Quando Dorival Júnior afirmou que está promovendo uma renovação no Brasil, ele estava certo. De fato, há em um curso um processo de reformulação na seleção brasileira, o que fica evidente pelo número de atletas convocados pelo treinador desde que ele assumiu o time, em fevereiro deste ano. Entre críticas, escolhas questionáveis e oscilações, o técnico tenta dar corpo ao time com pensamento de levar um grupo competitivo para a Copa do Mundo de 2026.
Em menos de um ano, Dorival chamou 51 atletas em cinco convocações diferentes - foram listas para amistosos, Copa América e três compromissos da seleção pelas Eliminatórias Sul-Americanas. Desses 51, 18 nunca haviam sido chamados para a seleção brasileira. Em comparação, no último ciclo de Copa, Tite chamou 87 atletas em pouco mais de quatro anos, de meados de 2018 ao fim de 2022.
Os 18 estreantes chamados por Dorival são os goleiros Rafael e Léo Jardim, os laterais William e Abner, os zagueiros Beraldo, Murilo, Murillo e Fabrício Bruno, os volantes Pablo Maia, João Gomes e Ederson, o meia Matheus Pereira e os atacantes Galeno, Luis Henrique, Estêvão, Savinho, Evanílson e Igor Jesus.
“Estamos fazendo uma mudança considerável, dando oportunidades a jovens, a garotos, e, ao mesmo tempo, buscando resultados. Queremos mudanças com o time consistente para chegar na frente alicerçados em condições reais de disputarmos uma final de Copa do Mundo”, disse Dorival, antes dos jogos com Chile e Peru, as duas piores seleções das Eliminatórias, derrotadas recentemente pelo Brasil.
O número de estreantes é quase o mesmo de cortes sofridos no ano. Todos os cinco chamados tiveram baixas, que somam 17. Em seis ocasiões, depois de ter jogadores desconvocados, Dorival optou por um atleta que acabou não sendo mais chamado. Até o momento, são os casos de Léo Jardim, William, Alex Telles, Lucas Moura, Matheus Pereira e João Pedro.
Coincidentemente, cinco desses seis atuam no Brasileirão. Eles contribuíram para que o Campeonato Brasileiro fosse o que mais cedeu atletas à seleção em 2024, com 22 jogadores. Junto disso, está o fato de que o Flamengo é o clube que mais teve brasileiros convocados. A equipe rubro-negra teve cinco atletas chamados: Léo Ortiz, Ayrton Lucas, Pedro, Fabrício Bruno e Gerson. Apenas os dois últimos foram convocados mais de uma vez.
Léo Ortiz foi chamado por Dorival apenas nesta Data Fifa, para substituir Militão. Ayrton Lucas estava na lista dos amistosos contra Inglaterra e Espanha, mas não voltou. Já Pedro sofreu uma lesão grave, justamente no treino da seleção, e ficou fora da temporada.
A base da seleção brasileira
Quem esteve nos cinco chamados, mesmo que tenha sofrido algum corte, foram 10 atletas: os goleiros Bento e Ederson; o lateral Danilo; os zagueiros Gabriel Magalhães e Marquinhos; os meias Bruno Guimarães e Lucas Paquetá; e os atacantes Rodrygo, Savinho e Vini Jr.
É notório que, mesmo com a alta presença de atletas do Brasileirão, quem tem recorrência são brasileiros “europeus”. Desses 10, apenas Bento foi chamado defendendo um time brasileiro, o Athletico-PR, mas isso aconteceu somente na primeira convocação, já que nas outras quatro ele estava no Al-Nassr. Da lista de mais chamados, o goleiro é o único de fora da Europa.
Na avaliação do pentacampeão Denilson, faltam referências no atual grupo. O vácuo com a ausência de Neymar durante seu período lesionado não foi ocupado, ele entende. “Eu fui de uma geração que tinha referências dentro da seleção brasileira. Essa seleção de agora não tem. Então, na transição dessa geração, faltou essa figura. A gente tinha o Neymar e não tinha mais ninguém”, considera o ex-jogador em conversa com o Estadão.
Para Denilson, os talentos individuais são bons. O que falta é o coletivo funcionar para que os jogadores mais técnicos, como Vini Jr, sejam potencializados. “Eu acho que, se coletivamente funcionar, essa individualidade vai ficar mais aflorada”.
A prioridade para o coletivo é vista na convocação desta Data Fifa. Artilheiro da “Era Dorival” junto de Raphinha e Rodrygo, Endrick ficou fora, enquanto vive momento difícil no Real Madrid. Dorival garante, contudo, que as portas não estão fechadas para o garoto. “Ele está em um momento de transição, vivendo na maior equipe do futebol. Um processo natural. Uma chegada, adaptação. Tudo isso demanda um pouco de tempo”, explicou.
Com tantos testes, Denilson acredita que o time que atuou na última Data Fifa (e em parte chamado para esta) será a equipe para a Copa de 2026. “Eu acho que o time é esse. O Igor Jesus, que foi convocado agora, criou uma dúvida para o Dorival, porque o Richarlison está oscilando bastante no futebol inglês. Com o Tite, por exemplo, ele era convocado em todos os jogos, titular. Não sei se o Gabriel Jesus vai ter essa oportunidade com o Dorival. É um cara que foi muito questionado, na seleção”, pondera o pentacampeão, que defende, ainda, uma vaga para Neymar.
O jogador do Al-Hilal voltou a atuar depois de um ano afastado por lesão e cirurgia no joelho esquerdo. Com menos de 45 minutos jogados em dois jogos, Neymar voltou a ter problemas. Desta vez, a questão é na coxa direita, com um afastamento de quatro a seis semanas.
A seleção brasileira entra em campo na quinta-feira, 14, contra a Venezuela às 18h (de Brasília) no Monumental de Maturín, em Monagas. Já no dia 19, o adversário será o Uruguai, às 21h45, na Arena Fonte Nova. O Brasil é o quarto colocado nas Eliminatórias Sul-Americanas, com 16 pontos, seis a menos que a líder Argentina.
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