Santos começa 2025 alimentando a insegurança do torcedor após elevar expectativas

Declarações de Marcelo Teixeira sobre Neymar e Gabigol no final de 2024 causaram frisson e trouxeram frustração; agora, clube tenta corrigir rota com CEO Pedro Martins, vindo do Botafogo

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Foto do author Bruno Accorsi

Após a confirmação do adeus à Série B, o alívio do torcedor do Santos foi seguido da esperança pela construção de uma equipe forte para o retorno à elite do futebol nacional, principalmente em razão das expectativas alimentadas pelo presidente Marcelo Teixeira, que falou publicamente sobre tentar contratar Gabigol e Neymar, dupla revelada na Vila Belmiro. Iniciado 2025, o sentimento se transformou em insegurança, frente à ausência de reforços e mudanças de planos em cima da hora para a pré-temporada.

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O interesse por Gabigol não passou de um sonho. No mês de dezembro, quando Teixeira disse que havia apresentado uma proposta para contratá-lo, o atacante, em fim de contrato com o Flamengo, já estava apalavrado com o Cruzeiro. No fim das contas, o ídolo flamenguista foi anunciado pelo clube mineiro logo na virada do ano, durante os primeiros segundos de 2025.

Já o caso de Neymar ainda gera algum frisson, apesar da desconfiança. O presidente santista nunca chegou a dizer que estava contratando o astro, mas afirmou mais de uma que o clube monitora a situação e tem um plano pronto para trazê-lo de volta à Vila. “Nós temos uma ligação com a família. Monitoramos, temos um projeto concreto já conversado algumas vezes e vamos continuar acompanhando”, disse ao Estadão no início de novembro, com a Série B em reta final.

Marcelo Teixeira corrige rota após alimentar expectativas. Foto: Léo Souza/Estadão

O que frustra o torcedor santista a essa altura não é a falta de nomes do calibre de Gabigol ou Neymar e sim a ausência geral de reforços, diante de um cenário em que houve tempo para se planejar. Até agora, o único reforço certo é o zagueiro Luisão, ex-Novorizontino, que ainda não foi anunciado, mas se apresentou no CT Rei Pelé nesta sexta-feira, 3, primeiro dia de trabalhos no clube após as férias.

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O acesso para a Série A foi garantido no dia 11 de novembro. Sete dias depois, também com o título da Série B assegurado, o clube anunciou que Fábio Carille não continuaria no cargo de treinador.

Da saída de Carille à contratação do português Pedro Caixinha, ex-Red Bragantino, mais de um mês se passou. Nesse tempo, estenderam-se longas tratativas com Gustavo Quinteros, que não tiveram o desfecho esperado. Na mesma semana em que Caixinha foi anunciado pelo Santos, o Grêmio anunciou a contratação de Quinteros.

A demora para encontrar um treinador e o marasmo na janela de transferências colocaram muita pressão sobre o executivo de futebol Alexandre Gallo, demitido na sexta. Também foram desligados o auxiliar técnico Marcelo Fernandes, o preparador físico Carlito Macedo e o preparador de goleiros Arzul.

A reformulação foi liderada por Pedro Martins, que deixou o cargo de diretor de futebol do Botafogo, campeão brasileiro e da Libertadores em 2024, para se tornar CEO do Santos no final de dezembro. O posto era ocupado por Paulo Bracks, que foi mantido no clube, mas como diretor geral.

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Correção de rota

Trazer Martins, apontado pelo próprio Botafogo como “peça importante na liderança do sucesso esportivo” do clube carioca, foi uma sinalização de Teixeira à torcida de que há esforços para a profissionalização da gestão santista.

De qualquer forma, a percepção de que tempo foi perdido e o planejamento está atrasado continua, até porque o Paulistão começa mais cedo - dia 16 de janeiro para o Santos, em duelo com o Mirassol -, por causa da pausa que haverá no calendário do futebol entre junho e julho para o novo Mundial de Clubes. Com a correção de rota, a possível chegada de contratações de impacto deixa de ser um tema em debate público para a diretoria alvinegra.

