Os amistosos da seleção brasileira contra Gana e Tunísia comprovaram qual é o maior problema para o técnico Tite resolver na Copa: os laterais. O treinador convocou apenas três jogadores da posição, sendo apenas um lateral-direito (Danilo), e recorreu ao improviso. Esta escolha evidenciou um problema que o Brasil enfrentou durante todo o ciclo para a Copa do Mundo do Catar: encontrar opções confiáveis. Diversos nomes foram testados, mas poucos conseguiram convencer totalmente o treinador e a torcida.
Nos últimos testes antes da lista final, que será anunciada nesta segunda-feira, dia 7, Alex Sandro, Alex Telles e Danilo foram chamados. Por causa de uma lesão muscular, o primeiro foi cortado. A ausência de um quarto nome surpreendeu. Tite explicou que Éder Militão, zagueiro do Real Madrid, poderia jogar na posição.
A convocação, em especial no setor das laterais, é um retrocesso quando se comparada à última, realizada em maio. Na ocasião - e podendo selecionar 26 jogadores (como será na Copa) -, o treinador optou por incluir um lateral a mais. Além dos três convocados para a posição, Daniel Alves e Guilherme Arana receberam chances.
Arana é carta fora do baralho para o Mundial que começa dia 20. Ele sofreu uma “lesão multiligamentar, comprometendo os ligamentos cruzado posterior e colateral medial, além de ruptura no menisco medial e na cartilagem” em agosto. Vai perder a Copa por isso.
Já Daniel Alves, por opção do treinador, não foi escolhido como reserva de Danilo na última convocação e corre o risco de ficar fora da lista final. O veterano foi jogar de 39 anos atua no Pumas, do México. Assinou o desafio para seguir em atividade após deixar o Barcelona, mas, segundo o preparador físico Fábio Mahseredjian, não teve uma preparação adequada por lá.
“Acompanhamos os treinamentos do Dani na Cidade do México. Cinco dias após sua chegada, ele já estreou, sem o tempo necessário de preparo. Além disso, ele foi acometido de uma gastroenterite que fez com que perdesse peso corporal”, afirmou o preparador.
NOVAS OPÇÕES
Tite não vê problema em utilizar um zagueiro (Militão, neste caso) como titular. “Nossa construção (como equipe) é de interno, não de externos”, pontuou o treinador, querendo dizer que a seleção atua pelo meio de campo e menos pelas laterais.
O técnico ressaltou também que Militão surgiu no São Paulo como um lateral de ofício. “Ele tem predicados para executar a função”. No entanto, ele não tem tanta experiência recente na função: Militão não atua como lateral no Real Madrid há pelo menos três temporadas.
Nos amistosos contra Gana e Tunísia no último mês, o treinador utilizou Militão e Danilo na lateral-direita em cada um dos jogos, enquanto ficou com Alex Telles, titular nas duas partidas, e Renan Lodi como opção no segundo tempo diante da Tunísia. Nenhum destes obteve um grande destaque nos jogos. Militão até teve um bom desempenho. Alex Telles, recém-transferido para o Sevilla, atuou mais como um ala, jogando na função de um meio-campista pela esquerda.
Para Telles, esses amistosos podem ter sido a confirmação de sua vaga na lista final de Tite para a Copa do Mundo. Com Alex Sandro incapaz de mostrar serviço na última Data Fifa por causa da lesão, a disputa pela última vaga deve ficar entre o jogador da Juventus e Renan Lodi.
PROBLEMAS NO CICLO
No início do ciclo, Lodi era, inclusive, uma das “certezas” para a Copa do Mundo. Com destaque no Athletico-PR, se transferiu para o Atlético de Madrid e disputou a Copa América de 2021 como titular da posição. No começo do ano, no entanto, deixou de ser convocado pelo treinador por não ter se vacinado contra a covid-19. Só voltou a ser chamado com a lesão de Alex Sandro.
Além de Arana, outras opções para a lateral foram perdendo força no ciclo. O próprio Renan Lodi foi emprestado para o Nottingham Forest, da Inglaterra, após ser pouco utilizado por Diego Simeone no Atlético de Madrid. No lanterna do Campeonato Inglês, atua tanto como um lateral-esquerdo quanto um ala, assim como Alex Telles nos últimos jogos do Brasil.
Alex Telles vive um momento semelhante ao de Lodi em seu clube. Comprado pelo Manchester United por 15 milhões de euros (cerca de R$ 90 milhões à época) em 2020, o jogador foi emprestado ao Sevilla até o fim desta temporada. Com oito jogos na Espanha, tem uma média de pouco mais de 48 minutos por partida - ainda não é o titular da posição, entrando muitas vezes no decorrer dos 90 minutos.
Daniel Alves, capitão da seleção brasileira na última conquista da Copa América, tem sua idade como ponto negativo à convocação para a Copa do Mundo. Aos 39 anos, o jogador faz um “tour” pelo mundo em busca de receber sua última chance pelo técnico Tite. Saído do São Paulo em 2020, disputou uma temporada pelo Barcelona e agora defende o Pumas do México. Em todas essas passagens, teve um nível abaixo do esperado de um jogador que já esteve na seleção dos melhores da Fifa.
Convocado em 2018, Danilo é uma das certezas de Tite para a lateral - talvez a única. Titular da Juventus, ele deve ter seu contrato renovado pela equipe ao término desta temporada. No entanto, ele tem sido utilizado por Maximiano Allegri, técnico do time italiano, em uma posição diferente da habitual: na zaga.
Já Alex Sandro, seu companheiro na Itália, não deve ter a mesma sorte. Há sete anos no clube, o jogador deve ficar livre no mercado a partir de agosto de 2023, segundo o jornal italiano Corriere dello Sport. Alex disputou 11 jogos em 12 rodadas do Campeonato Italiano até aqui, mas tem uma média de 57 minutos em campo
Com diversas vagas em aberto e a possibilidade de Tite de chamar de três a cinco laterais para a Copa do Mundo - em comparação com as últimas convocações -, a lista final irá reservar surpresas para o torcedor. A relação será anunciada na segunda-feira.
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