Um dia após a sofrida vitória do São Paulo sobre o modesto Puerto Cabello, da Venezuela, na noite de terça-feira, a direção do clube decidiu demitir o técnico Rogério Ceni. Em comunicado oficial, o São Paulo afirmou que as portas estarão “sempre abertas para o ídolo”. Com a decisão, o técnico encerra sua segunda passagem após 18 meses sem títulos no comando do time pelo qual brilhou como goleiro.
Também deixaram o clube os auxiliares técnicos Charles Hembert, Leandro Macagnan, Nelson Simões e o preparador Danilo Augusto. “O clube agradece aos profissionais pela dedicação de todos durante o período de quase 18 meses de trabalho nesta passagem que trouxe dois vice-campeonatos como resultados esportivos mais relevantes”, afirmou o clube, em nota.
A situação de Ceni no comando da equipe são-paulina vinha se deteriorando nas últimas semanas, principalmente em razão das fracas apresentações do time no Paulistão, na Copa Sul-Americana e na rodada de abertura do Brasileirão, com derrota para o Botafogo. Nesta semana, a principal organizada do São Paulo pediu a demissão do treinador.
Na terça-feira, o time venceu o modesto Puerto Cabello com muita dificuldade, por 2 a 0, com gols marcados somente aos 40 e 42 minutos do segundo tempo, o que irritou parte da torcida tricolor no Morumbi. Ao fim da partida, Ceni foi questionado na entrevista coletiva sobre o risco de demissão. “Eu não sei (se fico), essa é uma pergunta que não pode ser feita para mim”, respondeu. “Os últimos dias são iguais aos primeiros dias, eu trabalho do mesmo jeito. Mas repito: essa é uma pergunta que não posso responder, até gostaria”, havia dito o treinador.
Mais do que ídolo, Ceni alcançou a condição de mito como jogador, com 1.237 jogos e 19 títulos, incluindo Copa Libertadores e um Mundial de Clubes, entre outras conquistas, e recordes empilhados. Continua, porém, sem conseguir brilhar no clube como técnico. Em duas passagens, entre 2016 e 2017 e agora, a partir de 2021, substituindo Hernán Crespo, ele não levantou troféus. Apenas conseguiu dois vices, o do Paulistão 2022 e da Sul-Americana, também no ano passado.
Vices, brigas e frustrações
O baixo desempenho da equipe, resultados inesperados, como a queda precoce no Paulistão para o Água Santa, a ausência de troféus e a relacionamento instável com os jogadores foram determinantes para a demissão de Ceni depois de um ano e meio no comando.
Nesta passagem mais recente, iniciada em outubro de 2021, Ceni acumulou decepções no cargo. A primeira foi a final do Paulistão de 2022, quando venceu o Palmeiras por 3 a 1 na ida, mas não sustentou a vantagem e levou 4 a 0 na volta. A torcida também lamentou a perda do título da Copa Sul-Americana, diante do Independiente del Valle, também no ano passado.
A sequência de decepções culminou com a busca frustrada pela vaga na Copa Libertadores durante o Brasileirão de 2022. Na atual temporada, o São Paulo foi eliminado pelo Água Santa nas quartas de final do Paulistão - o rival acabou ficando com o vice-campeonato, derrotado para o Palmeiras.
A demissão já vinha sendo discutida internamente. Os dirigentes esperavam melhores apresentações e resultados mais expressivos após o longo período de treinos. Na Sul-Americana, em seu último jogo, até houve vitória sobre o frágil Puerto Cabello, mas a performance foi ruim, o que fez a diretoria bater o martelo.
O grupo, de forma geral, respeitava Ceni, mas muitos jogadores não aprovavam o comportamento do treinador, que discutiu com Marcos Paulo há um mês depois que o atleta fez uma postagem com a frase “hipocrisia e simpatia é uma junção venenosa”. O atacante também havia curtido nas redes comentários críticos ao treinador e ganhou apoio dos companheiros, o que criou uma crise interna. As desavenças foram superadas, mas a permanência de Ceni ficou insustentável.
Ceni encerrou esta passagem como treinador do São Paulo com 49 vitórias, 28 empates e 29 derrotas em 106 jogos. Com a demissão, o time será treinador nesta quarta-feira pelo auxiliar técnico Milton Cruz.
Demitido pelo Flamengo no fim do ano passado, Dorival Junior é o favorito para assumir o comando técnico são-paulino. Em rápido contato com o Estadão, ele negou que tenha aceitado a proposta, mas a reportagem apurou que as negociações estão em andamento.
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