Quase sete meses após a primeira previsão de inauguração, o estádio do Pacaembu – agora chamado de Mercado Livre Arena Pacaembu – continua sem uma data para seu primeiro jogo oficial. Adiamentos e problemas ao longo das obras explicam o atraso para que o estádio volte a receber público oficialmente. Mesmo assim, existe a possibilidade de ele ser reinaugurado e receber jogos ainda neste ano.
No estágio atual, as obras estão nos últimos ajustes, mas com atrasos em relação à previsão inicial, que era para ser em janeiro de 2024. Após relatório da prefeitura, entregue nesta quinta-feira, a Concessionária Allegra Pacaembu terá 90 dias (ou seja, até novembro) para realizar os ajustes e alterações pedidos no documento. Justamente por isso não está descartada a reinauguração ainda em 2024, após seguidos adiamentos e problemas.
Nesta semana, por exemplo, foi detectada uma rachadura em um dos pilares da torre de iluminação do estádio. Segundo fontes consultadas pelo Estadão, se trata de uma acomodação natural do solo, sem trazer danos estruturais às obras e ao Pacaembu. O mesmo já havia ocorrido neste ano, em um pilar secundário do Museu do Futebol. As obras foram liberadas para ter início em junho de 2021. Em nota, a Allegra afirmou que tal rachadura não traz nenhum dano estrutural ao complexo.
“A Concessionária Allegra Pacaembu informa que foi constatado um recalque diferencial no piso da rua Itápolis. Embora esse recalque seja mais visível na base de uma das torres de iluminação do estádio, as análises geotécnicas – encomendadas pela Concessionária desde a manhã da última quarta (15) – não indicaram, até o momento, qualquer alteração das estruturas pertencentes ao Complexo do Pacaembu”, diz a concessionária.
Ocorreu uma análise geotécnica nesta quarta-feira, 14, para garantir que a rachadura não preocupa a continuidade das obras e integridade do estádio. Não foi detectada uma causa específica para essa acomodação. Isto pode ocorrer devido a uma série de fatores, como pressão, tensão ou mudança de volume – e ocasiona os danos na pilastra da torre de iluminação.
Esta torre está localizada na rua Itápolis, onde fica a arquibancada leste no novo estádio. Em função das obras, tanto da arena quando da Linha 6 laranja do metrô de São Paulo, ela chegou a ser fechada. Depois da análise dos especialistas na manhã desta quarta-feira, o pilar com a rachadura foi protegido por tapumes e placas.
Essas obras do metrô já foram, inclusive, motivo de conflito recente entre a Concessionária Allegra Pacaembu, responsável pelas reformas no estádio, e a Linha Uni, encarregada pelas obras do transporte público.
Não há confirmação de que este novo problema tenha relação com quaisquer uma das obras. Há mais de um ano, os engenheiros do Pacaembu não estão mais realizando escavações no solo – fato que poderia explicar as rachaduras.
Ainda que não tenha uma hipótese definida, a reportagem do Estadão apurou que a Allegra analisa a possibilidade de notificar a Linha Uni, semelhante ao que ocorreu em junho. O fato de serem fraturas ‘semelhantes’ – mesmo que esta de agora não preocupe o andar das obras – sinaliza de que há a possibilidade de que elas sejam causadas pelas obras no metrô.
Procurada pela reportagem do Estadão, a Linha Uni afirmou que ainda não recebeu nenhuma notificação sobre o tema em questão.
Imbróglio antigo
Em junho, a intervenção da estação FAAP/Pacaembu, da Linha 6 - Laranja estaria afetando diretamente as arquibancadas do Pacaembu, o que ocasionaria riscos. A Linha Uni negou as acusações à época, por meio de nota enviada ao Estadão. Ainda foram detectadas trincas em pilares do Museu do Futebol e vitrais da FAAP quebrados, próximo aos locais da obra.
Na época, a Allegra afirmou que alertou a Linha Uni sobre as preocupações, que respondeu com “uma série de ilações e afirmações falaciosas sobre o andamento das obras de reforma, modernização e restauro do Pacaembu”. A Linha Uni, por sua vez, alegou que “não havia qualquer relação entre as obras da Linha 6-Laranja de metrô e os alegados problemas estruturais do estádio” do Pacaembu.
Quando será a reabertura do Pacaembu?
Em junho, a Allegra previa que o estádio, o centro de tênis e a piscina olímpica seriam entregues para a prefeitura. Ela realizou vistorias para checar os últimos detalhes e permitir que o local recebesse eventos – o mais esperado sendo a primeira partida oficial no estádio.
