Trono, coroa e estádios: as homenagens a Pelé um mês depois de sua morte

Rei ganhou estádios com seu nome em quatro países, cadeira real no México e tributo especial do Santos; mausoléu ainda não foi aberto ao público para visitação

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Foto do author Ricardo Magatti

No início de janeiro, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, pediu a todos os países-membros da entidade que batizassem pelo menos um estádio em cada país com o nome de Pelé. Passado um mês da morte do Rei do Futebol, vítima de complicações decorrentes de um câncer de cólon, poucas nações atenderam ao pedido de Infantino.

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Foram as nações lusófonas, isto é, cuja língua oficial ou dominante é o português, as que mais rapidamente decidiram escolher um estádio para batizar com o nome do Rei do Futebol.

Cabo Verde foi o primeiro país a aderir ao tributo póstumo, ao informar em 4 de janeiro a intenção de alterar o nome do Estádio Nacional de Cabo Verde, localizado em Praia, capital do país africano, para Estádio Pelé.

“Pelé foi e será sempre uma referência no Brasil, na nossa lusofonia e em todo resto do mundo, sendo um ídolo que liga várias gerações”, disse na ocasião do anúncio o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Ulisses Correia e Silva.

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Um dia depois, Guiné-Bissau, mais uma nação africana lusófona, fez o mesmo ao anunciar que o eterno camisa 10 da seleção brasileira e do Santos também terá seu nome eternizado no Estádio da Rocha, localizado em Bafatá e utilizado pelo Sporting Clube de Bafatá, clube fundado em 1937 que compete na primeira divisão do campeonato nacional. Assim como Cabo Verde, ele passará a se chamar Estádio Pelé.

Pelé foi velado na Vila Belmiro em cerimônia aberta ao público Foto: Felipe Rau/Estadão

“Pelé é hoje uma figura única no mundo. Todos sabem quem é Pelé, era uma figura planetária”, afirmou o presidente da Federação de Futebol Guiné-Bissau, Carlos Teixeira

A Colômbia, por ora, foi o único país sul-americano a dar a um de seus estádios o nome de Pelé. O tributo aconteceu na cidade de Villavicencio. O Estádio Bello Horizonte, popularmente conhecido como Macal, em homenagem ao prefeito da cidade em 1958, passou a se chamar Estádio Bello Horizonte Rey Pelé. A instalação é casa do Llaneros, equipe da segunda divisão colombiana, e tem capacidade para 15 mil torcedores.

A reverência mais expressiva se deu no México. No último dia 10, o Pachuca inaugurou um trono em alusão ao Rei do Futebol no Estádio Hidalgo. Além disso, no confronto com o Puebla, os jogadores entraram em campo com a camisa amarela da seleção brasileira com o número 10, semelhante ao modelo utilizado na Copa do Mundo de 1970.

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A homenagem póstuma ao Rei do Futebol foi feita pelo presidente do clube, Jesús Martínez, e pelos jogadores. O trono permanente está localizado logo abaixo do camarote, na tribuna de honra do estádio, onde os membros da Fifa são recepcionados, e se assemelha aos utilizados por membros da realeza e conta com a assinatura de Pelé em sua estrutura.

Jogadores do Pachuca vestiram a lendária camisa 10 da seleção brasileira usada por Pelé Foto: David Martinez/EFE

“Em cada canto de nossa instituição, você deixou sua luz e sua magia para sempre”, enalteceu o Pachuca, em vídeo em que venera e agradece Pelé. “Aqui viverá para sempre”.

Em Zurique, o campo principal da sede da Fifa na Suíça também passou por mudança. Agora é estádio Pelé-Fifa.

Frases para o Rei

Em centenas de estádios ao redor do mundo, a bola só rolou depois que um minuto de silêncio foi respeitado como forma de tributo a Pelé. Isso foi também uma recomendação da Fifa. No Parque dos Príncipes, Neymar usou uma camiseta em homenagem a Pelé, com o rosto do Rei do Futebol e a frase “Eterno Rei”.

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Além do craque brasileiro, Lionel Messi e todos os jogadores do time parisiense também vestiram a camisa ao entrar em campo para o aquecimento. Bruno Guimarães foi além em sua ideia de tornar emocionante a devoção ao Rei.

Neymar e Messi usam camisa em homenagem a Pelé Foto: Bertrand Guay/AFP

O meio-campista entrou em campo no duelo entre seu time, o Newcastle, com o Leeds, pelo Campeonato Inglês, com a camisa da seleção brasileira estampando o nome e a assinatura do Rei. Junto com os demais jogadores, aplaudiu o eterno camisa 10 e respeitou um minuto de silêncio. Para citar outros atletas, Antony também usou uma camiseta com mensagem para Pelé, e o goleiro Alisson colocou um buquê de flores no centro do gramado do Anfield Stadium como tributo ao maior de todos.

