Três décadas após a morte de Dener, Rafael eterniza história do avô e segue passos de Endrick

Garoto de 13 anos atua no time do Centro da Coroa, na Vila Guilherme, e se inspira na genialidade do avô Dener e no sucesso do craque do Palmeiras

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Foto do author Toni Assis
Atualização:

Início da tarde de domingo. Um menino franzino, vestindo a camisa 7 da equipe sub-14 do tradicional time do Centro da Coroa, dá continuidade ao sonho de se tornar jogador profissional. Pelo lado esquerdo, como armador, ele demonstra, acima de tudo, objetividade. Embalado pelo sucesso de Endrick, que passou pela base da equipe da Vila Guilherme, Rafael Augusto carrega um sonho: o de dar sequência à história do avô Dener, que teve a vida interrompida há três décadas em um acidente de carro quando defendia o Vasco.

O Estadão foi conferir de perto o desempenho do adolescente em um compromisso válido pela Copa Paulista. Na partida, Rafael esbanjou disposição em um confronto que terminou empatado em 2 a 2.

O garoto Rafael Cavalcante, de 13 anos, é neto de Dener, que morreu há três décadas. Foto: Felipe Rau/Estadão

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Francisco Cavalcante, avô materno do aspirante a jogador, é o anjo da guarda nessa empreitada. É dele a missão de incentivar, acompanhar e também orientar o herdeiro. E seguir os passos de Endrick é um desejo que ele incentiva.

“O Endrick ter jogado aqui, e hoje estar nesse patamar, é um incentivo para todos os garotos. Para o meu neto é uma grande inspiração. Mas ele sabe das obrigações. Dedicação, estudo e ter um bom convívio com os colegas são fundamentais para seguir este objetivo”, afirmou o avô que acompanhou a partida inteira à beira do alambrado.

Endrick jogou no time Centro da Coroa, clube tradicional da capital paulista que trabalha com categorias de base. Foto: Arquivo Pessoal

Com um DNA privilegiado, Rafael tem no maior jogador da história da Portuguesa a sua grande referência. Veloz, com bom toque de bola e vocação para o drible, o menino não esconde de ninguém de onde tira a inspiração para se tornar um atleta de primeiro nível.

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“Do meu avô. Sempre que eu posso, vejo os vídeos com os gols e os melhores momentos. Toda vez, antes de um jogo, assisto pelo menos alguma coisa dele. O drible, a arrancada, e a dedicação, são as coisas que mais me chamam a atenção”, afirmou Rafael.

E apesar da pouca idade, a atividade futebolística não se resume às partidas pelo Centro da Coroa. Ele também integra o sub-14 do Flamengo de Guarulhos. E lá, a rotina é puxada.

“Treina cinco vezes por dia. Além do trabalho tático e técnico, tem os treinos físicos. O Rafa tem que conciliar tudo isso com a escola. Não abro mão do estudo para a vida dele. Isso é prioridade”, disse o orgulhoso avô.

Rafael Cavalcante busca resgatar o legado do avô e tem o sonho de se tornar jogador de futebol. Foto: Felipe Rau/Estadão

Além disso, Rafael tem um acompanhamento com um fisiologista desde os sete anos de idade para aprimorar a parte física com exercícios específicos. Duas vezes por semana, um trabalho de fortalecimento muscular tem de ser cumprido.

Maurício Belarmino, o Nino, convive com Rafael desde os nove anos de idade. Adepto do futebol raiz, ele é o técnico da equipe sub-14 do Centro da Coroa. À reportagem, ele fez um breve perfil do seu comandado. “Toca fácil, mas é um jogador de armação. É um pouco tímido, mas em campo, se solta mais”, afirmou o treinador.

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Além de treinador, Nino atua também como um psicólogo com os garotos. E no caso de Rafael, a maior preocupação é afastar qualquer tipo de comparação com o Dener.

“Aqui ele é o Rafael Augusto. Nada de novo Dener. Ele é um armador. Corre muito e deixa os companheiros na cara do gol. Eu também o coloco para fazer a ala, pois sabe apoiar bem. Não é tão agudo como o avô, que chegava muito bem na área. Mas está evoluindo. E se está jogando, é porque tem muita qualidade.”

Entre os objetivos traçados, o futebol europeu é uma meta. E jogar no Real Madrid, equipe que Endrick vai defender no segundo semestre, é um sonho.

Ele também já criou algumas superstições. E a religiosidade é um traço desta personalidade. “Rezo antes de entrar em campo pedindo proteção. Tem também um versículo bíblico que eu gosto muito e levo para a vida. Tudo posso naquele que me fortalece.”

O garoto Rafael Cavalcante é titular do time Centro da Coroa, time de tradição na várzea. Foto: Felipe Rau/Estadão

Fã de Mbappé, autor de dois gols na goleada de 4 a 1 que o PSG impôs ao Barcelona pelas quartas de final da Liga dos Campeões nesta semana, Rafael olha ainda para quem se destaca pela lateral, já que também atua no setor quando é preciso. Entre os eleitos, o marroquino Hakimi chama sua atenção no exterior.

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Mas o Centro da Coroa não é famoso somente por ter iniciado o jovem Endrick no futebol. Gabriel Martinelli, atualmente no Arsenal, deu os primeiros chutes no campo da zona norte. O ex-meia Elias, do Corinthians, e Pedro Geromel, do Grêmio, também saíram dali.

Focado em fazer a própria história, Rafael disse ter no controle da ansiedade, o segredo para seguir seu caminho. “Viver um dia de cada vez. Fazer a minha parte dentro de campo e acreditar no meu sonho”, afirmou.

DENER DEIXOU UM LEGADO DE DRIBLES E MAGIA

A carreira foi curta, mas suficiente para conquistar até mesmo torcedores rivais. Destaque de uma geração que despontou a partir dos anos 90, Dener dividia com o ex-meia Djalminha a expectativa de ser um dos grandes jogadores brasileiros no cenário mundial naquele início de década.

Pela Portuguesa, foi campeão da Copa São Paulo de juniores como protagonista do torneio na edição de 1991. Na passagem pelo Grêmio, conquistou um título gaúcho. Cobiçado pelos grandes clubes do Brasil, Dener teve o Vasco como último time.

Dener brilhou vestindo a camisa da Portuguesa - 08/02/1993. Foto: Orlando Kissnep/AE

Cotado para defender a seleção brasileira na Copa do Mundo de 94, nos Estados Unidos, ele já tinha praticamente acertado uma transferência para o Stuttgart, da Alemanha. O destino, porém, abreviou essa promissora trajetória.

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O acidente de carro aconteceu na Lagoa, bairro da zona sul do Rio, quando voltava de uma viagem a São Paulo. O carro bateu e Denner, que dormia no banco do carona, morreu asfixiado pelo cinto de segurança. Trinta anos depois, Rafael Augusto tenta provar que essa história de amor ao futebol ainda não acabou. A seguir, vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos desse enredo envolvendo o neto na busca do seu lugar no concorrido e incerto mundo do futebol.

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