Sindicato e ligas europeias se reúnem contra a Fifa por calendário: ‘Está abusando do poder’

Reclamação sobre condições físicas, mentais e desgaste de atletas levanta possibilidade de greve caso entidade continue a aumentar número de competições

PUBLICIDADE

Por Estadão Conteúdo

A Fifa está em rota de colisão com as principais ligas da Europa e do Sindicato Internacional de Jogadores (Fifpro). Em reunião nesta segunda-feira, em Bruxelas, na Bélgica, ocorreu um contragolpe forte contra o “abuso de poder” da entidade na luta contra o inchaço cada vez maior do calendário. Uma greve geral já anda sendo especulada caso a responsável por organizar o calendário do futebol na Europa não pare de aumentar suas competições, esquecendo das condições físicas e mentais e do desgaste dos atletas, apenas visando lucro.

PUBLICIDADE

“Nossa queixa para a Comissão Europeia é clara: a Fifa está abusando de seu poder de ditar o calendário de jogos internacionais e expandir suas próprias competições - e, assim, aumentar suas próprias receitas”, disparou David Terrier, presidente da Fifpro na abertura da coletiva de imprensa desta segunda-feira após as ligas concordarem, por unanimidade, que o calendário imposto é humanamente impossível de ser respeitado.

A bronca vem com a criação do Mundial de Clubes com 32 equipes a partir de 2025, assim como o maior número de rodadas da Liga dos Campeões e a ampliação da Liga das Nações de seleções — a Copa do Mundo já aumentará de 32 seleções para 48 a partir de 2026. Jogadores iniciaram a reclamação dias atrás e o movimento cresceu a ponto de ameaçarem cruzar as pernas enquanto a entidade não voltar atrás nas decisões.

Taça do Mundial de Clubes da Fifa. Criação de novo torneio é motivo de reclamação por parte de atletas.  Foto: Fifa/Divulgação

“O calendário internacional de futebol saturado coloca em risco a segurança e o bem-estar dos jogadores e ameaça a sustentabilidade econômica e social de importantes competições nacionais que são apreciadas há gerações pelos torcedores na Europa e em todo o mundo”, protestou a Fifpro e as Ligas Europeias.

Publicidade

A queixa foi apresentada hoje na Comissão Europeia contra a Fifa sobre “sua conduta em relação à imposição do calendário internacional de partidas, incluindo decisões relacionadas à Copa do Mundo de Clubes de 2025.”

Na cobrança, pedem revisão no calendário contra um “futebol insustentável” e citam que a Fifa pense nos jogadores, em relação a “sua saúde, bem-estar e longevidade de carreira.”

Executivos da FIFPRO e das Ligas europeia apresentaram os detalhes da reclamação descrevendo como a Fifa mantém papéis conflitantes como órgão regulador e organizador de competições, o que dá origem a um conflito de interesses. “A Fifa usou seu poder regulatório para promover seus interesses comerciais às custas dos parceiros sociais (jogadores e ligas).”

“Está chegando a um ponto crítico. O feedback que temos dos jogadores é que há muito futebol sendo jogado e há uma expansão constante. A Premier League não mudou de forma. O que mudou nas últimas décadas foi a marcha das competições internacionais e regionais de futebol”, disparou Richard Masters, CEO da Premier League, organizadora do Campeonato Inglês.

Publicidade

“A Serie A, como quase todas as outras Ligas Europeias, nos últimos 20 anos não aumentou o número de jogos. Pelo contrário, a Fifa e a Uefa, ciclo após ciclo, aumentaram constantemente o tamanho de suas competições para clubes e seleções nacionais e agora chegamos a um ponto de saturação no calendário”, admitiu Luigi De Siervo, CEO da Liga Italiana. “O problema do calendário sobrecarregado não é causado pelas competições da liga, mas pela Fifa, com seu novo formato e duração dos torneios, e pela Uefa com a Liga das Nações e as novas competições de clubes da Uefa com o aumento do número de datas e jogos.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.