Vinícius Junior troca brincadeiras e sorriso por cara fechada um dia após episódio de racismo

Pessoa próxima ao atacante do Real Madrid diz que ele está forte emocionalmente e não pretende se calar

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Um dia após ter sido vítima de mais um grave episódio de discriminação no Campeonato Espanhol, o atacante Vini Jr treinou normalmente no CT do Real Madrid nesta segunda-feira, dia 22, mas não foi ao campo. Fez trabalhos de recuperação física na parte interna, como é de praxe no dia seguinte às partidas. Pessoas próximas ao craque dizem que ele não chorou em público, está “forte emocionalmente”, mas não brincou com os companheiros, como costuma fazer diariamente.

Vini promete não se calar e estuda uma entrevista coletiva para repetir as reclamações e os protestos contra a discriminação. Ele pretende manter o posicionamento contra os ataques racistas, inclusive com críticas aos dirigentes da La Liga, em especial ao presidente Javier Tebas. Na atual temporada, as agressões se intensificaram.

O atacante Vini Jr. denuncia discriminação racial no jogo com o Valencia Foto: AP / AP

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Até o episódio deste domingo, Vini estava insatisfeito com a postura do Real Madrid nos casos anteriores de racismo. Pessoas próximas ao atacante esperavam um protesto mais forte diante da recorrência dos insultos. Foi o nono episódio de racismo sofrido por Vinícius Júnior em um jogo na Espanha nos últimos anos.

Nesta segunda-feira, o clube espanhol afirma que acionou a Procuradoria-Geral do Estado por crime de ódio e discriminação. Antes disso, o presidente Florentino Pérez teve uma conversa particular com o atacante. Em nota, o clube afirmou que o encontro foi realizado para mostrar “carinho e apoio” do clube ao jogador. O presidente prometeu ir até “as últimas consequências”. O encontro foi registrado pelo clube nas redes sociais. O técnico do Real Madrid, Carlos Ancelotti, já havia saído em defesa do brasileiro.

O brasileiro recebeu o apoio dos companheiros – hoje, as manifestações foram ainda mais frequentes do que aquelas que ocorreram no estádio do Valencia no domingo. Um dos jogadores mais indignados com os insultos é o goleiro belga Thibault Courtois. Após a partida, ele disse à Movistar que, “se Vini quisesse sair de campo, eu iria com ele”.

A direção do Real Madrid veio a público nesta segunda-feira para criticar os ataques racistas reiterados que Vinicius Júnior vem sofrendo no futebol espanhol e culpar o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, pela repetição das ofensas.

“Estamos surpresos com as declarações do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, porque sendo o maior responsável do futebol espanhol e da área de arbitragem, permitiu que não fossem tomadas medidas contundentes, de acordo com os protocolos da Fifa, para evitar a situação a que se chega. A imagem do nosso futebol está seriamente danificada e deteriorada aos olhos de todo o mundo”, disse o Real Madrid.

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Em repúdio ao episódio de racismo, a direção do Real mirou o presidente da federação, apesar das críticas diretas de Vini Jr. a Javier Tebas, presidente da LaLiga, a entidade que organiza o Campeonato Espanhol.

“Através da sua passividade (Luis Rubiales), tem contribuído para a impotência e a indefesa do nosso jogador Vinícius. Os árbitros, longe de agir com firmeza e aplicar os protocolos regulamentares, optaram na maioria dos casos por se inibir e evitar tomar as decisões de que são incumbidos. Ainda ontem, o árbitro e os responsáveis pelo VAR fugiram das respectivas responsabilidades e tomaram decisões injustas e apoiadas em imagens incompletas, que não foram vistas na íntegra, tendenciosas e que levaram à exibição do cartão vermelho direto ao nosso jogador Vinícius Júnior”, registrou o clube.

A direção do Real disse que o caso não foi isolado e pediu providências à federação. “Por todas estas razões, estamos muito preocupados que nenhuma medida tenha sido tomada pela Real Federação Espanhola de Futebol durante todo este tempo, apesar dos evidentes e repetidos sinais de alarme que o nosso clube tem vindo a denunciar.”

Entenda o caso

O brasileiro Vinícius Júnior foi mais uma vez vítima de racismo na Espanha. Parte da torcida do Valencia, que enfrentou e venceu o Real Madrid no domingo por 1 a 0, gritou insultos racistas ao jogador brasileiro no segundo tempo da partida, que foi paralisada por oito minutos.

Nos acréscimos da partida, o brasileiro, revoltado e desestabilizado pelos rivais, foi expulso depois de se desentender com o atacante Hugo Duro, em quem acertou o braço. Ele levou cartão amarelo, mas, após revisão do lance pelo VAR, foi expulso pela arbitragem.

São muitos os episódios de preconceito racial contra Vini Jr. Recentemente, o brasileiro depôs na Justiça espanhola no âmbito do caso em que foi xingado de “macaco” por um torcedor do Mallorca em fevereiro deste ano.

“Não foi a primeira vez nem a segunda nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas”, afirmou o atleta em seu perfil no Twitter.

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O brasileiro ainda alertou para a imagem que a Espanha passa para o exterior ao permitir que tais ataques aconteçam na maior competição esportiva da nação. “Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas.”

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