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Os tatuadores que trabalham em estádios e atendem torcedores na hora da empolgação

Espaços em fanzones oferecem tatuagens durante os jogos e guardam histórias de amor ao futebol

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Foto do author Bruno Accorsi
Atualização:

O gerente financeiro e palmeirense Felipe Barbosa dos Santos foi ao Allianz Parque assistir ao clássico contra o Corinthians, pelo primeiro turno do Brasileirão, e viveu uma noite que ficará gravada na memória e na pele. Além de ter visto o triunfo por 2 a 0 sobre os rivais, o torcedor de 36 anos tatuou nas costas o escudo do Palmeiras, em um estúdio de tatuagem dentro do Allianz Parque, a poucos passos da arquibancada. A decisão foi espontânea, na empolgação do momento, antes do início da partida.

“Eu gosto bastante de tatuagem. Não pensei em nada. Cheguei aqui, fui pegar uma cerveja, vi o estúdio e falei ‘p…, quero fazer uma tatuagem’ .Foi de bate pronto, não foi nada que eu pensei antes de vir”, contou Felipe ao Estadão, logo após a finalização da tatuagem, com pressa para ir à arquibancada, pois o jogo estava prestes a começar.

Rafael França tatua o palmeirense Felipe Barbosa a alguns passos das arquibancadas do Allianz. Foto: Bruno Accorsi/Estadão

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O estúdio da rede Oficina da Tattoo funciona há pouco mais de três meses e fica no Camarote Fanzone, espaço do estádio palmeirense cujos ingressos para acesso estavam na casa dos R$ 900 no dia do Dérbi, mas o preços variam dependendo do jogo. Cabeleireiros, comida e bebida à vontade, música ao vivo e pebolim também integram o ambiente - álcool apenas duas horas antes da partida e após o apito final.

Nada chama mais atenção, contudo, do que a possibilidade de fazer uma tatuagem. Alguns olham, refletem e desistem, mas muitos se deixam levar pela empolgação e aproveitam a oportunidade para marcar na pele o amor pelo clube. As tatuagens são feitas principalmente antes e depois do jogo, assim como no intervalo, se o desenho for simples. Durante a partida também é possível, opção que costuma ser conveniente para pessoas não muito ligadas ao futebol que vão à arena para acompanhar alguém.

A maioria das pessoas que saem de lá tatuadas viveram casos parecidos ao de Felipe. Apenas seguem o impulso, contagiados pela atmosfera. “É sempre uma surpresa para o usuário do camarote dar de cara com um estúdio de tatuagem aqui. Eles sempre ficam surpresos e com a emoção do jogo, a experiência de estar no camarote, eles acabam se empolgando para fazer a tatuagem”, conta Mariana Lattanzi, 33, tatuadora e sócia do estúdio ao lado de Luciano Sabbadim.

Estúdio de tatuagem é atração em camarote do Allianz Parque. Foto: Bruno Accorsi/Estadão

Sob o comando da dupla, a ideia que foi aplicada recentemente no Allianz também é executada no Nílton Santos, na Casa de Apostas Arena Fonte Nova, na Arena do Grêmio e na Neo Química Arena, em camarotes administrados pela Soccer Hospitality. Fundador e CEO da empresa de entretenimento, Leo Rizzo se inspirou em arenas esportivas americanas para montar seus ambientes, que devem render R$ 100 milhões em arrecadação até o final de 2024.

“A instalação dos estúdios foi algo pensado para eternizar a experiência do torcedor em nossos camarotes. As tatuagens simbolizam momentos marcantes, registram recordações especiais, dois aspectos que buscamos proporcionar para os clientes. Hoje, temos essa ação em cinco estádios da elite do futebol brasileiro, é um produto que foi abraçado pelos torcedores e virou um atrativo especial para as vendas da empresa”, explica o empresário.

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Tatuagem afetiva

O trabalho de um tatuador de estádio é de imensa responsabilidade. Fora o compromisso em corresponder a expectativa em relação ao desenho, o profissional tem de trabalhar sob mais pressão, já que não se tem o mesmo tempo e tranquilidade de um estúdio tradicional.

“Não é igual fazer tatuagem convencional, por causa do pouco tempo que a gente tem. A gente trabalha um pouco mais rápido, mas a gente mantém a atenção. Deixa tudo conversado com o cliente, dá para fazer, não dá. Geralmente dá tempo de fazer, não são trabalhos muito grandes”, explica o tatuador Rafael França, 26, que trabalha no camarote do Allianz.

O principal pedido costuma ser o escudo do Palmeiras. As possibilidades, contudo, são muitas, do portfólio de desenhos exclusivos desenvolvidos por Luciano Sabbadim às tatuagens personalizadas solicitadas pelos clientes. Alguns até tatuam artes não relacionadas ao futebol. Os valores variam entre R$ 250 e R$ 800. Para muitos que passam pelo estúdio, o mais importante é o valor afetivo daquilo que vai ser tatuado.

“A galera vem sempre com pedido especial. Hoje é Palmeiras, no caso. Rola muita homenagem a filhos, família, algo especial para eles em si”, conta França. “Acontece muito de rememorar a primeira vez que veio aqui no estádio com o tio ou o pai, por exemplo. Aí faz e coloca a data. Acredito que trabalhar com tatuagem em camarote é trabalhar com tatuagem afetiva 100% do tempo”, acrescenta Mariana.

Estúdio de tatuagem é atração em camarote do Allianz Parque. Foto: Bruno Accorsi/Estadão

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Um caso específico emocionou a tatuadora. No jogo de despedida do astro Endrick, contra o San Lorenzo, pela Libertadores, ela tatuou o escudo alviverde em um senhor do Sul do país que viajou com a família até São Paulo para se despedir do jovem atacante. “Veio de carro, dois dias de estrada com a família, para ver a despedida. Ele resolveu eternizar o escudo do clube, ficou super emocionado. Chorou, mandou foto para a família inteira. Saiu daqui super satisfeito”, relembra

Mariana também já tatuou uma torcida uniformizada do Botafogo inteira, com o mesmo desenho, no camarote do Engenhão, onde também trabalha, em revezamento com o Allianz. Mas nem todas as história são de emoção e satisfação. É comum ter de lidar com um ou outro torcedor que exagerou na bebida.

Em casos de muito exagero, o cliente não é atendido, pois torna inviável o trabalho artítisco. “Uma moça veio fazer o orçamento já muito doida. Eu avisei que tinha três pessoas na frente e falei para ela beber uma água, comer alguma coisa. Em outras palavras, ’segura a onda’. Quando eu terminei o último cliente que faltava, ela levantou, gritou ‘eu vou tatuar’ e caiu de cara no chão.”

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Episódios como esse, entretanto, são exceção. Ao fim dos jogos, quando o movimento cresce, especialmente após vitórias e títulos, os profissionais de tatuagem se misturam à euforia dos torcedores. Os mesmos espaços são utilizados em show das arenas, ocasião em que os escudos e homenagens aos clubes são substituídos por desenhos em referências a artistas da música.

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