A política sempre foi apontada como um empecilho para que o Palmeiras pudesse prosperar no futebol. Nos últimos anos, porém, o clube viveu raro momento de calmaria. Tanto que a presidente Leila Pereira foi eleita como candidata única em 2021, uma vez que a oposição não conseguiu se unir e indicar um nome para concorrer ao pleito.
No entanto, recentes ações da presidente junto a conselheiros opositores, além da entrevista dada a alguns veículos de imprensa no dia 11 de outubro foram o estopim para que setores do clube e da torcida elevassem o tom contra a mandatária e provocassem turbulência nas antes tranquilas alamedas do Palestra Itália.
A diretoria do Palmeiras decidiu cortar a distribuição de ingressos para 26 conselheiros da oposição que divulgaram uma carta com questionamentos sobre a relação entre o clube e a Placar Linhas Áreas, empresa de Leila, que tem levado o time profissional para viagens fora de São Paulo. Em entrevista, a presidente afirmou que a entrega das entradas não feria o estatuto do clube e que é uma prerrogativa de quem ocupa o cargo. Mas a visão de opositores é diferente.
“Eles queriam saber sobre conflito de interesse. Quando o conselheiro é bem intencionado, não tenho problema nenhum, não tenho problema com críticas. Sou política também. Essas pessoas não são da oposição, eles querem destruir a minha gestão”, disse Leila. A oposição procura agora um candidato forte capaz de concorrer com Leila nas urnas do Palmeiras. Há nomes, mas nenhum confirmado.
Em resposta à presidente, os conselheiros em questão afirmaram, em uma carta, que foram “‘retaliados’, tolhidos de exercer com autonomia o mandato para representar o associado do clube”. “Esse episódio, assim como os anteriores, demonstram uma dificuldade no entendimento das atribuições estatutárias por parte de quem exerce a presidência, que administra, por tempo determinado, uma Sociedade que não lhe pertence. Devendo, portanto, acrescentar em seu vocabulário termos como: contraditório, respeito e transparência”, escreveram os conselheiros em trecho da carta.
As declarações de Leila também suscitaram o ex-presidente Paulo Nobre a se manifestar. Desde que rompeu com Mauricio Galiotte e com a atual presidente, Nobre se afastou da vida política do Palmeiras e renunciou ao cargo de conselheiro vitalício do clube, em 2019. Seu nome é um dos comentados para as próximas eleições. Ele não se manifestou sobre isso, mas bateu pesado e Leila.
“Sua arrogância e soberba culminaram na tentativa de reescrever os fatos, falando que só não fomos rebaixados em 2014 por ajuda de outro clube. Não me surpreende esta sua fala, já que a senhora não conhece mesmo quase nada das nossas dores e glórias, uma vez que descobriu que o Palmeiras existe há menos de dez anos. Em vários outros momentos de sua ainda inexpressiva gestão como presidente, o sentimento que a senhora gerou em mim e na família palmeirenses foi apenas o de vergonha alheia”, escreveu Nobre.
O ex-presidente também deixou aberta a possibilidade de retornar ao clube no futuro. “O que me consola hoje é saber que nada é para sempre e que, cedo ou tarde, voltaremos a ter um palmeirense de verdade neste cargo tão importante. Depois da senhora e apesar da senhora, o Palmeiras continuará sendo o Palmeiras”.
Neste momento, no entanto, não há um nome certo na oposição que arregimente apoio uniforme para concorrer à presidência do clube em 2024 contra Leila. Nem perto disso. O Estadão apurou que o ex-vice-presidente Genaro Marino, derrotado na eleição em 2018 para Galiotte, é um nome que poderia ganhar espaço. No entanto, os grupos de oposição entendem que ainda é cedo para lançar um candidato e que tudo deve ser decidido em agosto de 2024, após o aniversário de 110 anos do clube.
Paulo Nobre pode ser candidato a presidente do Palmeiras?
Reza o artigo 113 do estatuto do Palmeiras que “a Presidência da Diretoria Executiva será exercida, como administrador, por brasileiro, maior de 30 anos, escolhido dentre os conselheiros que tenham cumprido, no mínimo, quatro anos de mandato efetivo.”
A rigor, Paulo Nobre estaria inviabilizado de concorrer à presidência, uma vez que não ocupa no momento o cargo de conselheiro. Mas ele tem as condições do estatuto. A próxima eleição para o Conselho Deliberativo acontece apenas em fevereiro de 2025, após o pleito presidencial, portanto, marcado para novembro de 2024. No entanto, outras possíveis interpretações podem ser estudadas por aqueles que querem ver o ex-presidente de volta no cargo. Ou ao menos ao pleito. Advogados especializados começam a estudar as possibilidade no caso de Paulo Nobre.
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