Após 17 dias seguidos com jogos da Copa do Mundo, torcedores esperam dias vazios e lamentam a volta à rotina nesses dois dias sem partidas. A quarta-feira e a quinta-feira, dias 7 e 8, marcam o intervalo entre as oitavas de final e as quartas. É a primeira pausa desde o início do torneio. Quem tem mais tempo livre vai trocar os jogos pelo noticiário da Copa ou pelo videogame; quem trabalha afirma que os dias vão deixar a sensação de que estão demorando a passar.
É o que pensa o motoboy Luís Antônio de Araújo. Na Copa, ele já estava habituado a acompanhar os jogos pelos aplicativos de celular enquanto esperava uma chamada como prestador de serviços terceirizado. Nesses dois dias, nada de futebol para passar o tempo. Do dia 20 de novembro até o dia 6 de dezembro, ao menos duas partidas por dia foram disputadas nos estádios do Catar. Em algumas datas, a maratona inclui até quatro jogos.”Os dias vão ser longos”, diz o profissional de 45 anos. “Mas não vou me desligar. Vou ficar de antena ligada nas notícias da Copa”.
Esse é o mesmo plano dos irmãos Luiz Guilherme Boccalato Bingiolli Cruz, de 10 anos, e Marco Antônio, de 13 anos. No meio de uma experiência tão intensa como a Copa, eles vão substituir os jogos da Copa pelo noticiário sobre o torneio. “Vamos ver notícias sobre a escalação, os lesionados e a preparação para o jogo com a Croácia. No celular e na TV”. Nem mesmo a reta final das aulas no Colégio Mater Dei, no Jardim Paulista, região central da cidade, colocou a lição de casa entre as prioridades da dupla.
Alguns estudantes vão fazer o oposto: colocar em dia as atividades que ficaram para trás por causa da Copa. É o caso dos vestibulandos Lucas Miyake e Arthur Alano, de 17 anos. Apaixonados por futebol a ponto de organizarem o torneio de futebol interclasses no Colégio Ítalo, na zona sul, os alunos do 3º ano do Ensino Médio prometem estudar e conferir o calendário de exames. “Tivemos dias com quatro jogos por dia, acompanhando os placares no intervalo, na hora do almoço. Hoje e amanhã, vou tentar voltar à rotina de estudos”, diz Lucas.
Depois de acompanhar os Mundiais de 2010 e 2014, Arthur fica entusiasmado com a maneira como todos param para ver a Copa. E dá um exemplo da maneira como ela interfere em seu cotidiano. Durante a sessão online de terapia da terça-feira, ele deixou a TV ligada para acompanhar a vitória de Portugal sobre a Suíça. Era um olho na tela do computador e outro na TV. O psicólogo percebeu que ele sempre desviava o olhar para ver os gols de Gonçalo Ramos. “Sou muito apaixonado pelo esporte. Ele entendeu sem problemas”, sorri.
A saída de outros fãs é mudar a modalidade, mas continuar com foco no esporte. Atleta do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, localizado no Ibirapuera, zona sul, Guilherme Dalle Molle vai estender os treinos na prova dos 200m e 400m por causa do tempo livre nesses dois dias. “É um dia um pouco vazio, como se a gente tivesse de voltar à rotina. Vou treinar mais e descansar”, diz o atleta de 17 anos e aluno do 1º ano do Ensino Médio.
Marcos Vinicius Miguel Nogueira vai conciliar o esporte real e o virtual. Aprovado em uma avaliação para integrar o elenco das categorias de base do Sport Club Brasil, na Grande São Paulo, o jovem de 15 anos treina à tarde, todos os dias. Sua expectativa é subir para a categoria sub-17 e disputar o Campeonato Paulista da categoria no ano que vem. Sem os jogos da Copa, seu tempo livre também será ocupado diante do videogame. Seu jogo preferido é (obviamente) o Fifa. “Sem a Copa, vou treinar e depois vou jogar no celular ou videogame para passar o tempo”, diz o adolescente.
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