Não dá para comparar o jeito de frequentar uma praia no Brasil e no Catar. A começar pela diferença de extensão: se a costa brasileira possui 8.500km, a catariana tem 580km. O país também as separa em três categorias: as públicas, voltadas para as famílias, as privadas, que ficam dentro hotéis, como o West In Doha, onde a seleção brasileira está hospedada, e as no deserto, onde é preciso se organizar para levar tudo o que for precisar para passar o dia ou acampar, já que não há nenhum tipo de estrutura e até mesmo postos de gasolina próximos.
As águas do mar que rodeiam o país da Copa do Mundo são calmas, sem ondas e podem chegar a 36 graus nos meses mais quentes do ano, entre junho e setembro. De acordo com a carioca Bruna Bardavid, que vive no país há seis anos e é criadora do Conexão Catar, plataforma de conteúdo de turismo voltada aos brasileiros, é preciso se preparar para entrar em praias bem salgadas, bem mais do que as do Brasil, muito por causa do processo de dessalinização realizado para se obter água potável que é realizado aqui e em outras partes do Golfo Árabe. “As praias do Catar são boas para quem tem filhos e procura programas família, pois elas são rasas e é possível brincar tranquilamente na água”, explica.
Os locais mais acessíveis para ir à praia no país da Copa são a da Katara, em Doha, além das públicas que existem nas cidades de Al-Khor, ao norte, e Al-Wakra e Mesaieed, ao sul do país. Nelas, há infraestrutura disponível, como banheiros, cadeiras e barracas, além de oferta de restaurantes próximos. Em tempos sem o mundial, existe um código de vestimenta determinado para poder frequentá-las. As mulheres não podem usar biquíni e os homens não podem usar sungas e sim, shorts. Muçulmanas devem ficar com a abaya, roupa que cobre o corpo todo, mesmo se quiserem dar um mergulho, algo que não é comum para quem é natural da terra. Para muitos catarianos, praia é lugar para se reunir com a família e fazer um piquenique.
Com a Copa rolando, tem sido possível ver famílias muçulmanas dividindo faixas de areias com estrangeiras usando biquíni e homens tomando sol e caminhando com shorts bem curtos, muito próximos de uma sunga. Outra curiosidade é que as praias públicas têm horário de funcionamento e, após às 17h, não é mais possível acessá-las e guardas controlam as entradas. É possível caminhar pela orla.
A guia de turismo gaúcha Leila Martinez, que vive no Catar desde 2012 e oferece tours customizados pelo Turistando em Doha, explica que, para quem busca conforto, a melhor opção são as praias privadas dos hotéis na capital e no sul do país, como a região do Sealine, na fronteira com a Arábia Saudita, onde funciona um resort e uma praia pública que pode ser usada para se acampar. Ao lado do posto de migração saudita, em Abu Samra, funciona o Salwa Beach Club, que oferece experiências de luxo para os visitantes. “Nos hotéis, pode se consumir bebida alcoólicas na praia e para quem não está hospedado neles, é possível comprar uma diária, que gira entre 200 e 400 rial (R$298 a R$596), dependendo de qual é e dos serviços oferecidos, como refeições, uso de instalações, como a piscina”, conta.
Assim como em Abu Dabi e outros lugares do Golfo, há poucas praias catarianas exclusivas para mulheres. É preciso pagar para frequentá-las e só é permitida a entrada de muçulmanas e crianças. Dentro delas, é possível usar o burquini ou biquíni, já que, na frente de outras mulheres e sem homens por perto não é preciso estar coberta.
CATAR SELVAGEM
Leila pontua que, apesar de o país ser rodeado de água, não são todas as praias que são boas, pois em muitos lugares, a maré é baixa e o chão está repleto de cascalho. A vantagem é que não há restrição alguma para se usar biquíni e levar animais de estimação, que são proibidos em praias públicas e particulares. O único veto é o consumo de álcool, mesmo em locais afastados.
Bruna também explica que é necessário levar tudo o que se for consumir durante a viagem às praias mais afastadas, pois não há supermercados próximos e nem postos de gasolina. O melhor é ir com o tanque cheio e em carros 4x4, para que não exista o risco de atolar no deserto de cascalho que domina o centro-norte do Catar. Dunas com areia fina só existem na porção sul do país.
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