Beatriz Caterinque, de 24 anos, não é famosa por seu nome. Talvez seja um pouco mais reconhecida pelo username @webatan. O que a tornou viral, porém, foram os termos cunhados por ela própria, como “pancou” e até o absurdo “chute de cabeça”. Com narrações que quebram qualquer lógica do futebol, a criadora de conteúdo já teve 2 milhões de visualizações em um único vídeo, apenas no TikTok, rede em que soma 3,8 milhões de curtidas.
Os primeiros posts sequer tinham relação com futebol. “Eu entrei na internet já pensando em ser criadora de conteúdo. Desde o primeiro vídeo, eu postava pensando em criar um público, só não sabia muito bem o assunto”, relembra Beatriz ao Estadão.
Quando começou a listar top-5 de jogadores com piadas e “explicando” teorias (por exemplo, de que o melhor jogador usa o número mais alto na camisa), o público que Beatriz almejava foi criado no nicho do futebol.
“Narrei um gol do Neymar usando a camisa 200 no Santos contra o Atlético MG, porque umas das teorias que criei era que quanto maior o número da camisa, melhor era o jogador e por isso o Neymar conseguiu fazer aquele golaço. O pessoal gostou e acabou virando um dos estilos de vídeo que eu gravo hoje", relata, ao descrever o personagem criado por ela.
Nem todos, contudo, entendem a ironia. “No começo tinha muito hater, porque não entendiam que era uma personagem irônica. Hoje em dia as pessoas já entendem que é uma personagem, e a maior parte dos comentários é de carinho. E eu amo receber o carinho do público, me inventiva a criar mais conteúdos”, conta.
Alguns comentários negativos ainda aparecem, quando outra página compartilha um vídeo de Beatriz. Há quem pense que ela de fato seja uma narradora profissional. “Hoje os meus haters criticam mais a minha voz dizendo que é chata, e eu concordo que é“, brinca.
Como infelizmente é comum para mulheres no futebol, Beatriz também lida com machismo. O método escolhido por ela foi, mais uma vez, o humor. “Com tantos trocadilhos, referências e desinformação fica claro que é ironia e que por trás dos vídeos tem conhecimento", avalia.
“Mas muita gente pensava que eu falava sério e tinha esse tipo de crítica machista. Esse foi um dos motivos que eu comecei a chamar eles de ‘leigos’“, diz rindo.
O que torna tudo mais inusitado é que a relação de Beatriz com o futebol não era tão próxima. Apesar de gostar de assistir a jogos, ela não tem identificação com um clube. “O time que eu torço é o time que ganha. Assim estou sempre feliz", conclui.
No momento em que a seleção brasileira vive péssima fase, Beatriz consegue ser otimista. O lance que ela ainda sonha em narrar é o que daria o hexa ao Brasil, “para todos ficarem feliz sem clubismo”.
E, se depender dela, isso aconteceria com o retorno de Neymar à seleção. “Algum gol com ‘chute de cabeça’, que meu público gosta bastante, e o Neymar fazendo um Puskas igual fez contra o Flamengo (em 2011), ‘dispistando’ todo mundo e ganhando Bola de Ouro", descreve.
Personagem escocês também ganha as redes com comentários de futebol
Fora do Brasil, um exemplo semelhante é o personagem Allaster McKallaster, do advogado Pete Reid, é outro exemplo de narrações virais. Entretanto, o sucesso de Mckallaster se dá pela raiva dos comentários do alter ego, que é escocês, principalmente direcionada aos ingleses.
Este post tem 1,3 milhão de visualizações no Instagram. Outros de McKallaster chegam a 8 milhões. O personagem é feito por Pete Reid, advogado especialista em esportes e negócios.
Em 2023, McKallaster foi indicado como Influenciador do Ano na categoria esportes do Scottish Influencer Awards. O prêmio, porém, ficou com Tom Stoltman, tricampeão do World’s Strongest Man, em 2021, 2022 e 2024.
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