Pelé demorou para entender o valor de sua imagem e também para faturar com ela fora de campo
Comerciais na TV foram suas primeiras aventuras para ganhar dinheiro sem ter de calçar as chuteiras e enfrentar os marcadores: o atleta naquela época não tinha vida de pop star como nos dias atuais
No início dos anos 1960, ainda antes de completar 21 anos, Pelé foi procurado por uma fabricante de pinga que o convenceu a emprestar, a preço módico, sua imagem para a “caninha Pelé”. Deu a palavra, mas acabou convencido de que a associação era uma má ideia para ele, um atleta, e voltou atrás. Aquele jovem jogador não poderia imaginar que, 60 anos depois, seu nome não seria apenas uma das marcas mais valiosas do Brasil, mas de todo o mundo. Como toda a grande marca, há uma verdadeira “máquina” dedicada a multiplicar seu valor.
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Nos últimos anos, a carreira e os contratos de Pelé são geridos pela Legends 10, do britânico Paul Kemsley. Esse “superagente” se certifica de que a marca de Pelé não seja vendida a preço de banana - o jogador não fazia campanha publicitária por menos de R$ 2 milhões. Dependendo da abrangência do contrato, o valor poderia mais do que dobrar. “Esse Paul é um sujeito intratável, antipático, esteve no meu escritório e só fez exigências”, lembra um profissional de marketing que teve contato com ele e pediu para não ter o nome revelado. “Mas protege o nome Pelé com unhas e dentes. E sabe cobrar alto por ele.”
Saber cobrar, aliás, foi algo que Pelé demorou a aprender. Amigo pessoal e criador de dois comerciais com o Rei do Futebol - um para a Bombril e outro para o jornal Lance! -, o publicitário Washington Olivetto diz que nem sempre Pelé foi uma máquina de fazer dinheiro. “A verdade é que o Pelé foi um sujeito absolutamente genial dentro do campo, mas primário fora dele”, diz. “Foi só quando ele foi jogar no Cosmos, nos Estados Unidos, no fim dos anos 70, que isso começou a mudar.”
Aliás, reza a lenda que ele recebeu muito dinheiro para assinar seu primeiro contrato com o Cosmos. Pelé queria parar de jogar no Santos, mas não resistiu ao valor oferecido nem à possibilidade de trabalhar nos Estados Unidos. O projeto também o inspirava: ensinar futebol em um país onde a bola era jogada com as mãos. Pelé começava ali a entender melhor o valor que sua imagem tinha.
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Durante muitos anos, um dos principais escudeiros de Pelé, o assessor Pepito, era quem o ajudava a fechar contratos de publicidade. Ficaram juntos por muitos anos. Foi só na primeira década dos anos 2000 que o jogador começou a pensar em si mesmo como um produto de alto valor agregado. Em 2005, cedeu os direitos de sua imagem por 20 anos à agência brasileira Prime.
Relembre a carreira de Pelé
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Rei do Futebol é considerado o maior jogador de todos os tempos
Em 1954, dois anos antes de chegar ao Santos, Pelé foi campeão pelo time juvenil do Bauru Atlético Clube, o Baquinho Foto: Arquivo/Estadão
Rei do Futebol é considerado o maior jogador de todos os tempos
A primeira vez que Pelé jogou pelo Santos deu-se em setembro de 1956. O time fez 7 a 1 no Corinthians de Santo André Foto: Arquivo/Estadão
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No Campeonato Paulista de 1958, conquistado pelo Santos, Pelé marcou 58 gols em 38 partidas - recorde que perdura até hoje Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé foi convocado por Vicente Feola para a Copa de 1958 aos 17 anos após cinco partidas disputadas pela seleção brasileira Foto: Arquivo/Estadão
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Ao lado do massagista Mário Américo e de Mazzola, Pelé comemora o título mundial inédito conquistado na Suécia Foto: Arquivo/Estadão
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De volta ao Santos, Pelé comandou o time alvinegro em uma série de conquistas no começo da década de 1960 Foto: Arquivo/Estadão
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Na Copa de 1962, Pelé disputou as duas primeiras partidas do torneio. Contundido, ficou fora do restante do Mundial Foto: Arquivo/Estadão
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Substituído por Amarildo, Pelé viu a seleção brasileira conquistar o bicampeonato mundial ao bater a Checoslováquia por 3 a 1 Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé conquistou dez vezes o Campeonato Paulista - em duas oportunidades (1960/61/62 e 1967/68 e 69) o time foi tri Foto: Arquivo/Estadão
