Comandante da seleção brasileira no primeiro amistoso do ciclo para a Copa do Mundo de 2026, Ramon Menezes lidera a equipe sub-20 do País, foi campeão do Sul-Americano da categoria no último mês e, aos 50 anos, tem seu maior desafio na carreira de treinador: preparar a equipe principal para o técnico efetivo que deve ser contratado ainda no primeiro semestre de 2023. A primeira convocação sob o comando do interino acontece nesta sexta-feira, 3, às 11h.
Conhecido apenas como Ramon na carreira de jogador, o técnico interino da seleção iniciou sua carreira como treinador no futebol goiano, mas se destacou de maneira positiva no Vasco. O sucesso, porém, durou pouco. Desligado do time cruz-maltino, teve rápidas oportunidades no CRB e no Vitória antes de assumir o cargo na base da seleção brasileira.
Com o bicampeonato olímpico conquistado com André Jardine como treinador nos Jogos de Tóquio, em 2021, Ramon Menezes assumiu a seleção sub-20 - que durante a Olimpíada passa a ser sub-23 - tendo como meta inicial levar o time de volta a um Mundial, torneio que o Brasil não participa desde 2015.
A classificação para o Mundial e a vaga no Pan-Americano de Santiago foram alcançadas no Sul-Americano Sub-20, disputado entre janeiro e fevereiro na Colômbia, em que o Brasil obteve bons resultados e se sagrou campeão, batendo o Uruguai na última rodada do hexagonal final. Vitor Roque e Andrey Santos foram os grandes destaques do time.
O título deu força a Ramon Menezes. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, estipulava o primeiro mês do ano como limite para a definição do substituto de Tite como técnico da seleção principal. Sem conseguir efetivar o desejo, o mandatário decidiu dar oportunidade para Ramon. O único compromisso previsto sob o comando do interino acontece no dia 25 de março, em Tânger, diante dos donos da casa, o Marrocos, seleção sensação e quarta colocada na Copa do Catar.
JOGADOR
Ramon é mineiro, nascido em Contagem, cidade na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Formado na base do Cruzeiro, ganhou o apelido de “Reizinho da Toca”, mas o ex-meio-campista fez sucesso no Vasco, equipe pela qual teve três passagens. A primeira delas em momento áureo do time carioca, conquistando Brasileirão (1997), Libertadores (1998), Carioca (1998) e Rio-São Paulo (1999).
Apesar da ligação com o Cruzeiro, jogou pelo Atlético-MG. No futebol internacional, Ramon Menezes atuou no alemão Bayer Leverkusen e no japonês Tokyo Verdy. Seu ponto forte era a bola parada: se notabilizou como ótimo cobrador de faltas.
TÉCNICO
Ramon encerrou a carreira em 2013, vestindo a camisa da Cabofriense, do Rio de Janeiro. Decidido a investir na carreira de treinador, pendurou as chuteiras e foi aprender com outros professores. Fez estágio com Oswaldo de Oliveira no Botafogo e foi convidado para voltar ao Joinville, equipe em que atuou poucos anos antes, para ser auxiliar.
Após fazer parte da comissão técnica que levou os catarinenses ao título da Série B de 2014, alçou voo solo. Em Goiás, comandou o modesto Assev. Depois, foi para o Anápolis até voltar às origens no futebol mineiro, como técnico do Guarani de Divinópolis.
Em 2019, foi chamado para preencher a vaga de auxiliar permanente no Vasco. Um passo que parecia retroceder sua carreira foi o grande motor para que Ramon Menezes aparecesse para o cenário nacional.
Em 2020, substituiu Abel Braga como técnico do Vasco logo no início da pandemia de covid-19. O início do trabalho foi promissor, deixou o torcedor com esperanças e teve o estilo de jogo batizado como “Ramonismo”. Levou o time cruz-maltino à liderança do Campeonato Brasileiro, mas a alegria durou pouco e rapidamente o Vasco afundou na tabela. Após seis jogos sem vitória, Ramon foi desligado e a equipe terminou a temporada rebaixada.
No mesmo ano, Ramon foi contrato pelo CRB que disputava a Série B e lutava contra a degola. O trabalho não trouxe bons resultado e somente nove jogos depois, foi demitido. No Vitória, em 2021, a situação foi semelhante e a rescisão do contrato veio após 16 jogos.
RAMONISMO
Ramon Menezes se mostrou até aqui um técnico que busca adaptar as características dos jogadores ao modelo que a equipe atuará em campo. No Sul-Americano Sub-20, não pôde contar com Endrick, por exemplo, mas encontrou em Vitor Roque o líder ideal para o ataque da seleção.
No gramado, não se viu uma equipe que acua o adversário, mas um time capaz de forçar erros dos rivais e que aproveita a velocidade e qualidade técnica para encontrar soluções e saltar à frente no placar. O Brasil terminou o Sul-Americano Sub-20 invicto, com sete vitória em nove jogos. A seleção de Ramon anotou 19 gols e sofreu apenas quatro.
NOVO TREINADOR
A CBF decidiu que na Data Fifa de março a seleção brasileira fará apenas um jogo, justamente diante do Marrocos. Sob o comando de Walid Regragui, os marroquinos fizeram em dezembro a melhor campanha da história de uma seleção africana em Copas do Mundo, terminando em quarto lugar, depois de eliminar Portugal, Espanha e Bélgica.
No amistoso, Ramon poderá testar novas peças na seleção e ajudar o comandante oficial. O nome de Carlo Ancelotti, do Real Madrid, é apontado como o favorito para assumir o cargo. O italiano está sob contrato com o time merengue, mas há expectativa de liberação ao término da temporada, em junho. Outros nomes especulados são: José Mourinho (Roma), Jorge Jesus (Fenerbahçe), Zinédine Zidane e Luis Enrique (ambos sem clube).
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