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Técnicos não se livram da ‘gangorra’ no Campeonato Brasileiro

Na contramão da modernização do futebol brasileiro, ainda há resquícios de amadorismo com os treinadores que trabalham no País

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Por Guilherme Amaro e João Prata
Atualização:

Recentemente, num abraço entre Ney Franco e Abel Braga, no jogo entre Goiás e Cruzeiro, Abelão disse que a “vida de técnico está f...”. Ele se referia à rodada anterior do Brasileirão, em que quatro colegas foram demitidos em menos de 24 horas. Na contramão da modernização do futebol brasileiro, que tenta transformar times em clubes-empresa e implementou uso do VAR nesta temporada, ainda há resquícios de amadorismo.

Cuca, por exemplo, deixou o São Paulo após cinco meses de trabalho. Não suportou a pressão. Privilegiou a saúde. Rogério Ceni caiu no Cruzeiro após oito partidas. Zé Ricardo foi trocado no Fortaleza. Oswaldo de Oliveira foi dispensado do Fluminense após discussão com o meia Ganso. A briga foi mostrada na TV em jogo com o Santos.

Oswaldo de Oliveira não é mais técnico do Fluminense Foto: Pilar Olivares/Reuters

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Estado ouviu treinadores e especialistas para analisar o que ocorre nesta relação. Alguns sintomas parecem evidentes. A saúde tem tirado profissional da beira do gramado. Muricy Ramalho parou. Cuca não quer correr riscos. Ele “saiu” do hospital para assumir o São Paulo e não suportou a pressão. Muitos dirigentes ainda continuam tomando decisões em cima dos resultados do dia. Ganhou, fica. Perdeu, vai embora. Os trabalhos dos técnicos também não são dos melhores.

Fernando Pires, presidente da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol (ABTF), acredita faltar ética entre os próprios técnicos e vê omissão na CBF. “Existe um mercado fechado de técnicos. Vão de um clube para outro. Entre eles está faltando ética. Não dá só para culpar clubes. Se houvesse mais respeito, talvez não acontecessem casos como esses recentes.”

Na opinião de Pires, clubes e treinadores deveriam ao menos cumprir a lei 8.650/1993, do Treinador Profissional de Futebol, que determina como tempo mínimo de contrato o prazo de três meses. Ceni e Zé Ricardo não ficaram nem isso em seus últimos trabalhos, no Cruzeiro e Fortaleza, respectivamente. “Se o técnico é chamado para substituir um companheiro que foi demitido antes desse período, ele deveria pensar duas vezes. O mesmo pode acontecer com ele”, afirma.

Há em estudo projeto de lei, chamada Caio Jr. (em homenagem ao técnico morto no acidente da Chapecoense), que tem como objetivo modernizar as leis trabalhistas. Jair Ventura, desempregado desde dezembro, quando foi demitido pelo Corinthians, diz que os técnicos precisam ser amparados pela legislação. “Os treinadores têm de serem reconhecidos como profissionais. A legislação tem de limitar o número de trocas por times. Dois treinadores no máximo por temporada”, diz. “Outro ponto é fazer os clubes cumprirem os contratos dos treinadores, como ocorre com os jogadores.”

Este ano, a CBF obrigou todo treinador da Série A a fazer o curso Pro da entidade. O presidente da ABTF criticou a decisão.“Isso é um absurdo. O exemplo de que está tudo uma bagunça é o que aconteceu com o Cuca. Para assumir o São Paulo, mesmo com sua experiência, precisou se matricular no curso.” Para ele, a entidade deveria ter o papel de monitorar o que ocorre na profissão. “A CBF é uma entidade privada, ela regulamenta a competição, não faz lei. A lei em vigor diz o que deve ser cumprido.”

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Jair Ventura caiu no Corinthians no final do ano passado e não assumiu mais nenhum time. Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

A CBF respondeu ao Estado não ter qualquer relação com a ABTF e que reconhece apenas a Federação dos Treinadores, que não atendeu a reportagem.

ANÁLISE: Problema é a avaliação de quem comanda

Celso Roth *

"Falta formação aos dirigentes para discernir quem faz um bom trabalho, saber o que vai render ou não. Não temos muitas pessoas renomadas nesse mercado. São pessoas com um alto poder financeiro apenas. Depois da Copa do Mundo de 2014, a culpa de todos os problemas do futebol brasileiro foi colocada em cima dos treinadores.

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Agora, temos a volta de alguns profissionais ao mercado. Acho normal que isso aconteça depois de uma queda violenta, como foi o pós-Copa de 2014. É um ajuste. O grande problema, no entanto, continua sendo a avaliação das pessoas que comandam o futebol. Analisam o futebol apenas pelo resultado, e não pelo trabalho.

Gestão é palavra da moda. Copiamos tanta coisa da Europa, mas os clubes continuam no sistema presidencialista, no qual o dirigente é eleito pelo Conselho. Na Europa, o eleito delega a gestão do futebol. Seria bem mais lógico assim."

* CAMPEÃO DA LIBERTADORES DE 2010, DESEMPREGADO DESDE 2016

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MUDANÇAS DE TÉCNICOS ATÉ A 22ª RODADA:

2019: 142018: 192017: 162016: 172015: 182014: 192013: 172011: 152012: 112010: 212009: 192008: 232007: 212006: 24