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Em 1959, Pelé serviu ao Exército em Santos e chegou a marcar 15 gols nas competições das Forças Armadas Foto: Arquivo/Estadão
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No total, Pelé marcou 1.091 gols com a camisa do Santos - foram 1.116 partidas disputadas e 48 títulos conquistados Foto: Arquivo/Estadão
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O craque também foi artilheiro do Paulistão nove vezes seguidas. Na temporada de 1959, chegou a marcar 127 gols Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé é cercado por crianças no Chile, durante a Copa de 1962. Fato repetiu-se durante toda a carreira do Rei Foto: Arquivo/Estadão
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Em fevereiro de 1966, Pelé casou-se com Rosemeri Cholbi, sua primeira esposa. O casal teve três filhos e se separou em 1978 Foto: Arquivo/Estadão
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No Mundial de 1966, Pelé marcou em dos seus 12 gols na competição. Fato deu-se diante da Bulgária, na vitória por 2 a 0 Foto: Arquivo/Estadão
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Recuperado de contusão, Pelé não impediu a derrota da seleção para Portugal, na despedida da Copa da Inglaterra Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé conquistou a Taça Brasil cinco vezes seguidas, entre 1961 e 1965, além do bi da Libertadores e Mundial (1962 e 1963) Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Na seleção, foram 114 jogos disputados (92 oficiais) e 95 gols marcados (77 em partidas oficiais), com nove títulos conquistados Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Em fevereiro de 1969, o Santos de Pelé foi responsável pela paralisação de uma guerra no Congo. Time fez nove amistosos na África Foto: Gilberto Marques/Estadão
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Pelé marcou o gol da classificação brasileira nas Eliminatórias da Copa de 1970. Na ocasião, o Brasil venceu o Paraguai Foto: Arquivo/Estadão
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No dia 19 de novembro de 1969, o craque chegou ao milésimo gol na carreira ao marcar de pênalti contra o Vasco no Maracanã Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé chegou ao tri mundial com a seleção no México, em 1970. Na campanha, fez quatro gols e protagonizou lances geniais Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Encontro de dois craques: Pelé e Friedenreich, conhecido como "El Tigre", posam juntos no final da década de 1960 em São Paulo Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Despedida da seleção ocorreu em 1971, com dois amistosos - um no Morumbi, contra a Áustria e outro no Maracanã, diante da Iugoslávia Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão
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Pelé disputou sua última partida com a camisa do Santos em outubro de 1974, na Vila Belmiro, contra a Ponte Preta Foto: Claudine Petroli/Estadão
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Pelé voltou aos gramados em 1975, para jogar no Cosmos de Nova York. O craque jogou até 1977, em 111 jogos - marcou 65 gols Foto: Arquivo/Estadão
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Em 1981, Pelé é eleito pela revista francesa L"Equipe o Atleta do Século. Entrega do prêmio acontece apenas no ano seguinte Foto: Claudine Petroli/Estadão
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Pelé sorri ao apresentar seu casal de gêmeos Joshua e Celeste, junto com sua segunda esposa Assíria, em 1996 Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Em 2004, Pelé realiza entrevista coletiva para divulgar seu filme, "Pelé Eterno", que conta a trajetória do craque Foto: Sérgio Dutti/Estadão
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Pelé participou do sorteio dos grupos da Copa do Mundo 2014. fato ocorreu em dezembro de 2013, na Bahia Foto: JF Diorio/Estadão
Em 2010, quando completou 70 anos, Pelé registrou um de seus melhores faturamentos em publicidade - naquele ano, teria ganhado R$ 18 milhões. A Prime repassou à Legends 10 os direitos da marca Pelé em fevereiro de 2012. E Kemsley entrou na jogada. Os últimos anos foram mais reclusos para Pelé. Aquele garoto-propaganda que quase não parava no Brasil se rendeu a uma vida mais tranquila e em casa. Ele esteve na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, e, desde então, vinha tirando o pé do trabalho. A pandemia o manteve em casa também e, claro, a descoberta e o tratamento de um câncer.