O atacante Sébastien Haller, 28 anos, sentiu-se mal após um treinamento de pré-temporada do Borussia Dortmund na última segunda-feira e exames diagnosticaram a existência de um tumor em seu testículo. O caso não é inédito entre os atletas, mas não tem ligação com a atividade física, tendo incidência em outros fatores, como a genética, infertilidade, histórico familiar e idade, mais predominante entre os 20 e 34 anos. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), 5% do total de casos de câncer no homem correspondem ao testículo.
“Atinge o homem no auge de sua vida sexual, reprodutiva e de sua capacidade de trabalho, e causa um grande impacto em sua qualidade de vida e em seu entorno. A ótima notícia é que, com o avanço em tratamentos como quimioterapia e cirurgias, o câncer de testículo apresenta mais do que 95% de chances de cura nas fases iniciais”, informa o médico Stênio Zequi, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C. Camargo Cancer Center.
Considerado raro, o caso de Haller tem tratamento cirúrgico, com a retirada de um fragmento ou até a remoção total de um dos testículos. Foi o que aconteceu com Jean Pyerre, em fevereiro deste ano. O ex-jogador do Grêmio voltou a exercer sua profissão três meses depois e hoje defende o Avaí no Campeonato Brasileiro.
“Depende muito de jogador para jogador, mas é uma situação curável. O jogador costuma retornar normalmente em alguns meses”, declarou Julio Stancati, médico do Corinthians. “Aqui no clube nunca tivemos um caso assim. Nós realizamos exames hormonais e indicando alguma alteração é necessário checar essas outras possibilidades com mais exames.”
A relação do câncer testicular com a utilização de anabolizantes ou estimulantes de performance esportiva também é um fator a ser considerado e apontado como relevante pelos especialistas ouvidos pela reportagem. Lance Armstrong, campeão do Tour de France por sete vezes consecutivas, teve o caso diagnosticado no início de sua carreira e anos mais tarde perdeu suas conquistas após investigação e comprovação de que utilizava anabolizantes frequentemente.
Há outras ocorrências no esporte, que não tiveram relação comprovada com o uso de drogas de desempenho. Arjen Robben passou pela cirurgia aos 20 anos de idade, quando havia acabado de trocar o PSV pelo Chelsea, e seguiu normalmente com sua carreira, se tornando ídolo no Bayern de Munique. O brasileiro Nenê também continuou atuando na NBA após o procedimento cirúrgico e quimioterapia.
“Em 44 anos de futebol, nunca (tive um caso similar). Ederson, na época no Flamengo, estava tratando uma lesão comigo, aí foi para o Rio continuar por lá e teve o tumor diagnosticado. Mas graças a Deus nunca peguei um caso desses”, conta o Joaquim Grava, ex-médico do Corinthians e da seleção brasileira. Ederson, meia-atacante que também teve passagens pelo Lyon e Lazio, além do rubro-negro carioca, aposentou-se em 2018, um ano após o câncer diagnosticado. No entanto, o problema no joelho foi o motivo que o levou a pendurar as chuteiras.
Haller foi afastado da pré-temporada do Borussia na Suíça para focar em seu tratamento, mas tem a expectativa de retornar aos gramados para defender o clube alemão e a seleção de Costa do Marfim em breve. O camisa 9 foi contratado por 33 milhões de euros (cerca de R$ 183 milhões) junto ao Ajax para substituir Erling Haaland, vendido pelo time de Dortmund ao Manchester City por 60 milhões de euros (aproximadamente R$ 333 milhões). Haller anotou 11 gols na última Liga dos Campeões pelo Ajax e alcançou a terceira posição na artilharia, atrás somente de Lewandowski, do Bayern e hoje no Barcelona, com 13 gols, e Benzema, com 15.
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