BUENOS AIRES - Javier Tebas, 62 anos, diz dedicar 60% de seu tempo ao combate à pirataria. A estimativa é exagerada, possivelmente. Mas a cruzada aberta há dez anos contra a fraude audiovisual foi intensificada pelo chefão de LaLiga, cujas partidas são transmitidas em mais de 180 países.
LaLiga promoveu em Buenos Aires, na última sexta-feira, um dia antes da final da Libertadores, a Jornada contra a fraude audiovisual na América Latina, evento que reuniu 300 convidados, entre jornalistas, executivos do setor audiovisual, dirigentes e autoridades brasileiras e argentinas, como o ministro da Justiça Mariano Cúneo Libarona, que repetiu algumas vezes que a defesa à liberdade e à propriedade são pautas caras para o governo do presidente ultraliberal Javier Milei.
Um dos dirigentes mais conhecidos e influentes do futebol mundial, o advogado espanhol se irrita com os prejuízos provocados pelos jogos do Campeonato Espanhol transmitidos ilegalmente. A estimativa é de que a fraude audiovisual tire de LaLiga 600 milhões de euros (R$ 3,8 bilhões) por ano.
Google, o maior inimigo de Tebas
Por isso, Tebas pôs 50 profissionais apenas dedicados a esse trabalho, a partir de dois laboratórios localizados em Madri e Cidade do México. WhatsApp, X, Meta, Telegram, Discord e Cloudfare são plataformas complacente também com o roubo de propriedade intelectual e não ajudam a reduzir o problema, conforme afirma o dirigente, que lidera ofensiva contra essas empresas. Mas não há inimigo maior que o Google nessa batalha empreendida há uma década.
“Quando pensamos em organizações criminosas pensamos em narcotraficantes, mas há mais. O Google é uma grande organização criminosa”, acusa o dirigente. Sua avaliação é de que o Google - e alguns de seus produtos, como YouTube e Play Store - é leniente com os sites que exibem conteúdo clandestino. “Está envolvido porque colabora com a pirataria. Quando duas ou mais pessoas agem juntas em um crime, então o Google coopera na transmissão disso ao consumidor e anseia por dinheiro de publicidade”.
LaLiga fez 5 mil de denúncias contra o Google por colaborar com transmissões ilegais e moveu 17 ações judiciais contra a gigante da tecnologia, a maioria delas penais. A entidade dispõe de quatro advogados apenas dedicados a esse trabalho. O Estadão procurou o Google, que preferiu não comentar o assunto.
Eles (Google) acham que somos tontos. Haverá um dia em que um CEO do Google será preso. Porque eles estão cometendo crimes. Eles obtêm dinheiro de origem ilícita.
Javier Tebas
Antes de palestrar na abertura do evento, o chefão de LaLiga conversou oito jornalistas de diferentes meios de comunicação latino-americanos convidados para o evento, entre os quais estava o Estadão. A América Latina é uma das regiões com os maiores índices de pirataria, que se penetra com facilidade no Brasil, onde ao menos metade da população consome conteúdo piratas - não somente jogos de futebol, como também filmes, séries e outras opções de entretenimento.
“Pirataria é um problema global. O que muda são a frequência e número de usuários que consomem a pirataria por tipo de cultura, aspectos econômicos, disponibilidade de oferta e outros fatores”, aponta Guillermo Rodriguez, diretor de Operações Antifraude Digital e Audiovisual da LaLiga, Em outras palavras, o cérebro dessa operação e homem de confiança de Tebas.
Em todos os âmbitos - jurídico, administrativo e tecnológico - seu maior desafio, Tebas acredita, foi ter decidido mover ações criminais contra o Google em mais de um país, além de alinhar forças com as autoridades de cada lugar onde são exibidas as partidas de LaLiga, com legislações e prioridades diferentes.
“Temos conversado com o Google, tentamos negociar, mas o Google não responde às perguntas que fizemos. Eles estão nos roubando”, considera. “É um passo importante tomar a decisão de que vamos, pela via criminal, a todos os países que pudermos contra uma das maiores empresas de tecnologia do mundo”.
Tebas acusa Vini Jr de consumir pirataria
Até Vinicius Junior está envolvido de alguma maneira com pirataria, segundo Tebas. O astro brasileiro publicou um story assistindo a Liverpool x Real Madrid, pela Champions League, na última quarta-feira, em duelo transmitido pela TNT Sports Brasil, como a publicação deixa claro.
“Se ele estava em Madri, e creio que estava em Madri, é pirataria. O acesso aos jogos da Champions na Espanha tem que ser pela Movistar Television. Para ver este conteúdo, teria que usar uma VPN (sigla em inglês para Virtual Private Network, rede privada virtual, em tradução livre) ou uma parabólica dirigida a outro lugar”, argumentou o presidente de LaLiga em conversa com os jornalistas em Buenos Aires em que estava presente o Estadão.
“Estava pirateando o jogo”, acrescentou o dirigente. Ele disse ter enviado uma carta ao Real Madrid, sem a esperança, porém, de que receba uma resposta.
Vini não se posicionará oficialmente. O astro do Real Madrid estuda com seus advogados ir à Justiça contra Tebas. O Estadão apurou que, em suas folgas, o jogador vê jogos de futebol pelo aplicativos de streamings em seu celular, utilizando internet pelo 5G em roaming de dados de um chip brasileiro.
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