Dorival Júnior sobre Robinho: ‘Tem de ser penalizado, por mais que doa no meu coração’

Treinador da seleção brasileira relembra relação com o jogador na época em que trabalharam juntos no Santos e expressa solidariedade com vítimas de violência sexual, crime pelo qual o atacante está preso

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Dorival Júnior concedeu coletiva nesta sexta-feira, no estádio Wembley, para falar sobre o amistoso entre Inglaterra e Brasil, marcado para as 16 horas (de Brasília) deste sábado, e se posicionou sobre o atacante Robinho, preso no complexo penitenciário de Tremembé por cometer crime de estupro coletivo na Itália. O treinador da seleção brasileira condenou o ato do seu ex-jogador, embora tenha lembrado dele com fraternidade, e pediu que o caso não fique impune. Dorival trabalhou com Robinho no Santos, em 2010.

“É uma situação muito delicada, Robinho foi meu atleta, uma pessoa fantástica, um profissional desses, dentro da nossa convivência, acima de média”, disse o técnico. “Eu penso nas famílias das pessoas envolvidas e principalmente nas vítimas envolvidas nesses episódios que acontecem diariamente no nosso país e em todo mundo, e são abafados porque as pessoas não têm voz. Se houve realmente, e comprovado, algum tipo de crime, ele tem de ser penalizado. Por mais que doa no meu coração falar isso de uma pessoa que eu sempre tive um convívio excepcional, falo também pelas vítimas e por suas famílias. Eu sei o quão doloroso deve ter sido passar por um momento como esse.”, completou.

Dorival Júnior se pronunciou sobre prisão de Robinho.  Foto: Andy Rain/EFE

Dorival disse também que espera uma mudança de cenário no que diz respeito a crimes dessa natureza e pediu mais atenção a casos de violência sexual que não envolvam personagens midiáticas. “Gostaria de dizer que não só esses casos, mas milhares acontecem ao longo dos dias e a nossa sociedade, infelizmente, se omite da grande maioria. Precisamos penalizar também esses casos que não são expostos e acontecem com frequência”, disse.

O treinador chegou a comentar brevemente sobre a situação de Daniel Alves, condenado a quatro anos e meio de prisão na Espanha por estuprar uma jovem no banheiro de uma boate em Barcelona. “Não tive oportunidade de trabalhar com o Daniel, mas a história dele dentro do futebol todos nós conhecemos. Fico, naturalmente, até... É um momento difícil para nós expressarmos toda e qualquer situação”.

Publicidade

CBF se manifesta

PUBLICIDADE

O silêncio da CBF sobre o caso dos dois atletas que já vestiram a camisa da seleção vinha sendo alvo de críticas. Então, na noite desta sexta-feira, o presidente Ednaldo Rodrigues se manifestou em nota oficial. Ele apontou as condenações de Robinho e Daniel Alves como um “ponto final em um dos capítulos mais nefastos do futebol brasileiro”. Segundo o dirigente, “é fundamental que a corajosa atitude das vítimas inspirem cada vez mais mulheres a não se calarem diante de barbaridades de tal ordem”.

“Mais do que isso: num ambiente em que o machismo impera, nós, homens, precisamos estar na linha de frente para combater não apenas a violência sexual, mas todo tipo de violência. A CBF, todos os seus dirigentes e a comissão técnica da seleção brasileira se solidarizam com as vítimas brutais dos dois crimes cometidos pelos ex-jogadores”, escreveu o presidente.

A primeira pessoa relacionada à entidade a se manifestar foi Leila Pereira, presidente do Palmeiras e chefe da delegação da seleção nesta Data Fifa. “Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, afirmou ao Uol.

O Caso Robinho

Robinho foi acusado de participar de um estupro coletivo a uma mulher albanesa em uma boate de Milão, na Itália, em janeiro de 2013. À época, ele defendia as cores do Milan. A Justiça italiana condenou o atacante a nove anos de prisão., com decisão em terceira e última instância ocorrendo em janeiro de 2022, com o atacante no Brasil.

Publicidade

O Ministério de Justiça da Itália solicitou, então, a extradição de Robinho no final de 2022, mas o pedido foi negado porque o governo do País não extradita cidadãos brasileiros natos.

Com isso, a Justiça italiana requereu uma homologação de sentença, ou seja, pediu que a decisão ocorrida na Itália pudesse ter efeitos no Brasil. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu na quarta-feira, 20, que Robinho deverá cumprir a pena pelo crime no Brasil.

Foram 11 votos no total: nove acompanharam o relator, Francisco Falcão, e foram a favor de o jogador cumprir a sentença de nove anos em regime fechado no País, e dois foram contra.

Na noite desta quinta-feira, 21, Robinho, aos 40 anos, teve a prisão decretada pela Justiça Federal de Santos, foi preso pela PF da cidade e encaminhado à penitenciária de Tremembé. O jogador alega que a relação foi consensual, diz ter provas de sua inocência e acusou a Justiça italiana de racismo.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.