Em 2016, ano seguinte à sua aposentadoria dos gramados, Rogério Ceni fez estágios e visitou diferentes clubes da Europa, incluindo o Manchester City, de Pep Guardiola, já considerado o melhor técnico do mundo à época. O brasileiro não esteve junto do espanhol naquela oportunidade. Oito anos depois, o Bahia, clube hoje pertencente ao Grupo City, fez sua pré-temporada em Manchester e o ex-goleiro voltou à cidade inglesa para se encontrar com o técnico espanhol multicampeão.
A despeito de ter tido apenas cinco minutos de conversa com o técnico mais celebrado do planeta, Ceni disse ter aprendido bastante com ele. Além da proximidade, de olhar e aprender de perto o seu trabalho, o que mais agradou ao treinador do Bahia foi poder usar toda a moderna estrutura de que dispõe o City. Eles trocaram elogios publicamente.
No dia em que ficaram em Manchester, Ceni, os funcionários e os jogadores do Bahia usaram a sala da análises e desempenho do City, com direito a acesso ao sistema de imagem dos campos. Também ficaram à disposição deles o banco de dados do time inglês sobre treinos e sistemas táticos, o que influenciou as ideias de Ceni. A tecnologia e as ferramentas de que fizeram uso impactaram no modelo de jogo - ainda em construção - do treinador para esta temporada.
“Sempre tem coisas positivas, de sistema de jogo, como se joga, para tentar encaixar similaridades de jogo. É um privilégio, para todos nós, poder encontrá-lo”, afirmou Ceni, sobre o encontro com o colega de profissão. Houve esse breve diálogo em campo, e também uma outra conversa posterior entre o espanhol e o brasileiro na área interna do centro de treinamento do City, em que também participou o CEO do Grupo City, Ferran Soriano.
“Não é vergonha olhar para alguém de sucesso como Pep e aprender. Algumas vezes, temos que copiar um bom treinador e tentar colocar o mesmo estilo de jogo. Pep é uma grande influência, não só no Brasil, mas no mundo”, reconheceu o técnico do Bahia.
Ceni passou a maior parte do tempo com Juan Manuel Lillo, auxiliar espanhol de Guardiola. Eles se conhecem desde 2016, quando o brasileiro fez estágio no Sevilla, à época treinado pelo argentino Jorge Sampaoli. Naquele ano, o ex-goleiro passou seis meses visitando clubes e fazendo cursos e estágios na Europa.
“Aproveitava o tempo para conhecer metodologias e a cultura local. Você pensa que sabe tudo quando para de jogar, mas está muito distante da realidade de que tinha como jogador. Ajudou bastante em relação a sistemas de jogo, a pensar o jogo”, contou em entrevista à TNT Sports sobre o encontro os meses em que se preparou para ser técnico.
Para Guardiola, Ceni é “uma lenda”. “O que ele fez como goleiro, e eu não estou falando só das defesas, mas pelos gols que marcou, foi uma honra para mim conhecê-lo. Uma verdadeira honra”, resumiu o espanhol, eleito pela Fifa, em janeiro deste ano, o melhor técnico do mundo.
Sentimento de pertencimento e jantar no restaurante de Guardiola
Desde 2023, o Bahia faz parte do Grupo City, conglomerado mantido com o dinheiro da família real dos Emirados Árabes Unidos e que tem como principal expoente o Manchester City. Daí o motivo de o time baiano passar mais de uma semana em Manchester, nas dependências da equipe inglesa atual campeão europeia.
Em janeiro do ano passado, depois que os sócios aprovaram a venda da SAF ao Grupo City, Guardiola elogiou a parceria e cobrou um convite para conhecer Salvador. Neste ano, fez o mesmo, reforçando o desejo de passar alguns dias na capital baiana. Minutos depois da declaração, o Bahia, por meio de suas redes sociais, disse que o convite está feito.
Segundo soube o Estadão, a pré-temporada de 12 dias em Manchester, próximo a Guardiola e aos craques do City, como Bernardo Silva, De Bruyne e Haaland, trouxe, além do acesso aos modernos equipamentos do clube inglês, “sentimento de pertencimento ao grupo”, uma vez que foram muito bem tratados, contrariando a pecha dos ingleses de serem frios e retraídos.
Um dia antes de voltarem ao Brasil, elenco, funcionários e comissão técnica foram convidados a jantar no Tast – Cuina Catalana, restaurante de comida catalã que tem Guardiola como um dos sócios.
Leia também
Projeção de títulos
Turbinado com o dinheiro árabe da família real dos Emirados Árabes Unidos, responsável pelos investimentos no Grupo City, o Bahia gastou mais de R$ 100 milhões em contratações no ano passado, mas os resultados a curto prazo não vieram. O time só escapou do rebaixamento na última rodada. Em 2024, segundo o presidente do clube, o ex-goleiro Emerson Ferretti, a projeção é de que os donos da SAF invistam R$ 320 milhões para melhorar o plantel.
“A capacidade que eles têm de investimento é muito grande, e isso vai mudar o patamar do Bahia, com certeza”, disse o dirigente ao podcast PodZé, do portal BNews. Parte desse montante já foi investido. Só com os meio-campistas Éverton Ribeiro e Caio Alexandre, foram gastos quase R$ 50 milhões para tirá-los de Flamengo e Fortaleza, respectivamente.
Quando foi concluída a compra de 90% da SAF, o Grupo City fez o compromisso de investir R$ 1 bilhão em até 15 anos. Cautelosa, a projeção do CEO da SAF do clube brasileiro, Diego Aguirre, é de que o Bahia leve uma década para alcançar os resultados estipulados.
“O plano nosso é um plano de dez anos. Isso pode criar entusiasmo em algumas pessoas, mas em outras não tanto”, disse Aguirre no ano passado. “Para construir o que queremos construir, a perspectiva inicial é de dez anos”. Segundo o gestor, o plano traçado para esta temporada é levar o Bahia à Sul-Americana.
Rogério Ceni tem a certeza de que, com ou sem ele, o Bahia conquistará títulos importantes em menos tempo do que o projetado pelos executivos. “Você fazer o Bahia, em dez anos, conseguir uma Libertadores, é completamente possível. Com um ajuste ou outro, a gente consegue chegar mais alto do que o clube planeja”, acredita o treinador. “O planejamento é de dez anos. Eu não tenho esses dez anos, então quero tentar crescer um pouco mais rápido. É um projeto que me empolga”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.