Vai de Bet deixa o Corinthians: os detalhes do acordo rescindido que virou ‘mico’ para o clube

Diretoria pagou quantia milionária por quebra de contrato com antiga parceira, mas suposto ‘laranja’ dá fim ao maior patrocínio do País e gestão ainda pode ficar de mãos abanando; clube lamenta decisão unilateral antes do fim das investigações sobre o caso

PUBLICIDADE

Foto do author Rodrigo Sampaio
Atualização:

Depois de apenas seis meses, chegou ao fim a parceira do Corinthians com a Vai de Bet, maior patrocínio da história do futebol brasileiro. A marca do ramo de casas de aposta optou pela rescisão do contrato após a polêmica dos pagamentos da intermediária do acordo a uma suposta empresa “laranja”. Clube e a empresa têm reunião marcada nesta sexta-feira, 7, para debater as tratativas do distrato. Diretoria lamenta decisão por parte da marca sem o fim das investigações sobre o caso, ressaltando ter dado alta visibilidade a uma marca até então pouco conhecida no mercado.

PUBLICIDADE

Responsável por findar uma hegemonia de 16 anos do grupo de Andres Sanchez no poder do clube, Augusto Melo assumiu a presidência do Corinthians em janeiro após grupos de oposição se unirem em torno de seu nome. O novo manda-chuva alvinegro assumiu o cargo anunciando a Vai de Bet como nova patrocinadora máster do clube. Para isso, a nova diretoria firmou na Justiça um acordo para pagar R$ 40,1 milhões à Pixbet, empresa concorrente e principal parceira do time alvinegro na ocasião, para encerrar o contrato de exclusividade vigente — os valores serão quitados até o início de 2025, sob pena de bloqueio de contas.

A Pixbet, que se juntou ao Corinthians em 2022, ainda na gestão de Duílio Monteiro Alves, apresentou uma proposta de renovação no valor de R$ 75 milhões anuais para ter sua marca estampada no espaço mais nobre da camisa corintiana. Recém-empossado, Augusto Melo rejeitou por entender ter à mesa uma proposta muito mais vantajosa da Vai de Bet. A concorrente ofereceu R$ 360 milhões por três temporadas, com pagamentos de R$ 10 milhões mensais ao longo de 36 meses, se tornando o maior patrocínio da história do futebol nacional.

Augusto Melo e jogadores em anúncio da parceria com a 'Vai de Bet'.  Foto: Jozzu/Agência Corinthians

Criada em 2022, a Vai de Bet é uma das marcas da empresa Betpix NV, holding com registro em Curaçao, ilha holandesa situada no Caribe, onde a operação de casas de aposta são permitidas — no Brasil, a regulamentação das bets foi sancionada em dezembro do ano passado. Outras marcas do grupo são Betpix365, Betpix, Obabet e Pix365, todas estas plataformas de aposta. O nome por trás do investimento no Corinthians é o empresário José André da Rocha Neto, de Campina Grande, na Paraíba.

Publicidade

Segundo o site Transparência.cc, José André da Rocha Neto tem participação em 31 empresas com CNPJ oriundo da Paraíba e São Paulo. Destas, 27 ainda estão ativas, sendo 22 filiais e nove matrizes. A grande maioria atua no ramo imobiliário, sendo a mais recente a Celiforte Construções e Incorporações, e a mais antiga a Torre Forte Construções, ambas de Campina Grande. O capital social dos empreendimentos ligados ao nome do empresário somam aproximadamente R$ 19,2 milhões, e ele possui outros 37 sócios.

‘Laranja’

O contrato do Corinthians com a Vai de Bet, ao qual o Estadão teve acesso, previa o também pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda, intermediária do acordo entre as partes. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.

