Rivais na Supercopa do Rei, a ser disputada neste domingo, dia 4, às 16h (Brasília), no Mineirão, Palmeiras e São Paulo têm algo em comum. Em um País de dimensões continentais com malha aérea complicada, ambos buscaram um reforço nos ares. O time alviverde usa o avião que pertence a uma empresa de Leila Pereira desde o ano passado. Enquanto a equipe tricolor fez parceria neste mês com a Sideral Linhas Aéreas, empresa de fretamento de voos, para ter uma aeronave à sua disposição quando jogar fora do Morumbi.
Existe uma diferença clara entre os dois acordos. O Palmeiras usa, desde agosto de 2023, um avião que pertence à Placar Linhas Aéreas, empresa de Leila e de seu marido, José Roberto Lamacchia, no ramo da aviação. A aeronave será colocada à disposição de outros clubes para fretamento. O próprio Palmeiras usa a aeronave por meio da contratação da empresa, mas, no momento, a Placar não pode comercializar voos porque ainda não obteve autorização da Agência Nacional de Aviação Civil para isso.
Como contrapartida à economia que pode ser gerada aos cofres do Palmeiras, Leila ganha publicidade e dinheiro ao alugar o avião a outros times também e para empresas interessados quando não estiver sendo utilizado. Até por isso, a aeronave não tem as cores do Palmeiras. Ela apresenta as cores azul e branco e o nome da companhia aérea.
Já o São Paulo fechou um contrato de dois anos com a Sideral Linhas Aéreas para ter uma aeronave à disposição em dias de jogos fora de casa. A parceria já está vigente e deve render uma economia de 23% em gastos logísticos, segundo previsão do clube, que tem direito a envelopamento do avião, abrindo uma nova fonte de receita publicitária. O ponto em comum é que tanto o Palmeiras quanto o São Paulo não são dono dos aviões que utilizam.
Enquanto o avião usado pelo São Paulo é resultado de uma negociação, com contrato comercial, obrigações e direitos das duas partes envolvidas, a aeronave utilizada pelo Palmeiras virou mais um motivo de reclamação de torcedores e conselheiros que apontam novo conflito de interesses envolvendo Leila, que é patrocinadora, presidente, credora do clube e recentemente ganhou concessão para administrar a Arena Barueri, onde o time joga quando o Allianz Parque não está disponível. Ela, porém, sempre repete que submete todas as suas decisões ao Conselho de Orientação Fiscal (COF) e recentemente negou em polêmica entrevista a existência de qualquer conflito de interesse em sua gestão.
O avião de Leila Pereira
O avião comprado em janeiro pela empresa de Leila chegou ao Brasil no dia 7 de junho do ano passado e foi usado pela primeira vez pela delegação palmeirense no início de agosto. No entanto, desde outubro, a aeronave está em manutenção. A alternativa ao Palmeiras foi voltar a fretar voo com outras companhias aéreas, como era feito anteriormente à compra da aeronave, até que o avião da presidente fique pronto.
Em agosto, em seu primeiro voo internacional, o avião deixou o Palmeiras na mão, obrigando a delegação a atrasar o retorno ao Brasil e a percorrer quase 200 quilômetros de ônibus para pegar um voo comercial a Cali, na Colômbia, e só chegar a São Paulo quase dois dias depois da goleada sobre o Deportivo Pereira, rival nas quartas de final da Libertadores.
O modelo, um E-190-E2, tem valor estimado em R$ 300 milhões e, quando usado, garante “muito mais conforto e agilidade” nas viagens, segundo disse a dirigente recentemente. Sua ideia é que o Palmeiras “seja um exemplo” para o futebol brasileiro. Segundo a Embraer, o E190-E2 é o modelo mais silencioso e econômico da fabricante. Sua autonomia é de mais de 5 mil km, o que permite chegar sem escalas a qualquer destino na América do Sul partindo da cidade de São Paulo.
“Esse acordo une dois dos maiores sucessos do Brasil: futebol e aviação. Os colaboradores da Embraer são grandes fãs do esporte e estão entusiasmados em poder acompanhar seus ídolos do futebol voando no nosso moderno E2″, afirmou Francisco Gomes Neto, Presidente e CEO da Embraer, segundo o qual o Palmeiras se beneficia “de um conforto incomparável, cabine espaçosa e baixo ruído”.
A ideia de adquirir o avião partiu da própria Leila. A iniciativa visa gerar uma economia para o Palmeiras, que, segundo apuração do Estadão, gasta em torno de R$ 1,5 milhão por mês com viagens do elenco para as partidas no Brasil e fora dele. Como a aeronave pode voar sem necessidade de escalas na América do Sul, evita desgaste dos jogadores em voos comerciais.
A presidente afirmou que o clube havia economizado R$ 3 milhões no fim do ano passado usando sua “maquina espetacular” de voar, como ela definiu seu próprio avião. O Palmeiras tem de pagar para usar o avião da presidente e não abre para convidados que não sejam do clube. A aeronave tem capacidade para 114 passageiros, mas alguns assentos foram removidos, segundo Leila, para garantir mais conforto à delegação.
“Tiramos alguns bancos para ficar mais confortável para que o atleta já venha fazendo recuperação fisica e tudo o que precisa, isso influencia na performance. Vamos fazer o que for preciso para que o atleta venha se recuperando dentro do avião, com alimentação e todos os tratamentos necessários”, explicou ela.
A aeronave do São Paulo
A empresa contratada pelo presidente Julio Casares forneceu, de forma temporária, um avião da Boeing para o São Paulo utilizar em suas viagens até abril deste ano. O modelo, 737-800NG (sigla para Next Generation), será o que a equipe usará na viagem a Belo Horizonte, na disputa da Supercopa do Rei. A aeronave é envelopada com as cores e escudo do clube paulista. Depois, o avião a ser utilizado nos próximos dois anos será o 737-700NG.
O novo modelo está sendo aperfeiçoado nos Estados Unidos, conforme solicitado pelo clube. Serão 64 assentos executivos adaptados e o São Paulo calcula uma economia de 15% nos custos com viagens e de 23% quando adicionados outros gastos logísticos, como hospedagem, por exemplo.
Fabricados pela Boeing, os modelos são aviões a jato de curto a médio alcance, de corpo estreito, alimentados por dois motores. Produzida desde 1996, a série 737NG possui quatro variantes (série -600/-700/-800/-900) e pode acomodar, nas versões não modificadas, entre 110 e 210 passageiros.
O 737-700NG, que será utilizado por dois anos pelo São Paulo, utiliza o motor CFM56-7BE, com uma potência máxima de 22 mil libras. Podendo atingir até 5.570 km e 957 km/h. Os jogadores se mostraram bastante animados em ter seu próprio avião. Outras vantagens da parceria são o conforto e espaço para realizar eventuais tratamentos de lesões, a alimentação dos atletas durante a viagem e a ausência da necessidade de escalas para chegar a cidades de países sul-americanos.
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