A morte de Gabriela Anelli, jovem palmeirense que perdeu a vida depois de estilhaços de uma garrafa de vidro acertarem seu pescoço em briga entre flamenguistas e palmeirenses no entorno do Allianz Parque, tem suscitado dúvidas e passou por uma reviravolta, com troca de delegacia e afastamento do delegado César Saad, que cuidava das investigações.
Existem inconsistências na investigação, uma guerra de versões e vários vídeos da confusão circulando nas redes sociais, mas nenhuma certeza de quem foi o autor do crime. O Estadão reuniu as informações sobre o episódio e reconstituiu o caso, com o local do incidente e vídeos da confusão.
Veja a reconstituição do caso:
PONTAS SOLTAS
Por determinação da Justiça, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu o caso, que antes estava com a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) e agora passa a reanalisar as imagens da briga que resultou na morte da jovem palmeirense de 23 anos. Ela foi enterrada na última terça-feira em Embu das Artes, na Grande São Paulo.
A polícia ainda não conseguiu encontrar o autor do crime. O flamenguista Leonardo Felipe Xavier Santiago, ex-integrante de uma organizada ligada ao clube, a Fla Manguaça, chegou a ser preso em flagrante no sábado, mas foi solto na última quarta-feira por fragilidade de provas, como apontaram o Ministério Público de São Paulo e a juíza Marcela Raia de Sant’Anna.
Santiago retornou ao Rio e vai responder ao processo em liberdade. Os advogados do torcedor do Flamengo afirmaram que o flamenguista está “aliviado” depois de sair da cadeira. A defesa, no entanto, disse que o flamenguista está “transtornado” e teme pela sua vida.
A magistrada que determinou a soltura de Santiago afirmou, em sua decisão, que o delegado que vinha investigando o caso, Cesar Saad, “se mostrou açodado e despreparado para conduzir as investigações”.
Saad afirmou reiteradas vezes publicamente que Santiago tinha confessado, em conversa informal com os policiais, ter atirado a garrafa que feriu e matou Gabriela. No entanto, no interrogatório na delegacia, Santiago deu outra versão. Ele disse que palmeirenses jogaram rojões em direção à torcida do Flamengo e que. como revide, resolveu lançar pedras de gelo, “mas essas eram muito pequenas e sequer atingiram a barreira” de metal que separava torcedores locais e visitantes.
O CRIME
O fato aconteceu por volta das 17h45, mais de três horas meia antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, perto dos portões C e D do Allianz Parque, na rua Padre Antônio Tomas. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora, e foi muitas vezes aberta, dando brecha para que os torcedores arremessassem pedras e garrafas.
Vídeos mostram, de fato, a divisória de metal aberta para a passagem de uma viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e palmeirenses e flamenguistas arremessando garrafas por entre esse vão e também por cima da proteção. As imagens evidenciam que havia pouco policiamento no momento da briga.
Somente uma viatura da GCM estava próxima, mas, segundo a PM informou ao Estadão, o policiamento na região do estádio e nas ruas adjacentes era realizado pelo 2º Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) no momento do incidente. Saad afirmou, na verdade, que a PM chegou às 19h no local, duas horas antes do jogo.
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