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Rodrigo Caio e o fair play: a jogada que invadiu o campo da ética

Atitude do zagueiro de revelar ter ele atingido o goleiro Renan, o que anulou cartão que Jô recebera, é aplaudida, mas há quem admita que não faria igual

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Foto do author Gonçalo Junior

A jogada mais importante das semifinais do Campeonato Paulista passou longe de discussões táticas, técnicas ou de arbitragem e invadiu o campo da ética. Atletas e ex-jogadores elogiaram a atitude do zagueiro Rodrigo Caio, que livrou o rival Jô de levar um cartão amarelo. O ato foi ainda mais valorizado porque o corintiano seria suspenso do próximo jogo. Por outro lado, muitos atletas admitiram que não teriam o mesmo espírito esportivo.

A voz mais importante a ironizar o jogo limpo foi do zagueiro Maicon, companheiro de Rodrigo Caio. “A gente deveria respeitar a atitude do Rodrigo. Se foi certo ou não, é da consciência de cada um. Mas eu prefiro a mãe do meu adversário chorando em casa do que a minha.”

Rodrigo Caio avisa o árbitro que foi ele quem pisou nogoleiro do São Paulo, e não o atacante Jô, do Corinthians Foto: Marcos Bezerra/Futura Press

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Ex-jogadores fizeram coro. “Acho louvável, bacana, corretíssimo, tem de servir de exemplo para todo mundo, inclusive para a sociedade de um modo geral, mas eu acho que não faria, não”, declarou Edmundo, ex-jogador do Palmeiras e comentarista do canal Fox Sports

Conhecido pelo estilo irreverente e provocador, o ex-palmeirense Paulo Nunes também deixou o “politicamente correto” de lado. “Não vou ser hipócrita, eu buscava irritar os adversários, tirar proveito de uma situação”, confessou. 

O técnico Guto Ferreira, hoje no Bahia, compreende o comportamento. “Nós vivemos numa cultura em que a busca pelo pão do dia a dia faz com que as pessoas não meçam esforços para se dar bem”, disse. “Infelizmente, estamos acostumados a ver os jogadores buscando levar vantagem a qualquer custo”, completou Celso Roth, atualmente sem clube. 

O atacante Jô, principal beneficiado, afirmou que se sente em débito com o são-paulino para o jogo de domingo. “Essa atitude nos responsabiliza muito. Domingo, fomos os beneficiados. Se acontecer com a gente, temos que fazer igual.”PARABÉNS Várias entidades parabenizaram Rodrigo Caio. “Pequenas atitudes de grandes homens há décadas enobrecem o futebol paulista”, disse a página oficial da Federação Paulista no Facebook. “Estamos vivendo muito da malandragem e isso tem prejudicado o espetáculo. Pênaltis que os jogadores simulam não são fáceis para o árbitro”, disse Marcos Marinho, chefe de arbitragem da CBF.

A discussão se situa no território da ética, aquilo que não é obrigatório, mas que deve ser feito em nome do espírito esportivo e da ética. “A conduta de Rodrigo Caio indica dois horizontes. O primeiro é o espanto por ainda nos espantarmos pelo fato de alguém fazer o correto. O segundo é a alegria por ainda nos alegrarmos pelo fato de alguém fazer o correto. O primeiro horizonte nos adverte; o segundo nos anima”, disse o filósofo Mario Sergio Cortella ao Estado

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Em fevereiro, a CBF criou um cartão para homenagear as boas atitudes na Copa Verde, competição do Norte do Brasil. Ao contrário do amarelo e do vermelho, a nova tarjeta – verde – tem conotação positiva e valoriza o fair-play. 

Entre os bons exemplos estão avisar o árbitro de que o jogador cometeu uma infração não percebida. “Lembro de ter visto lances parecidos na Europa, mas precisamos ter mais exemplos no Brasil”, diz Alberto Valentim, técnico do RedBull.