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CT alagado e peixe morto em estádio: Inter e Grêmio retomam treinos sob pressão do calendário

Congresso técnico da CBF deve decidir paralisação do Brasileirão em 27 de maio; Juventude é o único gaúcho da Série A que teria condições de jogar em casa

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Foto do author Leonardo Catto
Atualização:

Uma escolinha reunia crianças com sonho de virar jogador de futebol quadras pequenas no Parque Esportivo da PUC-RS na manhã de terça-feira, dia 14. No estádio universitário, logo ao lado, havia fluxo de quem fazia caminhadas e corria pelo local. O cenário foi diferente à tarde, quando o Inter retomou os treinos depois de 12 dias sem atividades devido às enchentes que atingem o Rio Grande do Sul.

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O motivo é o calendário da Conmebol. A entidade não pretende adiar mais os jogos da dupla Gre-Nal por Libertadores e Sul-Americana e prevê o retorno de ambos para 28 de maio. Os treinos não tinham condições de retomada no CT Parque Gigante, ainda debaixo d’água. O local fica ainda mais próximo do rio Guaíba que o Estádio Beira-Rio e costuma ser parcialmente invadido pelas águas quando há transbordamento. Desta vez, não há nem como passar o portão.

No estádio, que fica ao lado, até o último domingo, era impossível ver os travessões da goleira, distantes 2,15m do chão. A água baixou e revelou um campo tomado por barro. Até mesmo peixes mortos ficaram pelo caminho e foram vistos no estacionamento. A situação, aliás, é igual no CT Luiz Carvalho, do Grêmio. A região onde ele fica está inacessível a não ser de barco.

A solução colorada foi o campo da PUC-RS. O clube evitou dar tom “alegre” ao treinamento, que não foi aberto à imprensa ou torcedores, que formaram um grupo de cerca de 30 pessoas durante toda a tarde de terça-feira. Já a equipe tricolor se prepara para voltar a treinar em Atibaia e mandar jogos no estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista. A logística já foi feita pelo clube em 2023, em uma sequência de jogos foras contra Red Bull Bragantino e Corinthians. Curitiba também se apresenta como possível destino tricolor.

O Juventude, por sua vez, também retomou treinos na terça-feira. Embora Caxias do Sul tenha sofrido com deslizamentos e até tremores de terras, a equipe da Serra Gaúcha é a única gaúcha da Série A que poderá jogar em casa no Brasileirão. A dificuldade é que os adversários consigam pousar no Aeroporto de Caxias do Sul, já que o Salgado Filho, na capital, não deve retomar as operações nas próximas semanas.

Goleiro Rochet foi um dos jogadores que trabalhou como voluntário no apoio a vítimas das enchentes e retomou atividades com equipe colorada. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Inter volta a treinar e, assim como Grêmio, deve deixar RS

Na manhã de terça-feira, foram feitos os trabalhos da equipe feminina do Inter. As Gurias Coloradas não entram em campo desde 27 de abril, no empate por 1 a 1 contra o Real Brasília, válida pelo Campeonato Brasileiro Feminino. À tarde, foi a vez do time masculino voltar aos treinos. No dia anterior, Eduardo Coudet e mais representantes da comissão técnica foram até o local inspecionar o campo. Uma fonte do Inter indica que até sexta-feira será anunciado onde o clube mandará seus jogos.

A única certeza é que gramados sintéticos estão fora de cogitação. São Paulo e Florianópolis são possibilidades mais citadas. A Conmebol exige iluminação adequada, capacidade de 10 mil pessoas (nas fases de grupos) e aeroporto internacional à 150 km do local da partida. É reconhecido pelo Inter que o clube deixaria o Rio Grande do Sul em caso de necessidade, a exemplo do Grêmio. Não há um estádio gaúcho que atenda a todas as exigências.

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Para o Brasileirão, até seria possível mandar jogos em locais menos afetados, mas o Inter compreende que não pode simplesmente “chegar e assumir um estádio”, dado que outros clubes também têm compromissos. O trio gaúcho da primeira divisão pediu pela paralisação do Campeonato Brasileiro, com apoio dos integrantes da Liga Forte União (LFU), composta por Athletico-PR, Atlético-GO, Botafogo, Criciúma, Cruzeiro, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, e Vasco, junto de Atlético-MG, Corinthians e Red Bull Bragantino. A CBF convocou o Conselho Técnico para 27 de maio, o que pode definir que os jogos atrasados serão realizados na pausa da Copa América, com início em 20 de junho. Inter e Grêmio perderiam jogadores para as seleções enquanto recuperariam quatro rodadas.

Período de retomada de treinamentos até volta dos jogos é visto como uma 'intertemporada' de preparação. Foto: Ricardo Duarte/Inter

O último jogo do Grêmio foi o 0 a 0 contra o Operário pela Copa do Brasil, em 30 de abril. Já o Inter entrou em campo pela última vez contra o Atlético-GO, no empate por 1 a 1 pelo Brasileirão, dia 28 de abril. Na mesma data, o Juventude também Os teve o último jogo, um empate contra o Athletico-PR por 1 a 1.

Olímpico se torna centro de doações e pode virar heliporto

Enquanto no Beira-Rio peixes são vistos após a água secar, na Arena do Grêmio, sequer houve escoamento totalmente. A Zona Norte de Porto Alegre é uma das mais afetadas com a cheia na cidade, em regiões dos bairros Farrapos, Humaitá e Sarandi.

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O antigo Estádio Olímpico virou um local que recebe e distribui doações para abrigos em Porto Alegre. Funcionários do Grêmio atuam na triagem de roupas e carregamentos de água. Em dez dias, passaram pelo local 150 mil litros de água, 30 mil marmitas, 40 toneladas de roupas, entre outros donativos.

Uma das moradoras afetadas no Humaitá, bairro da Arena, é a atacante Caty, do Grêmio. Ela deixou a casa de barco e é voluntária no centro de distribuição de doações montado pelo clube. “É gratificante. Minha mãe ficou bem assustada. Dizia: ‘Filha, sai daí’. Ligo para ela, falo que estou ajudando. Ela fica muito orgulhosa”, conta a jogadora, cuja família mora no Paraná.

Atacante Caty trabalha como voluntária carregando doações no antigo Estádio Olímpico. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Caty não é a única do elenco a ajudar. O time feminino gremista costuma treinar no CT na Ulbra Canoas, espaço que abriga cerca de 6 mil pessoas. Jogadoras do Grêmio apoiam a manutenção do lugar como voluntárias. O Departamento de Responsabilidade Social do clube trabalha para transformar o Olímpico em um heliporto, para que helicópteros levem mantimentos à população que não deixou sua residência e continua ilhada.

O Inter também recolhe doações. Os materiais são entregues na sede da escola de samba Fidalgos e Aristocratas, onde já foram coletados mais de 15 mil peças de roupas. Em Caxias do Sul, o Alfredo Jaconi é ponto de coleta, e o elenco do Juventude mobilizou uma ação de doação de sangue.

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Porto Alegre ainda vive a pior enchente da história do município. O rio Guaíba, que cerca a cidade, chegou na maior cheia já registrada (5,3m). A última cota divulgada na terça-feira estava em 5,22m, enquanto a metragem de inundação é de 3m. A enchente, na capital, contudo, pode ser menor desta vez, já que o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) fez a manutenção das caixas de bombeamento, que escoam água antes de inundar a cidade e falharam na primeira vez. O Rio Grande do Sul tem 149 mortes em decorrência do desastre. A Defesa Civil contabiliza, ainda, 108 desaparecidos. 446 dos 497 municípios foram afetados e 538 mil pessoas foram desalojadas.