Nascido em 6 de outubro de 1960 na França, Jérôme Valcke sempre teve sua carreira ligada ao Esporte. Formado em Jornalismo, iniciou sua carreira em 1984 no Canal+, uma rede de TV da França. Em 1991, passou a ocupar o cargo de subeditor de esportes, onde permaneceu até 1997, quando assumiu o posto de executivo-chefe de outra rede esportiva de televisão da França, o Sport+ e ficou no cargo até 2002. Depois, até 2003, o ambicioso francês de quase dois metros de altura e que quase não dispensa o uso dos seus óculos, trabalhou para uma agência de direitos esportivos com sede em Genebra, como chefe de operações administrativas.
Casado e pai de dois filhos, Valcke tem como passatempo a literatura, música, cinema e, claro, “o esporte, seja para prática ou apenas contemplação”. Fluente em francês, inglês, alemão e espanhol, sua guinada ao poder do futebol começou durante o verão europeu de 2003, quando se mudou para Zurique e se filiou à Fifa. Lá, voltou a exercer o cargo de diretor de marketing e TV, onde levou seus conhecimentos sobre transmissões esportivas e organizou as transmissões da Copa das Confederações de 2005 e da Copa do Mundo de 2006, ambas realizadas na Alemanha.
Mas Valcke queria alçar voos mais altos e, em um jogo político, conseguiu ser eleito o sucessor do suíço Urs Linsi, que renunciou ao cargo de secretário-geral em 11 de junho de 2007. No dia 27 de junho daquele ano, ele assumiu o posto como o primeiro secretário-geral que não nasceu na Suíça.
Sua nomeação veio cercada de uma grande polêmica, uma das maiores da carreira do executivo. Meses antes, Joseph Blatter, presidente da Fifa, o destitui de seu cargo após uma corte americana o ter considerado culpado de, em 2004, ter negociado o patrocínio com a rede de cartões de crédito VISA, apesar da entidade de rege o futebol ter como parceira de longa data sua maior concorrente, a rede MasterCard, que possuía o direito de ter a preferência na negociação de renovação do acordo. Por conta disso, a Fifa foi condenada, em Nova York, a uma pesada multa de US$ 60 milhões. “Pessoas fortes o trarão de volta. Não vamos nos esquecer de que, quando chegou aqui, estávamos em grande crise financeira. Hoje, possuímos 752 milhões de francos suíços em nossas contas”, disse Blatter a Valcke em dezembro de 2006.
Seis meses depois, Valcke “cairia para cima” e se tornava secretário-geral, com poderes quase que ilimitados. Ao assumir seu posto, deu poucas declarações, como “Assumir esse cargo é como um sonho para mim.”
O voraz executivo começava então a tecer sua rede de apoios. Primeiro, participou efetivamente da organização da Copa das Confederações de 2009 e da Copa do Mundo de 2010, realizadas na África do Sul. Cercada de polêmicas, como a construção do Soccer City em Johannesburgo, com capacidade para mais de 94 mil torcedores. Sua carreira começou então a ser questionada, principalmente em relação às escolhas para os mundiais de futebol.
Em maio de 2011, o cidadão de Trinidad e Tobago, Jack Warner, um integrante do Comitê Executivo da Fifa e que anos depois seria detido na investigação capitaneada pelo FBI por conta de corrupção no futebol, deixou vazar uma mensagem eletrônica de Jérôme Valcke. O e-mail sugeria que o Catar havia comprado o direito de ser sede da Copa do Mundo de 2022. O francês, em comunicado oficial, negou ter sugerido “suborno”. A decisão sobre a sede do mundial de 2018, na Rússia, também passou a ser questionada.
Mas foi a partir do início de 2012 que a vida de Valcke passou a ser mais acompanhada pelos brasileiros. A proximidade da Copa de 2014 no Brasil e suas funções junto com o Comitê Organizador Local (COL) e com o governo do País o fizeram a visitar a sede do último mundial com grande frequência. Em 2 de março de 2012 ele disse que os organizadores do mundial precisavam de “um chute no traseiro” para que as obras dos novos estádios e de infraestrutura andasses mais depressa. O comentário não foi aceito pelo governo brasileiro. O então ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou que não queria mais que o francês fosse o interlocutor da Fifa para qualquer assunto relacionado à Copa do Mundo.
No meio de toda essa polêmica, Valcke mantinha grande aproximação com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que se manteve neutro durante a discussão. Valcke chegou a publicar uma carta onde pediu desculpas pelo incidente, o classificando como um grande mal entendido causado por um erro de tradução. A Copa do Mundo foi realizada, mas as rusgas não haviam mais como ser curadas. O secretário-geral escapou de ser demitido da Fifa mesmo após a prisão de sete dirigentes no dia 27 de maio deste ano. Contudo, agora passa a ser investigado formalmente pela própria entidade, em mais um capítulo da corrupção no mundo do futebol que envolve a Fifa.
LINHA DO TEMPO
1960 - Nasce no dia 6 de outubro, na França.
1984 - Formado em jornalismo, começa a trabalhar no Canal+, em seu país.
1991 - Passa a ocupar o cargo de subeditor de esportes na mesma empresa.
1997 - É contratado como executivo-chefe pelo Sport+, outra rede de TV francesa.
2002 - Atua como chefe de operações administrativas na agência Sportfive, com sede em Genebra.
2003 - Se filia à Fifa e é nomeado diretor de Marketing e TV da entidade.
2004 - Negocia para a VISA ser patrocinadora da Fifa e ignora os direitos de negociação da MasterCard.
2005 - Atua na Copa das Confederações, conquistada pelo Brasil.
2006 - Atua na Copa do Mundo da Alemanha, conquistada pela Itália.
2006 - Punido judicialmente pela negociação com a VISA. Perde o cargo e a Fifa paga multa de US$ 60 milhões.
2007 - Assume o posto de secretário-geral da Fifa.
2009 - Organiza a Copa das Confederações e o Mundial do ano seguinte, na África do Sul.
2010 - Organiza o Mundial da África do Sul, cercado por polêmicas em relação aos gastos públicos.
2011 - Tem mensagem vazada por Jack Warner, onde supostamente diz que o Catar pagou pela Copa de 2022.
2012 - Começa a ter atritos com o governo brasileiro. Diz que o País precisa de “um chute no traseiro” e pede desculpas.
2013 - Organiza a Copa das Confederações e cobra ritmo mais forte das obras no Brasil
2014 - Organiza a Copa do Mundo do Brasil, vencida pela Alemanha.
2015 - Vê a Fifa ser alvo de investigação do FBI. É demitido da entidade por envolvimento na venda ilegal de ingressos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.