BRASÍLIA - Dois comprovantes de pagamentos que somam R$ 40 mil encontrados durante as investigações sobre o esquema de apostas com manipulação de lances em partidas de futebol ligam a suposta quadrilha a um empresário com forte presença entre jogadores e clubes da elite do futebol brasileiro.
As trocas de mensagens e os documentos obtidos pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) incluem duas transferências via Pix de Camila Silva da Motta, mulher de Bruno Lopez, suposto líder do esquema, para o empresário Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, de Curitiba.
Amigo de atletas que atuam no Brasil e no exterior, Clebinho se apresenta como empresário do ramo de apostas esportivas e do “mercado de vendas e compras de créditos online”.
Nas redes sociais, ele aparece em encontros com jogadores de clubes paranaenses, com estrelas do futebol internacional, de Neymar a Ronaldinho Gaúcho e Rafinha (ex-Bayern de Munique e Flamengo, hoje no São Paulo), e com celebridades da música e da TV. Tem mais de 41 mil seguidores no Instagram.
Em uma entrevista a um site especializado em 2020, ele afirmou que o acesso que tem no mundo da bola ajuda seus negócios. “Participei de dez edições do Jogo das Estrelas, conheci a galera... de lá pra cá, eu resolvi abrir uma empresa relacionada a apostas esportivas, e os jogadores divulgam a minha empresa que, hoje, é uma das maiores no mercado”, disse.
Os repasses para a conta de Clebinho foram feitos em 16 e 17 de setembro de 2022 e aparecem no contexto do pagamento de “sinais” referentes à suposta cooptação de dois jogadores: Pedrinho, do Atlético-PR, e Sidcley, à época no Cuiabá e hoje no futebol da Bulgária. Os comprovantes das transferências indicam uma conta bancária de Clebinho.
Os atletas deveriam tomar cartões amarelos para que o grupo apostasse nesses eventos e lucrasse quando as infrações se concretizassem em campo. A menção a Pedrinho nas investigações levou o clube paranaense a demiti-lo. Bryan Garcia também foi desligado da equipe.
Leia também
Os nomes de Pedrinho e Sidcley aparecem nas mensagens associados a termos como “confirmados”, “confirmados e pagos” e “fechei Sidcley”. “Off total nos nomes ai rapaziada”, escreve Lopez em uma das mensagens.
Clebinho Fera é muito próximo e confidente de Sidcley. “É meu melhor amigo, meu parceiro. Sabemos tudo um do outro, sempre nos respeitamos e nos ajudamos em tudo. Ele sabe tudo da minha vida, e eu da dele”, escreveu em uma publicação.
E nas trocas de mensagens anexadas à investigação do Ministério Público de Goiás, Bruno Lopez chega a dizer que Clebinho “tem metade dos caras do Athlético-PR”.
Em 16 de maio de 2022, em entrevista a um podcast, ele afirmou gostar de jogar com a sorte e citou um ganho elevado com uma aposta modesta. “Eu gostava. Hoje não estou apostando muito. Mas eu acertei um bilhete esses dias aí de R$ 150 mil. 20 jogos. Coloquei R$ 1 mil e acertei os 20″, afirmou. A investigação do MP-GO alcançou, até agora, suspeitas em partidas realizadas entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023.
Ambos os atletas que tiveram os sinais intermediados por Clebinho não constam na relação de denunciados. As investigações do Ministério Público de Goiás, entretanto, continuam e buscam novos financiadores e jogadores ligados ao esquema. Entre os crimes sob apuração estão o de organização criminosa e de manipulação de competições esportivas, previsto no Estatuto do Torcedor. A equipe de promotores que cuida do caso é especializada em crimes de lavagem de dinheiro.
Procurado pelo Estadão, o empresário Clebinho Fera não quis se manifestar. O advogado dele informou que foi contratado na sexta-feira, 12, e ainda aguarda para ter acesso ao processo. A reportagem não localizou representantes de Pedrinho e Sidcley.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.