Aos 70 anos, Vanderlei Luxemburgo vive o que indica ser os seus últimos anos no futebol. Dispensado por Ronaldo Fenômeno do Cruzeiro no fim do ano passado, o experiente treinador não se recolocou ainda em outro clube. Nesse período desempregado, foi traído na política e esteve perto de assumir o Santos, mas seu nome foi vetado pelo Comitê de Gestão do clube após a saída de Lisca.
O treinador disputaria uma vaga ao Senado pelo PSB-TO, mas o diretório estadual do partido removeu a sua candidatura no início do mês de agosto. Na ocasião, Luxemburgo avaliou ter sido “apunhalado nas costas”. Após o episódio, cogitou até processar a sigla pela “postura ditatorial e rasteira” e decidiu não concorrer a nenhum outro cargo político no pleito deste ano.
“Fui traído no futebol e na política”, diz ele, rindo da própria situação. A ‘traição’ que cita no futebol é a dispensa do Cruzeiro depois que o clube mineiro virou SAF (Sociedade Anônima do Futebol). “Tinha o pensamento de resgatar o Cruzeiro. Veio o Ronaldo e ele optou por outra situação. É um direito que ele tem”, recorda-se.
Luxemburgo tem empresas no Tocantins. Entre seus principais negócios está a TV Jovem, afiliada da TV Record. Pensando na eleição, ele rodou semanas pelo Estado com a equipe da emissora para conhecer o interior tocantinense. “O Brasil precisa de jovens discutindo política, senão não vai melhorar nunca”, reflete o treinador.
Nesse período, diz ter recebido “uma porção de propostas” no futebol. A última delas foi do Santos, para onde voltaria não fosse o veto do Comitê de Gestão do clube. “Eu dei uma parada. Talvez até volte. Experiência é experiência. O cara experiente não pode ser confundido com o ultrapassado”.
Luxemburgo estava contente com a ideia de iniciar sua quinta passagem como técnico do Santos, clube pelo qual tem carinho, conquistas e alguns desafetos. Seu plano era comandar a equipe até o fim da temporada e, no próximo ano, virar coordenador técnico, repetindo Felipão no Athletico-PR. Mas seu nome não foi aprovado pelos dirigentes e conselheiros santistas.
“Não larguei a bola ainda. Essa por** é tão gostosa que dá vontade de voltar a estar dentro do campo”, havia avisado o treinador, aos risos, sem largar os tradicionais palavrões de sua carreira, dias antes de receber a proposta do time da Baixada Santista, que vive temporada sem dinheiro, com elenco reduzido e atualmente sem treinador após a demissão de Lisca depois de oito jogos no comando.
Luxemburgo quer continuar sua trajetória como técnico, que completará 40 anos em 2023, para fazer com que o futebol brasileiro retorne às suas origens, no qual Pelé, Garrincha e outros craques jogavam com “empirismo” e “capacidade de improviso”, nas palavras do treinador. “Não podemos ficar tão presos a esquemas táticos”, opina. “Eu acho que ainda tenho um tempinho para discutir essas questões. Pouco tempo, mas vou conseguir discutir”.
Glossário do Luxa
Luxa começou uma cruzada contra a terminologia atual do futebol nacional porque entende que o novo vocabulário, com termos como “extremos desequilibrantes” em vez de “pontas dribladores” não representa modernidade. Convidado para palestrar na Brasil Futebol Expo há algumas semanas, em São Paulo, o técnico apresentou o seu insólito glossário, traduzindo expressões usadas por treinadores em atividade no futebol nacional.
“Moderno é o car****”*, terminologia não é por** nenhuma. Temos de falar o futebol da maneira do brasileiro”, esbravejou o treinador multicampeão com Corinthians, Palmeiras e Santos, entre outros. Também comandou a seleção brasileira e passou sem brilho pelo Real Madrid. “A terminologia não traz modernidade para o futebol. Nos temos a nossa própria. Os estrangeiros só trouxeram uma nova para gente usar”.
No dicionário “luxemburguês”, “sair da zona da pressão” virou “tira a bola daí, dá um chutão, car****”, “marcar em bloco” passou a ser “fechar a casinha” e “jogo apoiado” se transformou em “vem jogar, car****””. Luxemburgo espera uma proposta de trabalho para a próxima temporada.
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