e Neymar continuou sendo assunto nos sites de celebridades enquanto se recupera da grave lesão no joelho. O jogador bateu boca com Luana Piovani nas redes sociais após ser duramente criticado pela atriz por supostamente se beneficiar de uma Proposta de Emenda à Constituição em discussão no Congresso que transfere a responsabilidade de construções à beira-mar para a iniciativa privada.
Dias antes, Neymar havia anunciado uma parceria com uma incorporadora para a criação de um projeto anunciado como “Caribe brasileiro”, com imóveis de alto padrão em uma área de 100 quilômetros entre os litorais de Pernambuco e Alagoas. O atleta foi chamado de “péssimo cidadão” por Luana, e rebateu chamando a atriz de “louca” e afirmando que ela “deveria colocar um sapato na boca”.
A proposta, popularmente chamada de Pec das Praias, foi aprovada na Câmara, mas a repercussão do caso fez o texto caducar no Senado Federal. O relator Flávio Bolsonaro (PL-RJ), cujo pai recebeu apoio de Neymar durante as eleições presidenciais de 2022, alterou o texto e adicionou um trecho afirmando que as praias são bens de uso comum.
O que esperar de Neymar?
Neymar tem contrato até julho de 2025 com o Al-Hilal. Uma volta à Europa é considerada difícil pelos altos valores envolvendo o atleta, cujo custo-benefício não é visto com bons olhos pelos clubes. O camisa 10 se machucou com poucos partidas pelo time saudita e ainda não pôde apresentar seu futebol no Oriente Médio. Titular da seleção brasileira até a lesão, o atacante viu a equipe nacional ganhar novos contornos na sua ausência, com um time mais físico no meio-campo, com Douglas Luiz, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá, e um ataque de grande velocidade, com Rodrygo, Vini Jr. e Martinelli — em grande fase, Endrick também pede passagem.
“O Brasil tem de aprender a jogar sem o Neymar. Mas nós temos um dos três maiores jogadores do mundo, e depois vamos contar com ele”, disse Dorival Júnior, técnico da seleção brasileira.
Em baixa no futebol estrangeiro, Neymar é o sonho de consumo de Marcelo Teixeira, que assumiu em janeiro a presidência do Santos pela terceira vez. O dirigente nunca escondeu o desejo de ver o atacante de volta à Vila Belmiro e, recentemente, recebeu do jogador o pedido para o número 11 não ser mais utilizado até ele voltar a defender o clube. Porém, o atacante descartou a possibilidade de retornar ao time da Baixada em um futuro próximo.
“Vamos viver pouco a pouco. Temos muito tempo pela frente. Santos é o time do meu coração, obviamente que um dia quero voltar sim, mas não tem nada planejado na cabeça”, disse Neymar a jornalistas horas antes de seu leilão beneficente, em São Paulo.
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