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Olimpíadas: argentinos são vaiados na França após cantos racistas na Copa América

Atletas sul-americanos são hostilizados em partidas de futebol e rugby de sete

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Por Daniel Vila Nova
Atualização:

As competições dos atletas argentinos nas Olimpíadas de 2024 não está fácil. Sempre que esportistas do país entram em complexos esportivos parisienses para disputar uma modalidade, eles são vaiados. O coro negativo tomou conta de estádios e arenas nos dois primeiros dias dos Jogos Olímpicos e não parece fazer distinção de esporte, atleta ou fama.

A reação do país-sede ocorre após o polêmico incidente envolvendo a seleção argentina e francesa de futebol. Durante a festa do título da Copa América, jogadores da Argentina foram flagrados cantando uma música racista e transfóbica que atacava os atletas da França.

Torcida francesa joga garrafas de água em seleção argentina durante jogo das Olimpíadas de Paris 2024.  Foto: Arnaud Finistre/AFP

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O vídeo da canção viralizou nas redes sociais e se tornou um incidente diplomático. O governo argentino se recusou a pedir desculpas; a Federação Francesa de Futebol denunciou o caso à Fifa. A postura dos jogadores argentinos foi passiva e somente Enzo Fernández, que gravou o vídeo, se desculpou.

Em Paris, as primeiras vaias ocorreram durante a partida de futebol masculino entre Argentina e Marrocos. No jogo da última quarta-feira, dia 24 de julho, o hino argentino foi vaiado. Em uma partida marcada por invasão de gramado e adiamento por 1h30, Marrocos acabou derrotando os sul-americanos.

As vaias se repetiram na partida de rugby de sete entre Argentina e o Quênia, com novas vaias ao hino sul-americano. Qualquer ponto da seleção queniana era comemorado como se a equipe estivesse jogando em casa. No mesmo dia, a equipe enfrentou a Samoa e, mais uma vez, foi vaiada.

“Fiquei surpreso quando saímos para jogar contra o Quênia e a torcida começou a vaiar. Eu pensei: ‘Uau, o que está acontecendo?’, afirmou Gastón Revol, capitão do time argentino de rugby. “Mas tudo bem. Eu entendo que é por causa do futebol ou algo do tipo. Eles nos odeiam, mas eu posso lidar com isso. Ficaremos bem”, finalizou.

Por ironia do destino, a seleção francesa de rugby se classificou para as quartas de final e enfrentou a própria equipe argentina no mata-mata da competição. Os sul-americanos eram favoritos, mas foram derrotados pelos franceses. Além das vaias ao hino e durante o jogo, a comemoração da arquibancada após a vitória foi ainda mais furiosa do que o comum.

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Entenda a acusação de racismo na Copa América

Na madrugada do dia 15 de julho, um vídeo viralizou com jogadores da seleção argentina cantando uma música racista e transfóbica contra a seleção francesa. O momento foi capturado pelo jogador Enzo Fernández, que fazia uma live no Instagram após a conquista da Copa América 2024.

“Eles jogam pela França/mas são de Angola/que bom que eles vão correr/se relacionam com travestis/a mãe deles é nigeriana/o pai deles cambojano/mas no passaporte: francês”, afirma a música. Ao perceber o que estava sendo cantado, o jogador do Chelsea alertou os colegas de que estava ao vivo e fechou a live na rede social.

O grito faz referência à ascendência dos jogadores franceses - muitos são filhos de imigrantes. Também se refere ao relacionamento não confirmado do atacante Kylian Mbappé com uma mulher trans, a modelo Inès Rau.

Enzo Fernández pediu desculpas pelo ocorrido. Em seus stories, Fernández reconheceu que a canção transmitida “contém linguagem ofensiva” e que não há justificativa para a cantoria argentina.

“Eu sou contra a discriminação em todas as formas e peço perdão por ter me entregado a euforia da nossa comemoração da Copa América. O vídeo, o momento e as palavras não refletem meus valores e meu caráter. Eu estou verdadeiramente arrependido”, disse o volante.

A Federação Francesa de Futebol entrou uma ação na Fifa contra os jogadores da Argentina. Amélie Oudea-Castera, ministra francesa de esportes, repudiou o ocorrido. “Patético. Um comportamento ainda mais inaceitável se for repetido. Fifa, alguma reação?”, indagou a política.

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