Avenida, ginásio e busto

No Rio, a Prefeitura alterou o nome de um trecho da Radial Oeste, via que passa em frente ao Maracanã, homenageando o Rei do Futebol. A Avenida Pelé foi “inaugurada” no dia 4 deste mês. A placa com o novo nome do trecho foi colocada em frente a um dos acessos ao Maracanã.

Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes fez a promessa de construir um ginásio esportivo que terá o nome de Rei Pelé. Segundo a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Seme), o projeto para a construção do espaço no Parque das Bicicletas, localizado na Alameda Iraé, Moema, próximo ao Parque do Ibirapuera, está em andamento. O Ginásio deverá ter capacidade para 12 mil pessoas.

Nunes também falou em alterar o nome do Bolsa Atleta, que passará a se chamar Bolsa Atleta Pelé. O programa é um auxílio financeiro da Prefeitura destinado a atletas de alto rendimento, de 14 a 21 anos, praticantes de modalidades que integram Jogos Pan-americanos, Jogos Olímpicos ou Paralímpicos ou Parapan-americanos. Os valores mensais são: R$ 624,28 para atletas de 14 a 17 anos, e R$ 1.248,55 para atletas de 18 a 21 anos.

Avenida no RIo foi rebatizada de Rei Pelé  Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio

No velório, o prefeito disse que iria ampliar o Bolsa Atleta Pelé para 5 mil crianças da capital paulista, mas não explicou como isso seria feito. O Estadão questionou a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, mas não teve resposta.

“A gente vai usar a inspiração do Pelé para essa garotada. Quando você põe um sonho, vindo da periferia, você pode correr atrás do seu sonho, e aqueles que têm habilidade possam desenvolver essa habilidade no esporte”, disse o prefeito ao Estadão.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) havia dito que todas as homenagens feitas a Pelé seriam insuficientes e afirmara que pensaria em formas de manter vivo o legado do Rei no Estado.

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Claudio Cosme Pereira de Souza, prefeito de Três Corações, cidade onde nasceu o Rei Pelé, tinha prometido a construção de mais um monumento em homenagem ao mais famoso cidadão nascido no município mineiro. Ele não quis dar detalhes, mas avisou que a obra foi projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Na cidade, já existem o Museu Pelé, a Casa Pelé e uma estátua.

Súditos na Vila Belmiro

Na Vila Belmiro, palco de 220 jogos da extraordinária carreira de Pelé, o Santos fez uma bonita homenagem ao seu ídolo na estreia no Paulistão. Uma coroa foi colocada no centro do gramado enquanto a assinatura do Rei do Futebol e imagens do craque eram projetadas no campo.

Também foram soltados 1.283 balões em alusão ao número de gols marcados pelo eterno camisa 10. Aquela partida, contra o Mirassol, foi a primeira em que os atletas usaram um uniforme especial, com a coroa gravada no escudo.

Os jogadores do Santos mudaram sua numeração para lembrar o 10 de Pelé. Todos os números estampados nas costas dos atletas compuseram uma conta que o resultado era 10. Marcos Leonardo, por exemplo, foi o “9+1″.

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Santos fez tributo a Pelé na Vila Belmiro com trono e coroa erguida por ídolos Foto: Guilherme Dionísio/EFE

Em meio a um show de luzes na Vila, o Santos levou a campo ídolos eternos e companheiros de Pelé. Eles carregaram uma coroa até um trono, como se entregassem ao Rei. Nas arquibancadas, os torcedores usavam celulares para iluminar o campo.

Andrés Rueda, presidente do clube, também cogitou aposentar a camisa 10 do ídolo, mas desistiu, respeitando um desejo do próprio jogador. “É melhor deixar o número 10 (para ser usado) porque assim o pessoal nunca vai esquecer”, havia dito Pelé, em 2017.

Mausoléu continua fechado

Pelé descansa em um jazigo personalizado colocado em um mausoléu de 200 m² construído para ele no primeiro andar do Memorial Necrópole Ecumênica, homologado pelo Guinness Book, o livro dos recordes, como o cemitério mais alto do mundo.

Mausoléu onde Pelé foi sepultado ainda não abriu para visitação Foto: Ricardo Magatti/Estadão

Na entrada da sala, existem duas estátuas douradas em tamanho real do Rei. O teto do local onde ele descansa exibe uma reprodução de pintura de céu. As paredes são decoradas com imagens históricas de Pelé. O piso é revestido de grama sintética.

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A ideia da administração do cemitério é abrir esse mausoléu, um monumento funerário grandioso, para visitação de turistas e fãs. No entanto, um mês depois da morte do Rei, o espaço continua fechado ao público. Ao Estadão, a administração do local afirmou que ainda não há previsão para abertura.

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