Tanto Allegra, quanto prefeitura, trabalham com a possibilidade de reinaugurar o estádio ainda neste ano. Após análise, o órgão devolveu à concessionária o parecer, com mais de 200 páginas sobre a análise das obras – e o que ainda precisa ser feito para a liberação do Complexo de fato e a entrega do termo de aceitação da reforma, no qual considera que a Allegra cumpriu com suas obrigações em relação ao que estava proposto nas obrigações do termo de concessão.
“O que eu posso garantir é que esse contrato, e qualquer outro contrato da prefeitura, vai seguir rigorosamente o que está previsto nos contratos, inclusive nesse caso em especial teve junto ao TCM uma reunião para ter uma discussão sobre o tema”, afirmou Ricardo Nunes, ao Estadão. “Se existe alguma questão de rachadura, nossos engenheiros vão fazer o laudo, eles vão ser responsabilizados sobre isso”.
Pelo que a reportagem apurou, o planejamento é entregar, nesta fase de correções e complementos ao relatório técnico, as piscinas, quadras de tênis e estádio. Hotel e ginásio, previstos no projeto inicial, devem ter suas obras finalizadas somente após a reinauguração, já que não são obrigatórios para a liberação do espaço.
Depois do parecer da prefeitura, a Allegra tem até 90 dias para resolver as pendências, que estão, em sua maioria, nos últimos detalhes. Esse relatório foi entregue à concessionária nesta quinta-feira; portanto, o prazo se encerra no dia 13 de novembro. As alterações pedidas podem ser entregues antes deste prazo, no entanto, para receber o termo de concessão da prefeitura.
Mesmo sem esta reinauguração oficial, o estádio já recebeu dois eventos em seu Complexo: a Feira de Arte do Pacaembu (ArPa), no fim de junho, e o BJJ Stars, de jiu-jítsu, no último dia 3 deste mês. Ambos ocorreram no Centro de Tênis, que está nos últimos detalhes para ser reaberto. Ambos tiveram alvarás temporários do Departamento de Controle e Uso de Imóveis (Contru), ligado à Secretaria de Habitação e do Corpo de Bombeiros.
Quem irá estrear o Pacaembu
Santos, São Paulo e Cruzeiro sinalizaram e assinaram junto com a concessionária a intenção de mandar partidas no estádio assim que ele for reaberto. Marcelo Teixeira, presidente alvinegro, garantiu o desejo de que o Pacaembu seja a segunda casa do clube, assim que ele estiver disponível para receber partidas oficialmente.
“Ainda não tem prazo para o Pacaembu. Ficou claro isso. Já há o número de jogos, independentemente de outros clubes (interessados). O Santos quer que o Pacaembu seja uma segunda casa e talvez a primeira se já tiver o início da obra (da Vila Belmiro”, afirmou o mandatário.
Allegra e prefeitura trabalhavam com a meta de liberar o Complexo Pacaembu para uso a partir do dia 25 de janeiro deste ano – em entrevistas e coletivas ao longo do último ano, Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, confirmou o plano. Sem ter condições de finalizar as obras a tempo, mudou a data para 19 de abril, com o show de Roberto Carlos, que precisou ser cancelado em cima da hora por falta de alvará.
“Sobre os supostos ‘atrasos’ da reforma, a Concessionária ressalta que, até a etapa atual, foram cumpridos todos os prazos da cláusula de entrega de obras obrigatórias, conforme previstos no Contrato de Concessão. Neste momento, transcorre-se o prazo previsto de 90 dias para implementação das correções apontadas pelos técnicos da SEME”, diz a Allegra, em nota.
Com expectativas, tanto da Allegra quanto de Nunes, que concorre à reeleição para a prefeitura de São Paulo, o estádio pode ser reaberto ainda este ano com uma partida oficial. São Paulo e Cruzeiro têm interesse no Pacaembu em função dos empréstimos de suas casas para shows, enquanto o Santos quer se aproximar da torcida na capital do Estado – em especial caso as obras da Vila Belmiro comecem em um futuro próximo.
Não existe, no entanto, a definição de qual seria o clube que ‘estrearia’ o Pacaembu, já que para isso seria necessário uma negociação, sobre qual jogo os mandantes cederiam para atuar na arena. Sem um prazo definido para reabertura, não há como cravar qual seria este jogo.
O que mudou no novo Pacaembu
- Complexo multiuso poliesportivo com área de 35 mil m²;
- Não haverá mais tobogã, com hotel em seu lugar e passarela ligando os dois lados do estádio;
- Espaço para shows e eventos, no espaço abaixo do estádio;
- Redução da capacidade, para 25,5 mil lugares, em dias de jogo
- Espaço extra, embaixo das arquibancadas leste e oeste, para ações, ativações e lojas;
- Novas cadeiras, sem as cores tradicionais de antes das obras;
- Gramado sintético e pista de atletismo;
- Restaurantes e áreas gourmet;
- Fim do alambrado.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.