Foram cerca de seis meses de negociações até Neymar da Silva Santos, pai e empresário do astro do Al-Hilal, e o ex-jogador Émerson Sheik, ídolo do Corinthians e comentarista esportivo, decidirem aceitar fazer parte da nova diretoria do Atlético Monte Azul, pequeno clube do interior de São Paulo e que está em transição para se tornar Sociedade Anônima do Futebol, a SAF. Com os dois, a nova direção do AMA, como é chamado, acredita que o clube se tornará “grande e forte” e capaz de “conquistar títulos e prestígio nacional e internacional”.
O atual presidente, Marcelo Cardoso, vai continuar em seu cargo e participando do dia a dia da agremiação. Mas é João Celso Moraes que estará no comando do Monte Azul. O empresário será o presidente da AMA SAF e tomará as decisões mais importantes relacionadas ao departamento profissional de futebol. Émerson Sheik será vice-presidente e o pai de Neymar, consultor de gestão.
Moraes é proprietário da BBM Sports, empresa que gerencia a carreira de atletas como Raphael Veiga e Dudu, ambos do Palmeiras, e Yuri Alberto, centroavante do Corinthians. No Instagram, o empresário, seguido por quase 100 mil pessoas, expõe suas amizades com jogadores, como Alexandre Pato, do São Paulo. Ele, que já jogou futebol profissionalmente, também foi consultor esportivo do Maringá FC, vice-campeão paranaense em 2022.
O agente é amigo de Neymar pai e do astro do Al-Hilal e da seleção brasileira. São muitas as publicações em suas redes sociais em que ele aparece com o pai do jogador, agora seu colega de direção no Monte Azul. Ele chegou ao clube por meio do CEO da agremiação, Rodolfo Piovani, de quem é próximo também.
“Apresentamos o projeto do Monte Azul, o clube, como funcionava a administração e eles acabaram gostando”, diz o presidente Marcelo Cardoso ao Estadão. O investimento “melhorou bastante”, conta o mandatário. “Mas não existe dinheiro sobrando”.
O plano é usar o dinheiro que a nova gestão está injetando para reformar a estrutura do clube, incluindo o estádio, organizar a casa e contratar atletas jovens capazes de dar retorno esportivo e financeiro num futuro próximo. Formar e vender também faz parte do negócio. “Apostamos em atletas com projeção de futuro. O elenco vai ter média de idade de 23 anos. A intenção é fazer negócio com eles no futuro”, afirma Cardoso.
Ele argumenta haver sigilo no contrato assinado em relação aos valores. Por isso, não revela quanto a nova gestão está investindo no AMéA. Não é diferente dos negócios da família de Neymar desde os tempos do Santos. “A gente tem de seguir as diretrizes deles, então não posso abrir”, limita-se a dizer. Nenhum dos envolvidos na operação quis revelar o quanto será pago ao clube. O Estadão procurou João Celso Moraes, mas o empresário não atendeu aos contatos da reportagem. Cardoso comenta que o pai de Neymar, Sheik e Moraes “não param” de trabalhar. “Está muito corrido”, justifica.
Os negócios da família de Neymar
Neymar da Silva Santos gerencia desde 2006 a carreira de seu filho, até hoje o mais famoso jogador brasileiro em atividade. Ele criou a NR Sports para gerenciar os contratos publicitários do craque, que na época da abertura da empresa, tinha apenas 14 anos e já se destacava na base do Santos. Neymar tem 31. De lá para cá, faturaram bilhões de reais com mais de 100 acordos firmados com marcas brasileiras e internacionais como Sadia, Mondelez, Puma e RedBull. Em 2011, fundou ao lado da mulher, Nadine Gonçalves, a NN Consultoria, criada também para administrar a carreira do filho famoso e de outros atletas, como Lucas Lima, meio-campista do Santos.
Neste ano, a NR Sports entrou no mercado imobiliário. O primeiro investimento foi em um empreendimento de alto padrão no litoral de Santa Catarina. “Tomamos uma decisão estratégica de expandir nossas atividades, diversificando nossos investimentos e ingressando no mercado imobiliário”, disse o pai de Neymar em entrevista ao Estadão no início do mês.
Elenco montado
O Monte Azul vai disputar a Série A2 do Campeonato Paulista em 2024. O elenco já está montado, segundo o presidente, e o clube tem anunciado os reforços aos poucos. Berg, volante de 25 anos, é um deles. O atleta tem passagens nas categorias de base do Fluminense.
Na Série A2 deste ano, o Monte Azul quase foi rebaixado. Terminou em 14º lugar, dois pontos acima do São Caetano, o primeiro clube na zona de rebaixamento para a A3. A campanha teve sete derrotas, cinco empates e três vitórias. Em 14 das 15 rodadas, o time esteve entre os dois piores, saindo somente do grupo dos rebaixados no último jogo, depois de uma vitória sobre o Lemense.
“Queremos o acesso à elite estadual e disputar um campeonato nacional”, afirma Cardoso, mencionando os objetivos do time em 2024. Em 2010, o clube chegou a disputar a elite do Campeonato Paulista. A estreia foi contra o Corinthians, em empate por 1 a 1. No mesmo, ano foi rebaixado na 18ª posição e nunca mais voltou a jogar o Estadual mais importante do País.
Em 2010, o Monte Azul era o clube da cidade com a menor população do Campeonato Paulista, com cerca de 19.302 habitantes. Atualmente, segundo o IBGE, são 18.151 pessoas no município. O estádio Otacília Patrício Arroyo é capaz de abrigar mais da metade da população, com capacidade para 13.100 pessoas, segundo o Cadastro Nacional de Estádios de Futebol da CBF. Ainda segundo o levantamento, o Otacília Patrício Arroyo é um dos quatro estádios brasileiros com nome de mulher e homenageia a matriarca da família Arroyo, grande incentivadora do clube.
Monte Azul Paulista está situada na região norte do Estado. Faz parte da microrregião da Serra de Jaboticabal e da região de Ribeirão Preto.
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