Presidente do Água Santa critica boato do clube com o PCC e diz que Palmeiras não terá vida fácil

Ao ‘Estadão’, Paulo Korek Farias fala sobre a expectativa para a final do Paulistão, os planos para o técnico Thiago Carpini e o rumor de ligação do time com a facção criminosa

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Foto do author Rodrigo Sampaio
Atualização:

A classificação do Água Santa para a final do Paulistão foi uma surpresa até para quem sempre colocou fé no trabalho da equipe. Paulo Korek Farias, presidente do clube de Diadema, concorda com a afirmação, mas também crê no time fazendo uma “grande partida” com o Palmeiras em sua primeira final de Campeonato Estadual. Ele diz que o time de Abel Ferreira não terá vida fácil nas duas partidas. Além da expectativa para o confronto, o mandatário falou ao Estadão sobre a falta de jogos no calendário, projetos para o cobiçado técnico Thiago Carpini e os frequentes boatos sobre a relação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo.

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O Água Santa avançou à final do Paulistão ao superar o Red Bull Bull Bragantino nos pênaltis depois de empatar no tempo normal, por 1 a 1. Após a classificação, um vídeo de Paulo Korek fazendo um discurso emocionado aos jogadores viralizou nas redes. O presidente exaltou os atletas e criticou quem afirma que o time é financiado pelo PCC, uma das principais facções criminosas do País. Ao Estadão, ele afirma que o sucesso do time de Diadema também é uma oportunidade para negar veementemente qualquer relação com a fação paulista.

“Enquanto nós não tínhamos visibilidade, a gente suportou isso sempre dentro do nosso coração. Eu quero crer que é por conta de a gente ser de uma cidade humilde, de uma cidade que realmente já foi tida como a mais violenta do Brasil até os anos 2000″, afirmou. “Eu entendi que chegou a hora, agora que a gente está tendo visibilidade, de acabar com esse preconceito. É um time humilde, sim. É um time que vem de uma cidade carente, sim. Mas é um time com muito trabalho e muita honestidade. Não é à toa que a gente está aí na final do Campeonato Paulista”.

Thiago Carpini (centro) comemora vaga do Água Santa na final do Paulistão.  Foto: Rodrigo Corsi/Ag. Paulistão

É natural que clubes de menor expressão passem a olhar o Água Santa com mais atenção para entender qual o segredo do sucesso da equipe no Paulistão deste ano, que dará a final com o Palmeiras. Fundado no ano de 1981 por migrantes do Norte, Nordeste e de Minas Gerais, o Água obteve sucesso na várzea durante as duas últimas décadas, posteriormente se profissionalizando com o apoio de empresários do ramo do transporte e garantindo seguidos acessos até a primeira divisão paulista, em 2016. Naquele ano, a equipe venceu o Palmeiras, futuro campeão brasileiro, por 4 a 1.

Sob o comando do técnico Abel Ferreira, o Palmeiras se tornou o “maior time do Brasil”, nas palavras do próprio presidente. As coisas também mudaram para o Água Santa, que possui projeto de futebol mais estruturado graças ao trabalho da diretoria e, segundo Paulo, de Deus — mas “sem demagogia”. “Muitos usam essa palavra (Deus) em vão hoje em dia”, diz. Na primeira fase, a combinado alviverde suou para vencer o time de Diadema, por 1 a 0, fora de casa. O presidente do Água Santa não se deixa enganar pela façanha do clube em chegar à final e reconhece que o adversário é “muito favorito”, mas espera ver a equipe comandada por Thiago Carpini fazer uma boa apresentação.

“Nossa folha salarial é de R$ 800 mil. Um jogador do Palmeiras é a nossa folha inteira do mês. O Abel Ferreira é um profissional muito estratégico. Não posso afirmar que vamos ganhar do Palmeiras porque a gente vai enfrentar o maior time do Brasil. Então, eu não posso aqui ter arrogância. Eu digo a você que serão duas grandes partidas e que a gente vai estudar bastante o nosso adversário para que possamos fazer dois jogos à altura do que é uma final de Campeonato Paulista. A gente vai entrar para disputar uma grande partida e no futebol tudo é possível. Já vimos de tudo”, pondera.

