O jornalista argentino Pablo Aro Geraldes não só gosta de camisas de futebol. Ele é daqueles que ama tanto que decidiu fazer da paixão de infância um estilo de vida. Desde criança, o universo dos mantos o encantou, e não só os da Argentina que ele ganhava dos pais e sim, de outros países, que, ao longo de 35 anos de colecionismo, o fez ser uma das pouquíssimas pessoas no mundo a reunir as 211 camisas das seleções atualmente pertencentes à Fifa.
Pablo conta que, tirando a Argentina, o primeiro uniforme da outra seleção que teve foi o usado pela França na Copa de 1986. “Sempre amei aquela camisa azul com o galo dourado. Depois consegui a da Holanda na Euro de 1988, a da Alemanha da Copa de 1990 e a partir daí, pensei comigo: será que não posso ter todas as camisas de seleções do mundo.”
Falar isso em 2022 parece fácil, com todo o aparato tecnológico à disposição e facilidades de encontrar uniformes pela internet, seja em sites de vendas online e grupos. Agora imagine começar uma coleção dessas no fim dos anos 1980. A única maneira para tentar acessar itens mais difíceis era enviando uma carta, como Pablo costumava fazer para revistas de futebol de vários países e federações atrás de novas camisas.
INTERNET BOLEIRA
O acesso à internet, nos anos 1990, ajudou o jornalista argentino a conseguir mais contatos em busca de novos itens para a coleção. Pablo também pontua que as três principais fornecedoras de material esportivo, a Adidas, Nike e Puma, produziam as camisas das principais seleções, como México e Espanha, e não havia dificuldades em comprá-las. A dureza, segundo ele, era acessar os mantos que vestiam países da Ásia, África, Oceania e até mesmo, pequenos países europeus, como Gales, que disputou a Copa do Catar, e do Caribe.
Por trabalhar no segmento esportivo, o colecionador conseguiu ampliar a rede de contatos com federações de futebol, outros colecionadores e, jogadores, que puderam ajudá-lo em intercâmbios e a conseguir novas camisas, algumas bastante raras e difíceis de encontrar até no país de origem. “As que deram trabalho para encontrar foram a de Myanmar, Burundi, Liechtenstein e das Ilhas Virgens Britânicas. E só em 2018, no ano em que trabalhei na Copa da Rússia ao lado de Diego Maradona como produtor dele em um programa de TV, consegui a camisa número 211 da coleção: a do Azerbaijão.”
Fora a coleção dos membros da Fifa, Pablo ainda possui cerca de 50 camisas de outras seleções curiosas, como as da Groenlândia, Chipre do Norte, apenas reconhecido pela Turquia, Curdistão, Lapônia e Catalunha. Ele conta que comprou a maioria, mas que também gosta de trocar e muitas vezes, ganha como presente de amigos. “Todo mundo sabe do meu amor por camisas de futebol. Então, quando querem me dar um presente, sempre escolhem de alguma seleção”.
VIVÊNCIAS COM SORÍN NO CATAR
Pablo está no Catar a trabalho, produzindo o programa Zurda Infinitiva, uma homenagem ao programa De Zurda (de canhota) que ele fez junto com Maradona tanto na Copa do Brasil quanto da Rússia. E para o projeto da Telesur, pensou no nome de Juan Pablo Sorín por ser uma figura carismática no meio do futebol, além de ter sido o capitão da seleção argentina e conquistado o mundial juvenil, em 1995, coincidentemente em terras catarianas. O fato de ele ter experiência na imprensa, como no tempo em que foi comentarista na ESPN Brasil, pesou. “Além disso, sua proximidade com os jogadores de sua geração possibilita o alcance de nomes que o jornalismo dificilmente consegue acessar. Tanto ele quanto o jornalista uruguaio Victor Hugo Morales formam uma excelente dupla.”
Nos momentos em que não está produzindo e atrás da cobertura da Argentina, que decide o título com a França, o jornalista tenta fazer trocas com algumas camisas argentinas e de outros países latinos que participaram do torneio que trouxe na mala. E também circular por Doha atrás de futebol e mais itens para a coleção, que ganhou mais modelos do Senegal, Irã, Arábia Saudita e Catar.
O fato de ter trazido algumas camisas curiosas da coleção também espantou alguns dos imigrantes que vivem no Catar, especialmente pelo fato de uma pessoa de longe conhecer e possuir uniformes de países que nunca estiveram em uma Copa do Mundo, como o Sri Lanka e a Índia. “No hotel em que estou hospedado, há muitos trabalhadores do Sudeste Asiático e eles se alegram em ver suas cores e eu gosto do intercâmbio e desse clima de fraternidade entre os povos que o mundial proporciona.”
Sobre a final, que pode fazer a camisa que Pablo mais ama das 211 ser tricampeã da Copa, ele diz que o título, em um momento de forte divisão política na Argentina pode ser um sinal de que a união é possível quando há um objetivo comum. “Seria a felicidade comum de todos os argentinos e o ápice de um processo futebolístico que respeitou as raízes de um estilo e a coroação da carreira do Messi.”
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