Sem torcedores e interesse: Copa do Mundo feminina ainda não embala em cidade onde o Brasil estreia

Seleção brasileira está em Adelaide, na Austrália, para jogo contra o Panamá, mas não vê grande movimentação nas ruas e engajamento dos locais

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Por Fernando Valeika de Barros

A Copa do Mundo feminina de 2023 começou com o objetivo de quebrar recordes. Pela primeira vez, foi organizado com 32 seleções, em um continente inédito – a Oceania – e em dois países, Austrália e Nova Zelândia, ou seja, as expectativas são altas. Em Adelaide, onde a seleção vai estrear nesta segunda-feira, 24, contra o Panamá, no entanto, apenas a pequena colônia brasileira da cidade fazia algum barulho perto do hotel onde as atletas e a comissão técnica estão concentradas.

Na véspera da partida, não havia um único torcedor vestido com a camisa amarelinha pelas ruas. E, entre os locais, pouca gente estava interessada no duelo. Muita gente, na verdade, sequer sabia da existência do jogo e muito menos de uma Copa do Mundo de Futebol da Fifa rolando na cidade.

Seleção brasileira feminina treina antes de estreia na Copa do Mundo de 2023, contra o Panamá. Foto: Aisha Schulz/AP Photo

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A população estava, na verdade, animada com a partida entre Collingwood vs Port Adelaide, pela AFL, uma espécie de futebol americano em versão australiana que colocou 47.965 torcedores nas arquibancadas do estádio Oval, outra arena esportiva da cidade. Muitos dos que não puderam ir trataram de acompanhar pela tela do celular. E as ruas estavam cheias, mesmo debaixo de uma chuva fina e frio de 7° C. O Mundial de 2023 pode até embalar, mas para um evento que prometia eletrizar a Oceania, ainda falta um longo caminho.

Em um momento em que o futebol feminino está crescendo, com campeonatos cada vez mais bem organizados aos olhos dos dirigentes da FIFA, esta competição deveria ser o marco de uma virada, com estádios lotados, muitos gols e festa nas dez cidades que estão organizando os jogos.

”O futuro é das mulheres e este será o maior Mundial feminino de todos os tempos”, disse o suíço Gianni Infantino, às vésperas da abertura, que teve jogos na australiana Sydney e na neozelandesa Auckland, separadas por cerca de três horas de viagem de avião.

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Ponto de ônibus com cartaz da seleção de futebol feminino da Austrália, no centro de Sydney. Foto: Fernando Valeika de Barros

No primeiro dia, tudo correu bem , com 42.137 e 74.784 espectadores nas arquibancadas do Eden Park, em Auckland, e no Estádio Olímpico de Sydney, respectivamente. Logo de cara, foram pulverizados os recordes de público para jogos de futebol feminino na Nova Zelândia (que antes era de 12.721 pessoas no amistoso da seleção local contra os Estados Unidos, em janeiro deste ano) e na Austrália (59.629 torcedores compareceram ao amistoso contra a França, em Melbourne, seis dias antes da estreia no Mundial).

”Foi uma noite épica, com mais de 100 mil torcedores assistindo a dois jogos na primeira Copa do Mundo (feminina) disputada no Hemisfério Sul”, disse a neozelandesa Sarai Bareman, diretora de futebol feminino da FIFA. A promessa é de bater a marca de 1,4 milhões de ingressos vendidos da Copa do Mundo do Canadá, em 2015.

Para melhorar, também houve quebra de recordes de audiência na televisão: segundo a Sky, que transmite os jogos na Nova Zelândia, 39,2% dos aparelhos do país estavam ligados na vitória por 1 a 0 das neozelandesas sobre a Noruega. Na Austrália, 46% reproduziam o jogo de estreia da seleção feminina do país no estádio Olímpico.

O sucesso continuou, por exemplo, na última sexta-feira, 21, no Eden Park, quando cerca de 41.000 pessoas foram a Auckland assistir os Estados Unidos vencerem o Vietnã por 3 a 0. No sábado, o público voltou a ser alto nas arquibancadas do Suncorp, em Brisbane, para assistir a Inglaterra derrotar o Haiti por 1 a 0: 44.369 presentes - o recorde para uma partida de futebol feminino na cidade. No entanto, em outros locais, o cenário bem diferente, com partes vazias e público mais modesto. Em suma, o interesse apresenta variações.

Sam Kerr, craque da seleção australiana, estampada em outdoor em Sydney. Foto: Fernando Valeika de Barros

No jogo em que a Dinamarca ganhou da China, por 1 a 0, no Perth Rectangular, a audiência foi de pouco acima das 17.000 pessoas, ou seja, não ocupou todos 20.000 lugares. Situação parecida aconteceu no estádio Forsyte Barr, em Dunedin, na Nova Zelândia, onde havia exatos 13.711 torcedores para assistir Suíça e Filipinas, sendo que a capacidade é de mais que o dobro.

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E tudo isso com uma ação do torneio para atrair público: a distribuição de ingressos gratuitos. Essa solução foi repetida, também, nos primeiros jogos em Wellington e Hamilton e se repetirá na partida entre Noruega e Filipinas, em Auckland. Parte disso foi possível pela participação da empresa de auditoria Xero, uma das patrocinadoras oficiais da competição, que ofereceu 20 mil entradas gratuitas para jogos em todas as sedes neozelandesas.

Para a primeira rodada, por exemplo, foram 5 mil em cada uma das três sedes envolvidas na promoção. ”Foi a nossa forma de dar aos nossos torcedores a experiência de acompanhar atletas fantásticas”, diz Valerie Walshe, diretora de marketing da organização.

Fachada de prédio em Sydney com a jogadora da seleção australiana Caitlin Foord. Foto: Fernando Valeika de Barros

Mesmo na Austrália, onde o Mundial parece ter embalado, não é exagero dizer que, em muitas cidades, ainda é um evento que ainda não contagiou os locais. Anda que outdoors da atacante australiana Caitlin Foord estejam estampados em arranha-céus na maior cidade do país e centenas de cartazes de Sam Kerr, a craque do time, espalhados nos dias de jogos, a maioria das pessoas continua sem muito interesse na Copa do Mundo feminina.