Os dois jogos com o Palmeiras serão os últimos do Água Santa em 2023. Como não compete em nenhuma das quatro divisões nacionais, o clube passa o restante da temporada sem atividades oficiais — em 2024, jogará a Série D do Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.

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Este fato poderia servir de argumento para a saída do treinador Thiago Carpini, de 38 anos, que já desperta o interesse de clubes que vão disputar alguma outra competição ao longo do ano. Paulo Korek, no entanto, garante que o contrato do treinador já está renovado até 2024 e que o Água Santa tem um projeto para ele no período em que o time principal estiver inativo.

“Ele vai para a Europa terminar o curso da Uefa e volta para o Brasil para visitar alguns clubes. Todo mundo está trazendo treinador de fora. O nosso vai para fora para depois trazer o conhecimento. É o treinador mais jovem deste Paulistão, mas ele não deixou o sucesso subir à cabeça. Nosso projeto com ele é chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2026″, afirma. “Ele está feliz. Tanto ele quanto a mulher e os filhos perceberam o quanto o clube é acolhedor. Os jogadores também reconhecem isso, querem voltar ano que vem, deixar pré-contrato, porque gostaram do ambiente. Sou uma pessoa que tem um discurso forte na cobrança, mas eles também sabem das condições de trabalho.”

A Federação Paulista de Futebol pagará R$ 5 milhões ao campeão e R$ 1,65 milhão ao vice em 2023. Independentemente de levar o troféu para casa ou não, o dinheiro virá bem a calhar aos cofres do Água Santa, que se sustenta com a ajuda de patrocinadores no período sem jogos do time principal. A folha com os atletas para de ser paga.

Paulo Korek conta que às vezes tirou dinheiro do próprio bolso para custear gastos do clube, mas que isso já não ocorre há algum tempo. Segundo ele, o clube planeja melhorias em suas dependências ao longo do ano, como a instalação de refletores na Arena Inamar, que ainda não consegue receber jogos à noite, além da finalização de parte do alojamento e o refeitório dos atletas. O Água caminha a passos lentos, mas firmes.

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Desde a virada do ano, o Água Santa já acertou a venda de três jogadores: Dadá Belmonte (Atlético-MG), Renato Jr. (Viborg-DIN) e Thiaguinho (Crown Legacy FC-EUA). O time de Diadema ainda faturou com a venda de Pedrão, volante ex-Palmeiras, para o Portimonense. O presidente não informa o tamanho do caixa do clube atualmente.

ELENCO GARANTIDO E LOCAL INDEFINIDO

A Federação Paulista de Futebol (FPF) acertou com a CBF nesta terça-feira a prorrogação do contrato dos atletas do Água Santa, que tinham seus vínculos encerrados antes do dia 10 de abril. A janela de transferências no Brasil será fechada no dia 4, e as finais do Paulistão estão marcadas para os fins de semanas dos dias 2 e 9 de abril. Dessa maneira, em tese, os jogadores que já assinaram pré-contrato com outras equipes não poderiam defender o Água Santa no segundo e decisivo duelo com o Palmeiras. Com o acordo costurado, Thiago Carpini terá todo o elenco à disposição.

O Água Santa será o mandante do primeiro jogo. O presidente Paulo Korek Farias afirma ainda não sabe em qual estádio a partida será disputada, mas o desejo é mandar o jogo em uma arena com boa possibilidade de arrecadação com bilheteria, mas também que permita a comercialização de ingressos a um preço acessível aos torcedores. O mandatário afirma que conversou com Júlio Casares, presidente do São Paulo, mas o cartola tricolor alertou que o gramado da casa são-paulina no Morumbi está sendo trocado após a série de seis shows da banda Coldplay.

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A Vila Belmiro, onde o time de Diadema mandou o duelo com o Bragantino, também é uma possibilidade. O presidente santista, Andrés Rueda, comentou sua preocupação a Korek com relação a questões de segurança tendo em vista a possibilidade de receber uma grande quantidade de torcedores palmeirenses em um reduto arquirrival. A tendência é que o local seja escolhido pela diretoria do Água Santa ainda nesta semana. Em princípio, não existe a possibilidade de duas partidas no Allianz Parque.