Regra anti-cera do Brasileirão 2025 é ‘ignorada’ por árbitros em rodada de abertura

Em pelo menos duas partidas, goleiros passaram bastante do limite de oito segundos com a bola nas mãos sem a arbitragem marcar a infração, como manda a nova determinação

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Foto do author Rodrigo Sampaio
Atualização:

A primeira rodada do Brasileirão 2025 marcou o início da nova regra anti-cera instituída pela International Football Association Board (Ifab) no futebol nacional. Contudo, os torcedores mais atentos puderam notar que a determinação não foi cumprida à risca pelos árbitros em mais de uma partida.

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O Estadão apurou que a Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vê a aplicação da nova regra em fase de adaptação e deve ser aperfeiçoada nas próximas rodadas.

De acordo com a nova regra, um goleiro pode segurar a bola com as mãos somente por oito segundos, com os últimos cinco sendo sinalizados pelo árbitro. Em caso de infração, é marcado escanteio para o adversário. Anteriormente, o arqueiro tinha até seis segundos para controlar a bola manualmente, com a marcação de tiro livre indireto em caso de transgressão.

Por se tratar de uma punição grave, a arbitragem dificilmente cumpria a regra, e os titulares da meta se aproveitavam disso para ganhar tempo. O cenário não foi diferente em alguns casos da rodada inaugural do Brasileirão.

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Ramon Abatti Abel faz sinalização com a mão durante jogo entre Palmeiras e Botafogo. Foto: CESAR GRECO

Na partida entre Flamengo e Internacional, no Maracanã, o goleiro colorado Sergio Rochet ficou mais de dez segundos com a bola nas mãos. O time gaúcho vencia por 1 a 0, e o relógio marcava 45 do primeiro tempo. Na etapa final, quando o placar indicada 1 a 1, o reserva Anthoni, que entrou na vaga do titular uruguaio, ficou aproximadamente 20s com sob controle da bola. O responsável pela arbitragem foi Davi de Oliveira Lacerda (ES).

Já no empate sem gols entre Palmeiras e Botafogo, no Allianz Parque, o goleiro alvinegro John ficou quase 20 segundos em posse manual da bola. O relógio marcava 48 do segundo tempo no momento da infração. O árbitro Ramon Abatti Abel (Fifa/SC) chegou a abrir contagem, mas bem depois de o arqueiro fazer a defesa.

Segundo o livro de regras da Ifab, o árbitro pode abrir a contagem quando o goleiro estiver deitado no chão com a bola. Ou seja, não é necessário esperar o arqueiro se levantar para começar a contar o tempo de reposição. Cabe ressaltar que a determinação cita ainda que os oito segundos serão contados a partir do momento em que a arbitragem está convicta de que o goleiro tem o claro controle da bola com as mãos.

“O momento da abertura da contagem é quando o goleiro está disponível para repor. A bola não está disponível para reposição se ele ainda está fazendo a defesa ou se tem um adversário na frente dele, por exemplo. Esse é um ponto chave à luz da regra”, explica Sálvio Spínola, ex-árbitro e comentarista de arbitragem da Globo.

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Em contrapartida, o comentarista vê, sim, infração nos lances citados acima e critica o não cumprimento da regra pelos dos árbitros. “A Comissão de Arbitragem deveria ter feito um cartão de visitas, pedindo aos árbitros para manter o rigor, mas só pediu para eles levantarem o braço e contar. Ela deu a seguinte mensagem: ‘Não estamos nem aí‘. Agora vai ser difícil recuperar a rédea. Acho que o campeonato vai ser polêmico até a 38ª rodada. Uns árbitros vão marcar, outros não. Isso vai trazer mais problema”, conclui.

Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro e comentarista de arbitragem da ESPN, é outro que vê infração dos goleiros nos lances destacados da primeira rodada do Brasileirão. Para ele, a CBF deveria ter feito um treinamento com os árbitros antes de implementar a regra no Brasileirão. “Para isso vingar e dar certo, os árbitros deveriam ter sido treinados. Isso é treino de campo que você deve treinar e exercitar várias vezes. Não me parece que foi feito. E é necessário coibir. Não adianta um marcar e o outro não” frisa o Simon.

Simon vê a mudança na regra como uma maneira eficiente de aumentar a dinâmica no jogo e a minutagem das partidas, citando, por exemplo, o tempo de apenas 48 minutos de bola rolando na final do Paulistão. “Oitos segundos é um tempo bastante razoável para o goleiro realizar a reposição. A partir do momento em que a regra for cumprida e um time sofrer um gol, o próprio treinador da equipe vai pedir para o goleiro colocar logo a bola em jogo. Mas a gente não quer que aconteça isso. Por isso, também é necessário uma medida pedagógica.”

É o que também acredita Sálvio, que não vê na infração dos oito segundos um problema grave para a cera, mas sim o excesso de vezes em que os goleiros fingem lesão quando o time está à frente do placar. “Os jogadores, dirigentes e comissões técnicas precisam se conscientizar. Todos gostam quando é a meu favor, todos criticam quando é contra. O árbitros não tem previsão na regra de punição aos goleiros que pedem atendimento médico. A Premier League, por exemplo, cobra que os goleiros não façam isso. Aqui, o anti-jogo está acima do produto.”

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