O paulistano Osvaldo Rodrigues de Souza Filho, 61 anos, tem o privilégio de contar que viveu, em posição privilegiada, um dos momentos marcantes da seleção brasileira. Na Copa dos Estados Unidos, em 1994, Juca, como é conhecido, estava atrás do gol defendido por Taffarel na primeira decisão por pênaltis de um mundial. Quando o italiano Roberto Baggio isolou a bola que deu o tetracampeonato ao Brasil, o fotógrafo, após garantir um clique histórico, não se conteve e gritou: “Chupa, Baggio!”.
Hoje se dedicando mais à carreira de professor universitário na São Judas, Juca diz que cobrir a Copa do Mundo é um evento mágico para qualquer fotógrafo. E ele pôde acompanhar in loco as edições de 1994, 1998 e 2010. Das três, trouxe histórias e imagens que se tornaram conhecidas e são lembradas até hoje, como o choque do goleiro Fabien Barthez em Ronaldo na final vencida por 3 a 0 pelos franceses e do volante Felipe Melo estirado no gramado do Nelson Mandela Bay, após ser expulso contra a Holanda pelo árbitro japonês Yiuchi Nishimura na África do Sul, em 2010.
“Trabalhar em uma Copa é muito bacana porque você está no centro de todos os acontecimentos, de algo que está acontecendo com a atenção de bilhões de pessoas. Eu não iria em 1994, mas um colega desistiu por uma questão pessoal e fui no lugar dele. Já tinha fechado o credenciamento e eu tive que fazer todo o processo na Fifa - na época era tudo no papel ainda, não havia internet. Foi um parto conseguir e eu com medo de não dar certo.”
De quase não ir até a foto de Baggio, Osvaldo passou quase dois meses baseado em Los Gatos, Califórnia. E de quebra, conseguiu uma foto que entrou para a história do esporte mundial. “São 30 posições por jogo para fotógrafos que vão ficar atrás de cada gol. A preferência para entrar no campo são primeiro das agências internacionais e os fotógrafos dos times que estão em campo. Em 1994, tinham 230 e foi uma briga para se sentar, pois, naquela época não tinha lugar marcado”. Assim que o jogo acabou, ele decidiu marcar terreno atrás do gol onde seriam batidas as penalidades, torcendo para ter feito a melhor decisão. “Na fotografia, esportes principalmente, você tem que saber onde vai se posicionar. Se escolher errado, perde a cena ou alguém vai entrar na sua frente e te atrapalhar. Se você perder alguns segundos ou a posição, perde a foto que pode ser a da sua vida.”
IMAGENS DOLOROSAS
Na Copa seguinte, o fotógrafo viajou para sua segunda Copa, desta vez na França, onde ficou por dois meses. Havia confiança de que o Brasil levaria o penta, mas Juca logo percebeu que o clima de euforia não foi benéfico à seleção a cada jogo e imagens que produzia. “Um dia, fomos com a seleção toda para Paris e ela não estava hospedada na capital, mas foi o time inteiro lá, inclusive o Zagallo, porque tinha um evento patrocinado. Pensei com outros profissionais: Tanta coisa para treinar e todos aqui”.
No Stade de France, veio o registro que confirmou as suspeitas do experiente profissional. “Estava a maior briga para os 200 fotógrafos entrarem e tomarem posição. Eu estava numa fila antes para entrar no campo e apareceram três funcionários da Fifa para liberar quem estava com a credencial, o ticket e o colete prontos. Corri e me sentei no primeiro lugar, na ponta do banco e era um lugar que não tinha ninguém do meu lado direito, só do lado esquerdo. Dava para ter uma ótima visão de lá e para minha surpresa, tirei uma das melhores fotos. Foi o choque e o Ronaldo se chocou com o Barthez. Ele ficou um minuto com a cara para o chão deitado, de bruços, não tirou a cara da grama. Ali, acho que ele desabou não só física, mas também emocionalmente”.
O fotógrafo-professor ainda esteve como profissional na Copa de 2010. Na África do Sul, o mundo estava mais moderno e ele, com uma câmera super digital, de onde saíram fotos de Maradona comemorando como técnico da Argentina e cenas da eliminação do Brasil diante da Holanda, nas quartas de final. As posições dos fotógrafos também passaram a ser marcadas desde a edição de 2002, na Coréia do Sul e no Japão. Apesar de contar com a tecnologia a favor, para enviar imagens direto dos campos de treino ou dos estádios, Osvaldo recorda as dificuldades criadas pelo técnico Dunga no trabalho dos jornalistas que cobriam a seleção brasileira.
“Quando o Brasil fazia um gol, o Dunga corria para um lado e os jogadores corriam para o outro. Eles não se abraçavam. Eu nunca vi isso. E todo mundo falava “O que é isso, o Dunga tá correndo pra um lado e os jogadores pro outro, é o Brasil que tá fazendo gol.”
No jogo que eliminou o Brasil, ele lembra quando o atacante baixinho Wesley Sneijder pediu a bola e levantou a mão na cobrança do escanteio. Do visor da câmera, Juca assistia e registrava a cena do gol da vitória holandesa, além da expulsão do volante Felipe Melo, ocorrida antes da virada. “Brasil e Holanda é sempre um jogo interessante, a gente teve isso em 1994, o famoso 3 a 2 que o Branco fez um gol de falta e a gente ganhou. Em 98, o Taffarel defendeu dois pênaltis. É sempre um clássico da morte, digamos assim.”
COPA DO MUNDO DO CATAR
Juca está acompanhando esta edição do Brasil e espera que a fotografia final dele seja com a seleção enfim conquistando o hexacampeonato, após 20 anos de hiato de títulos mundiais. E espera que os profissionais de mídia brasileiros que estão no Catar aproveitem para conhecer o país árabe e a cultura. “É uma experiência única para conhecer outros lugares, para trocar conhecimentos e num apuro ou outro um fotógrafo acaba ajudando o outro, menos na hora que você consegue um furo, uma imagem especial.”
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