O Santos garantiu matematicamente o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro nesta segunda-feira, 11. A equipe praiana derrotou o Coritiba, por 2 a 0, no Couto Pereira e voltou à primeira divisão com duas rodadas de antecedência. Bem-humorado, Marcelo Teixeira recebeu a reportagem do Estadão na sala da presidência, na Vila Belmiro, em Santos.
Pelos corredores, funcionários cumprimentavam Juary, campeão Paulista pelo clube, em 1978, e autor do gol que deu a Champions League ao Porto, em 1987. Apesar da visita do ex-jogador, outro “menino da Vila” foi assunto na conversa com o mandatário: Neymar. Com os rumores de que o atacante pode ter o contrato rescindido com o Al-Hilal, da Arábia Saudita, foi inevitável questionar ao dirigente se o clube planeja repatriar o craque de 32 anos caso ele fique livre no mercado.
“Não posso criar expectativas enquanto não tivermos com a definição das competições de 2025. Não podemos fazer também conjunturas de hipótese. ‘Se’ ele rescindir, ‘se’ ele ficar livre (no mercado)... Nós temos uma ligação com a família. Monitoramos, temos um projeto concreto já conversado algumas vezes e vamos continuar acompanhando”, iniciou. “Não é momento para o Santos fazer qualquer tipo de precipitação. Estando em 2025 na Série A do Campeonato Brasileiro, aí, logicamente, tudo se modifica em relação à receitas e projetos que o clube tem em curso. Mas, trazer qualquer tipo de esperança nesse sentido mexe demais não só com o Santos, mas com o futebol brasileiro. Tudo dentro do seu momento.”
Além de Neymar, o presidente falou sobre o seu primeiro ano de mandato nesta terceira passagem à frente do Santos, a qual ele avalia positivamente. Ele também falou sobre categorias de base, reformulação para 2025, as obras da Vila Belmiro, além de outros temas quentes no futebol nacional, como SAF e Fair Play Financeiro.
Quais foram os principais os principais avanços do clube nesse seu primeiro ano de gestão?
Acredito que o resgate da profissionalização. Assumimos com receitas comprometidas, com apenas dois campeonatos a disputar (Série B e Paulista), em um orçamento que foi feito em 2023 que previa Copa do Brasil, uma competição Internacional e o Campeonato Brasileiro da Série A. Toda previsão orçamentária feita em para 2024 é maquiagem e ainda tivemos antecipações. Fomos criando alternativas de novas receitas, isso foi fundamental.
Nós também tínhamos como meta reformular o departamento de futebol profissional, limpar o elenco marcado pelo descenso para ter um outro para o Estadual. Em 15 dias, negociamos praticamente 20 jogadores, e outros 20 foram para a disputa do Paulista — e por pouco não ganhamos. Acredito que uma grande vantagem foi exatamente nós mostrarmos que os o cartão postal era de que o Santos volta a ser um protagonista do campeonato. Na Série B tivemos certa dificuldade de adaptação, e mesmo assim os objetivos continuaram sendo alcançados.
Vamos planejar 2025 com um outro orçamento, outra receita. Pedimos ao Conselho Deliberativo a prorrogação da entrega da previsão orçamentária para 2025. Por quê? Porque nós íamos maquiar de novo, e não é essa a intenção. Queremos fazer uma gestão transparente, com números mais factíveis e reais.
Fora de grandes competições e com uma dívida considerável, o Santos vai conseguir fechar o ano com as contas em dia?
Nós conseguimos o superávit até o primeiro semestre, com as receitas oriundas desse período. Já no segundo tivemos um pouco mais de dificuldade. Não em termos de cumprir com nossas obrigações, porque todos os salários e impostos estão em dia, mas não tivemos a oportunidade de vender jogadores. Tínhamos proposta de alguns atletas mais jovens, mas priorizamos não negociá-los na janela do meio do ano, apostando em valorizar esse ativo para o futuro. Naturalmente se tivéssemos uma venda ao mercado internacional, com certeza o Santos fecharia 2024 com superávit. Até porque adequamos as nossas despesas radicalmente. A folha de pagamento do futebol profissional foi cortada pela metade, por exemplo.
O Santos acabou fora da Copa do Brasil por causa da nova regra da CBF de classificação via Estadual. Agora, é o Corinthians quem corre risco de ficar fora. Acha que a entidade deveria rever o regulamento?