“Todas as contratações que estão sendo debatidas estão dentro do orçamento do clube. Desde a minha chegada, eu venho procurando entender junto com o presidente Marcelo Teixeira o orçamento disponível”, disse Pedro Martins em coletiva. “Todo clube voltando da Série B participa de um processo de reconstrução, que tem impacto no fluxo de caixa. O plano que a gente está fazendo para a janela de transferências contempla o que vai ser gasto com a possibilidade de ter 28 atletas como folha salarial e o que vai ser gasto como investimento para a chegada de jogadores.”

Pedro Martins e Pedro Caixinha, CEO e técnico do Santos, respectivamente. Foto: Bruno Vaz/Santos FC

A chegada do CEO também implicou em mudanças na pré-temporada. O clube participaria da Orlando Cup, na Flórida, onde o enfrentaria o Miami United no dia 11 de janeiro e o Fortaleza no dia 14, um dia antes da estreia no Paulistão. Por isso, jogaria as primeiras rodadas do estadual com um time alternativo. Pedro Caixinha desaprovou a logística e pediu que o time não fosse aos EUA.

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O Santos anunciou, em 28 de dezembro, duas semanas antes da participação na Orlando Cup, que não disputaria mais o torneio porque a participação perdeu o sentido na avaliação da nova comissão técnica e por causa da “redução da qualidade técnica” do evento após a troca de um dos times participantes. A mudança foi a saída do colombiano Atlético Nacional para a entrada do local Miami United. Outra situação que incomodou foi a ausência de transmissão do evento para o Brasil tanto pela TV quanto por streaming. A desistência irritou a organização do evento.

“A gente fez algumas outras mudanças que buscam colocar o Santos dentro de uma nova mentalidade, dentro de uma nova forma de ser gerido. É importante ressaltar que a gente teve de fazer algumas correções e ajustes de rota dentro do planejamento. Primeiro, a partir do momento em que a gente escolha o Pedro Caixinha como treinador, a gente muda um caminho que o clube vinha buscando e vinha trabalhando. Depois disso, a gente também muda a maneira como a gente opta por fazer a pré-temporada”, justificou Martins.

Quem sai e quem vem?

Sem anunciar nenhum reforço até agora, o Santos já concretizou algumas saídas. O meia venezuelano Otero, importante no acesso, não estava nos planos de Caixinha e foi anunciado pelo Nacional, do Uruguai. Líder do elenco no ano passado, Giuliano negocia a rescisão e não se apresentou no CT Rei Pelé nesta sexta.

Os meias Billy Arce e Serginho, o volante Alisson, o goleiro Renan e os atacantes Nacho Laquintanna e Pedrinho já estão fora. Ainda vinculados ao clube, Sandry, Vinícius Balieiro e Rodrigo Ferrira devem ser emprestados. O zagueiro Jair está na mira do Botafogo, em negociação ainda sem resolução. Por outro lado, Soteldo e Lucas Braga voltaram de empréstimo e se reapresentaram, mas não são vistos como inegociáveis. Aos 37 anos, o zagueiro Gil renovou contrato até dezembro.

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“Alguns jogadores já têm propostas, que estão sendo avaliadas para conseguir contemplar o que entrar de recurso para o Santos, o que a gente consegue aliviar da folha e o que a gente consegue fazer com a sobra de recursos que vai ter disponível. A gente está tratando caso a caso. Falar do elenco definitivo do Santos ainda é precoce. O elenco que a gente tem hoje não é o elenco definitivo do Santos, vão acontecer algumas mudanças ainda”, garantiu Pedro Martins.

Entre os nomes cotados para reforçar o time do litoral paulista, destacam-se Thaciano, do Bahia, e Thiago Maia, do Internacional. Também há interesse em jogadores do Botafogo que poderiam ser envolvidos em uma possível ida de Jair para o Rio. Os cogitados são Tiquinho Soares, Danilo Barbosa e Lucas Halter.

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