O período de uma década na Inglaterra e Espanha como jogador, a experiência que teve como auxiliar de Roberto Mancini na Itália e o tempo - mesmo que curto - no comando do Lyon, da França, permitem que Sylvio Mendes Campos Junior, o Sylvinho, se defina como um técnico internacional.
Aos 48 anos, o treinador, agora, vive um novo desafio na Europa: treinar a Albânia, seleção que ocupa o 66º lugar no ranking da Fifa. “Quando aceito o convite da Albânia, percebo que eles estão buscando um treinador internacional”, diz. No comando da seleção balcânica, a meta principal é conduzi-la à Eurocopa de 2024, na Alemanha.
“Nós temos um contrato de um ano e meio. Levar a Albânia à Euro é o objetivo”, ratifica o treinador ao Estadão. “Entendemos que é uma seleção sem resultados expressivos, mas que quer crescer e está crescendo. Sou criterioso nos meus convites”, justifica, sobre sua escolha de aceitar dirigir uma equipe nacional de pouca expressão, mas onde pode encontrar paz para trabalhar, o que lhe faltou no Corinthians, por exemplo.
“Estou buscando meu espaço. Seja no Brasil, no Japão, Austrália, Estados Unidos. Foram cinco anos para terminar o curso da Uefa. Perdi férias importantes”, afirma ele, integrante, segundo considera, da safra de jovens e bons técnicos brasileiros. “Temos treinadores bons, importantes, que sabem trabalhar, são promissores e estão buscando seu espaço. Fico feliz de estar no meio deles”.
Durante quase uma hora de conversa por vídeo com a reportagem, Sylvinho mostrou orgulhoso parte da estrutura da Federação Albanesa de Futebol em Tirana, capital do pequeno país banhado pelo mar Adriático, do outro lado do qual se encontra a Itália, e situado na península balcânica. A nação de menos de 3 milhões de habitantes tem forte influência italiana. Boa parte dos albaneses se comunicam em italiano, o que ajuda o treinador brasileiro, visto que ele é fluente no idioma.
“Mas o albanês vai ser ouvido por aqui”, pondera. “Até 100% dos atletas podem se comunicar em italiano ou em inglês muito bem, mas nós vamos ter tradução para o albanês. É uma obrigação”. No entanto, ele não vai aprender a língua oficial do país. “É uma das mais difíceis do mundo”, justifica.
Ao contrário do que fizeram os últimos treinadores, geralmente baseados na Itália, Sylvinho escolheu morar em Tirana. São poucos minutos de sua casa até o prédio da federação, onde ele e Doriva, seu auxiliar, trabalham diariamente. O outro profissional que compõe a comissão técnica é o argentino Pablo Zabaleta. Ele preferiu permanecer em Barcelona, onde vive.
“Ao contrário do que as pessoas falam, trabalho não falta. É muita análise, exercitar futuros, processos, fazer a mente trabalhar muito porque não temos o campo. Tenho de ver imagens de vários jogos, 90 minutos de cada um dos 30 atletas em potencial para serem convocados”, explica. Nas suas palavras, o trabalho pode ser resumido em “muito escritório”, “muitas visitas” e “evoluções”. “Queremos que isso chegue ao campo”.
O brasileiro diz observar de 30 a 40 jogadores entre os que já vinham sendo convocados e os possíveis debutantes na seleção albanesa. A maior parte deles está no futebol italiano. “Pelo menos sete atletas selecionáveis estão na Itália. Das três viagens importantes, duas foram para a Itália”, conta. Outros jogam na Inglaterra, Espanha, Turquia e Grécia. “Acompanho o campeonato local também. Tem dois ou três atletas jovens com potencial para estar conosco”, avalia.
Jogadores técnicos
Pelas partidas a que assistiu e pelo contato inicial que teve com os jogadores, o material humano que tem em mãos lhe agrada. “O albanês, o jogador do Leste Europeu, é um atleta técnico na sua essência. Os zagueiros e laterais tentam até jogar demais. Não são jogadores duros. Eles têm qualidade técnica”, opina.
A convocação de Sylvinho será em 5 de março. No dia 20, os atletas se apresentam e treinam sete dias até a estreia nas Eliminatórias contra a Polônia, dia 27, fora de casa. No Grupo E, além dos poloneses, estão República Checa, Ilhas Faroe e Moldávia.
“Eu vou ser direto: dá para classificar porque o grupo é equilibrado”, confia. Caso consiga o que almeja, a Albânia jogará a Euro pela segunda vez em sua história. Em 2016, sob o comando do italiano Giovanni de Biasi, a seleção albanesa participou do torneio e caiu na primeira fase.
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