É uma obrigação dos clubes, principalmente os quatro grandes de São Paulo (terminar entre os primeiros no Estadual). Então acredito que ainda seja um critério interessante priorizar um Estadual visando a Copa do Brasil. É o caminho mais curto para a Libertadores, e mais rentável no aspecto financeiro. É a principal competição do País sem sombra de dúvida. O campeão ganha quase R$ 100 milhões em premiações, e R$ 70 milhões o vice. Os clubes precisam dar prioridade de estarem sempre disputando essa competição.
O Santos demorou a engrenar na Série B. Apesar de quase sempre estar no G-4, a torcida se incomodou com as oscilações do time. Acredita que houve uma cobrança exagerada?
Creio que não. O torcedor do Santos quer ver espetáculo, um time sempre ofensivo e se apresentando bem, independentemente de onde estiver. Nós, como gestores, reconhecemos as dificuldades e sabemos dos problemas, mas o torcedor que está ali e paga seu ingresso, quer ver espetáculo. É interessante porque é o futebol sempre foi e será o carro-chefe do clube, porém, hoje, o torcedor mistura um pouco o que é uma gestão com apresentação do time, mas nós estamos muito conscientes também de que o próprio Conselho o quadro associativo vêm acompanhando esse trabalho
A gestão é de sucesso, comprovadamente pelos números pelos resultados e pelos objetivos alcançados. A parte da paixão vem ao encontro da apresentação do time em campo. A da razão, mostra que o clube está no caminho certo, mesmo diante das pressões. Não vamos fazer demissões precipitadas, de forma irresponsável, para onerar ainda mais o cofre do clube. As medidas que estão sendo tomadas são coerentes para o atual momento do Santos.
O Carille foi especulado no Corinthians durante a campanha na Série B. Ele acabou sendo muito criticado pela torcida depois disso. Chegaram a trabalhar com a hipóteses de perder o treinador?
O único momento que nós aventamos essa possibilidade foi quando o próprio profissional começou a dar uma impressão de que ele pudesse se transferir. Naquela oportunidade ficamos um tanto receosos de que pudesse haver um rompimento do contrato, mas lidamos bem. Naturalmente continuamos a prestigiar o trabalho na busca do principal objetivo, que é o acesso.
O Santos tem um perfil de elenco bastante experiente. Pretendem fazer grandes reformulações para 2025?
Ao terminar (a Série B) nós teremos tempo suficiente para fazer uma avaliação de 2024. Uma avaliação diferente da que nós fizemos em 2023, de reformular totalmente o elenco em 15 dias. Não acreditamos que haja a necessidade de uma reformulação como foi feita lá atrás. Nós temos uma base e atletas que podem compor o elenco, mas naturalmente pretendemos dar uma qualidade e força maior a esse grupo visando o próximo ano. Até porque não é apenas ter qualidade, mas um pouco mais de quantidade porque vamos disputar mais competições.
A torcida cobrou bastante um maior uso de atletas da base em 2024...
Pretendemos continuar promovendo o lançamento de atletas da base. Diferentemente deste ano, em que tivemos uma cautela, em 2025 será diferente.
Marcelo Teixeira, presidente do Santos
Acredita no Santos voltando a revelar jogadores como Neymar e Rodrygo em breve?
Será uma tendência natural, até pela filosofia implementada nas categorias de base em janeiro de 2024. Em 2000, 2001, eu tinha atletas que eram questionados pela torcida. “Fora Elano! Fora Renato! Fora Paulo Almeida”. Os jovens iam sendo lançados, havia uma cobrança grande pelos 20 anos sem título, e os jogadores oscilavam. Isso criava uma expectativa de que eles não poderiam dar continuidade. Mas resistimos, sabíamos que estávamos fazendo, e dois, três anos depois, eles provaram que o Santos estava fazendo um trabalho correto.
Neste momento, queremos preservar esses talentos. Este ano foi totalmente atípico. O torcedor está ferido pela queda na Série B. A aceitação e a tolerância em 2025 será melhor em relação ao lançamento de jogadores. A cobrança será igual, porque o torcedor quer vitórias e títulos, mas o clube vai mostrar em uma crescente em busca de se consolidar entre os grandes do futebol brasileiro.
Quando vão iniciar as obras na Vila Belmiro?
Recebemos essa semana o documento da WTorre. Ele já foi revisto pelos dois escritórios, agora a tendência é de que a direção faça a reunião específica com nosso escritório para dar uma nova avaliada e botar em prática os prazos anunciados.