Segundo reportagem publicada na coluna do jornalista Juca Kfouri, no Uol, após os pagamentos da comissão, a Rede Social Media Ltda repassou o parte dos valores por meio de PIX à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como “laranja”, termo popular designado a intermediários de negócio fraudulento. Edna Oliveira dos Santos, mulher residente na cidade de Peruíbe, litoral Sul de São Paulo, teve o nome envolvido no episódio. Há a suspeita de que ela tenha sido usada no caso sem a sua anuência.

Com CNPJ ativo desde janeiro de 2021, a Rede Media Social Ltda possui um capital social declarado de R$ 10 mil e está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. Ele trabalhou na campanha do atual presidente a convite de Sergio Moura, superintendente de marketing do Corinthians. Pressionado por não conseguir fechar outros patrocínios para a camisa do clube, Moura pediu afastamento do cargo após a polêmica vir à tona.

Publicidade

O clube notificou a intermediadora extrajudicialmente cobrando explicações sobre o caso e solicitou a EY investigação do contrato para esclarecimentos. O caso é investigado pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC). Ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) limitou-se a afirmar que “diligências estão em andamento visando o esclarecimento dos fatos”. O Corinthians confirmou ter recebido a notificação e disse que vai colaborar com as investigações pois afirma ser “o maior interessado em esclarecer os fatos”.

O contrato também está sendo analisado pela Comissão de Ética e Justiça do Conselho Deliberativo do Corinthians. O parecer deve sair nos próximos dias e será convocada uma reunião extraordinária para pedir esclarecimentos a respeito do episódio, que motivou a saída de Yun Ki Lee do cargo de diretor jurídico, e de Fernando Perino do cargo de diretor jurídico adjunto. Ligado a Lee, Marcelo Mandel, diretor de relações internacionais, decidiu se afastar do cargo nesta quarta.

O ‘mico’

Além de ter de pagar R$ 40,1 milhões à Pixbet pela quebra de contrato, o Corinthians corre o risco de não receber a multa da Vai de Bet pela rescisão unilateral. O acordo possui uma cláusula anticorrupção na qual as partes se comprometem a cumprir os dispositivos integralmente. Segundo o documento, o contrato prevê que, caso não haja justa causa, a parte interessada na rescisão precisa pagar 10% do valor total restante. Como o clube já recebeu R$ 60 milhões dos R$ 360 mi prometidos, a indenização seria de R$ 30 milhões. Porém, se a empresa entender que houve violação da cláusula, ficaria inibida do pagamento. A formalização do distrato será conversado entre as partes na próxima semana.

Com o fim da parceria, o Flamengo passou a ter o maior patrocínio máster do País. O rubro-negro carioca renovou recentemente com a Pixbet, justamente a antiga parceira do time do Parque São Jorge, e conseguiu um aumento no montante a ser recebido alegando os valores pagos da Vai de Bet ao Corinthians. Assim, o vínculo do clube rubro-negro com a marca passou de R$ 85 milhões a R$ 105 milhões, com progressão de montante fixo a partir de 2025.

Publicidade

O que diz o Corinthians?

Horas após a Vai de Bet anunciar a rescisão de contrato, o Corinthians se manifestou em nota oficial divulgada a imprensa. Leia na íntegra abaixo o comunicado do clube.

O Sport Club Corinthians Paulista informa a descontinuidade do contrato de patrocínio máster com a VaideBet. Em decorrência das instabilidades recentes, provocadas por acusações que seguem em investigação, a empresa preferiu rescindir o acordo que havia firmado com o clube até o fim de 2026.

O Corinthians lamenta que o parceiro comercial tenha encerrado o maior acordo de marketing esportivo do Brasil – do qual a empresa se beneficiou a ponto de sair de uma casa de apostas desconhecida para a segunda colocação no setor em apenas cinco meses – sem que houvesse nenhuma conclusão das investigações relacionadas ao intermediário da negociação.

Vale ressaltar que o Corinthians é o maior interessado em resolver a questão citada. Por isso, não está medindo esforços para que os fatos sejam elucidados, seja por meios próprios, por terceiros ou na colaboração junto às autoridades.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.