Fazer as mesmas refeições todos os dias durante seis anos é algo praticamente impossível para quem está acostumado a uma alimentação variada. Este não é o caso de Lucas Moura, meia-atacante do São Paulo, que no ano passado revelou comer as mesmas coisas diariamente sem enjoar. O Estadão apurou que o jogador de 31 anos continua seguindo à risca o seguinte cardápio desde 2018.
- Café da manhã: tapioca com ovo e mamão com aveia.
- Almoço: macarrão integral, frango e salada, com abacaxi na sobremesa.
- Lanche: dois ovos mexidos e quatro castanhas.
- Jantar: arroz integral com peixe, brócolis e salada, com abacaxi, morango ou mexerica de sobremesa.
Lucas afirma que encontrou na dieta acima uma maneira de ajudá-lo a competir em alto nível e prevenir lesões. Mas ela não pode ser ideal para todos os outros atletas, levando em consideração que cada indivíduo tem necessidades e paladar diferentes. Mirtes Stancanelli, nutricionista do Palmeiras e com experiência de diferentes divisões do futebol do Brasil, explica que a nutrição representa uma atividade intensa e volumosa para um time e não se restringe somente às refeições no clube, mas passa também por complementos alimentares durante treinos, viagens e se estende aos lares dos atletas.
“Estamos falando de alimentação com qualidade, quantidade suficiente para atender as necessidades do atleta, com harmonia entre os alimentos para absorção de nutrientes, e adequada para a característica do profissional. O jogador aumenta as necessidades conforme os treinamentos e nós a adaptamos por meio da nutrição”, explica Mirtes. “Os jogadores são estimulados a levar esse comportamento para a casa quando ele observa que os resultados estão gerando valor agregado à vida dele”, completa.
Atletas em geral, especialmente os jogadores de futebol, que chegam a disputar dois jogos por semana em cidades diferentes, precisam de muita energia. É comum acreditar que o segredo está simplesmente no alto consumo de carboidratos, como o macarrão, antes das partidas, uma vez que composto é transformado em açúcar no nosso organismo. Porém, a especialista explica que a energia que os jogadores vão ter em uma partida depende da quantidade ingerida três horas antes, período em que o corpo vai aumentar a glicemia no sangue e manter os atletas com boa carga energética.
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“Se um jogador come um prato de macarrão, um alimento de digestão extremamente rápida, ele sente fome mais cedo e vai fazer com que o corpo utilize essa energia mais rápido. No segundo tempo do jogo, ele tem hipoglicemia e não tem mais energia”, diz. “O Abel (Ferreira) cobra bastante a gente nesta questão. Às vezes, se a fisiologia indicar que o jogador está abaixo, damos a ele um pedaço de bolo no intervalo, por exemplo”, conta. “Comer é uma necessidade. Comer com inteligência é saúde e performance.”
Para a especialista, a alimentação base de um jogador de futebol consiste nos seguintes cardápios. Café da manhã: tapioca, vitaminas, ovos e pães variados. Almoço: arroz, feijão, carnes, legumes e sobremesa. Na janta: macarrão com frango. Vale ressaltar que os cardápios variam de acordo com o gosto de cada um dos jogadores, que também fazem suplementação com vitaminas e minerais de forma personalizada.
Mirtes explica que no início de temporada são ofertados aos jogadores cardápios alimentos ricos em polifenóis, que ajudam a controlar o desgaste (vitaminas, sopas e verduras coloridas, como repolho, cenouras e beterrabas). No início do ano também são evitados alimentos densos caloricamente, como frituras e queijos. Na reta final da temporada, quando o jogador está mais cansado e, consequentemente, come menos, são oferecidas comidas mais palatáveis, como tortas e açaí.
Alimentação e performance
Uma alimentação harmoniosa é fundamental para os atletas de alta performance. Os carboidratos são os responsáveis por dar energia e as proteínas auxiliam no desenvolvimento de músculos. Até mesmo as gorduras são importantes, pois elas servem como reserva energética. Já os legumes, frutas e verduras são micronutrientes necessários para a manutenção da saúde do atleta.
Engana-se quem pensa que apenas replicando o cardápio de um atleta é possível alcançar resultados físicos desejados. A doutora Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, explica que esportistas de alto rendimento têm exigências alimentares diferentes e, por isso, precisam aumentar o consumo de determinados alimentos, como carboidratos e proteínas.
“O atleta pode ter uma necessidade maior de alguns nutrientes, como as proteínas. Uma pessoa que não tem o esporte de alto rendimento no dia a dia e pensa em repetir esses cardápios, ele pode acabar ganhando peso e estar com nutrientes que vão exigir mais filtração do rim e metabolização. O ideal é a pessoa comum, que não faz um exercício de alto rendimento, manter uma alimentação balanceada”, afirma.
Ainda de acordo com Karina, os atletas nacionais possuem uma vantagem na alimentação pelo fato de o Brasil ter uma grande variedade de alimentos. “Somos um País com uma alimentação rica em proteínas e verduras, e ofertas importantes de gorduras, como as castanhas e os peixes, que têm ômega três (eficaz na diminuição do colesterol).”
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