Se em janeiro o Pacaembu ainda estiver indisponível, há chance de algum outro estádio na capital ser utilizado como a casa do Santos?
Pois é, temos esse entrave... Temos uma abertura boa com o Palmeiras no Allianz, e uma relação estreia com o Augusto, no Corinthians, e o Casares no São Paulo. Mas a finalidade não é jogar de vez em quando nesses estádios. Precisamos ter um local próprio para jogar na capital. Nós queremos e vamos atuar no Pacaembu quando ele estiver pronto, mas a demolição e construção da nova arena depende do fim das obras do Pacaembu.
Devemos continuar tendo jogos na Vila Belmiro até o Pacaembu ser liberado então?
Com certeza. E nós não faremos nada em termos de projeções. As atividades que estão previstas é no próprio esboço do calendário apresentado pela WTorre.
Você já disse ser favorável às SAFs. Como o clube avalia o tema internamente?
O Conselho do Santos está fazendo uma mudança estatutária. Na última reunião, a nosso pedido junto à comissão estatutária, foi feito o convite para que é um escritório eu pudesse fazer uma exposição sobre SAFs. Foi uma reunião muito importante para os conselheiros entenderem o momento do tema no Brasil. Foram feitas várias ponderações, lógico, todas no aspecto favorável à implementação da SAF. É uma tendência, uma questão de tempo.
Meu compromisso com o quadro associativo é gestão, para o Santos se recolocar, se reconstruir e, ao mesmo tempo, se reposicionar no mercado, com uma valorização da marca. Porque se você tá embaixo, naturalmente não terá uma valorização do que representa o Santos. Então, não é o Marcelo, nem o Conselho. É o quadro associativo, que são os verdadeiros proprietários do Santos, que vão decidir se querem ou não fazer a opção de avançar nessa etapa.
Existem diferentes entendimentos no País sobre o que é o Fair Play Financeiro. Qual sua opinião sobre o tema?
É fundamental, é imprescindível (a implementação do Fair Play Financeiro. Não é por uma questão de ter mais ou menos dinheiro. É sobre ter responsabilidades como futebol brasileiro. Queremos fazer no Brasil um plano de revelação de talentos que faça com que, de fato, o País volte a sua essência. Não se pode ter uma irresponsabilidade de dirigentes que queiram resultados imediatos para justificar se é SAF ou não, ou se tem gestão de sucesso ou não.
O interessante é: depois de cometido um crime ou uma irresponsabilidade financeira, de que forma vai estar o clube daqui a dois ou três anos de resultados conquistados imediatamente. É necessário ver quanto o clube gasta, como tem arrecadado, e de que forma tem em gastado o seu no seu orçamento. Tem clubes hoje que são SAFs de sucesso, porque conseguiram aumentar sua receitas e controlar despesas por meio de gestões. A responsabilidade dos números que os clubes estejam colocando no mercado nacional deve ser fundamental, não apenas para individualizando um clube, mas naquilo que é importante para o futebol brasileiro.
Ainda crê nos clubes se organizando por uma liga unificada no futuro?
Eu farei o possível por isso. O Santos já faz uma participação. Só para ter uma ideia, o Santos tinha os seus direitos garantidos de cotas de televisão do Campeonato da Série B. Faltando dez dias para começar a competição, os outros 19 clubes não tinham asseguradas as suas cotas. A gente foi à CBF e fizemos uma liderança junto à Globo, outros veículos de comunicação, junto à Brax no caso das placas de publicidade... Isso para os outros clubes terem receitas para honrar seus compromissos.
Nossa participação na Libra hoje também tem este intuito. As discussões são para aumentarmos o número de clubes no bloco, melhorarmos as receitas a esses clubes, e possibilitar a união entre todos os times. O futebol brasileiro precisa ter uma linha construtiva, cada qual com a sua realidade, no seu patamar, mas todos unidos. O produto é único.
Começamos discutindo distribuição de cotas e vantagens. Se construíssemos uma liga independente, e depois discutíssemos direitos, a tendência talvez era de ter uma liga unificada. Mas, acho que estamos caminhando para um momento de consenso entre Libra e LFU. Essa é uma esperança minha e vou utilizar a experiência que eu tenho para que a fortalecermos uma entidade com os direitos de cada um dos clubes.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.