O início da história do futebol no Brasil foi marcado pelo uso de termos em inglês, país que criou o esporte, para identificar posições dos jogadores ou táticas a serem adotadas nas partidas. Goalkeeper, center-half, back, córner, outside foram rapidamente ‘aportuguesados’ porque em pouco tempo o esporte se tornou muito popular no País. Logo surgiram ‘goleiro, beque, volante, escanteio, impedimento’ que serviram para fomentar as discussões nas arquibancadas, bares e esquinas por todas as cidades.
Atualmente, com a globalização da informação e algum exagero, muitos termos utilizados em outros países, se tornaram comuns para aqueles que estudam a tática das equipes e o desempenho dos jogadores em campo. Alguns críticos consideram uma atitude “pedante”, o que leva a “uma elitização do futebol”, indo de encontro com a sua natureza popular.
O primeiro treinador a trazer termos diferentes para o futebol foi Cláudio Coutinho (1939 a 1981), que teve seu sucesso na direção do Flamengo no fim dos anos 70 e começo dos 80. ‘Overlapping’, ‘ponto futuro’ e ‘polivalência’ foram algumas palavras que ganharam manchetes e revolucionaram o futebol. Mas será que o torcedor sabia ao certo o que elas significavam?
‘Overlapping’ era a passagem em velocidade de um jogador pela lateral de um companheiro. ‘Ponto futuro’ foi usado para um lançamento ou passe dado em um local sem marcação, enquanto a ‘polivalência’ era a capacidade de o jogador desempenhar várias funções
O trabalho de Tite na seleção brasileira nas duas últimas Copas e suas expressões ‘telegráficas’ fizeram lembrar muito de Cláudio Coutinho. Tite adorava falar ‘extremos desequilibrantes’, que nada mais são que os atacantes dribladores atuantes pelos lados do campo. O velho e bom ponta.
A influência do basquete americano também pode ser notada na análise dos desempenhos dos atletas do futebol. Atualmente, é comum enumerar a quantidade de assistências, que seriam os passes que originaram a finalização correta a gol. Comentaristas esportivos, de todas as plataformas, também entraram nessa, não todos, mas boa parte, dando um certo ar professoral ao esporte mais popular do planeta. Dias desses, no SporTV, o narrador Gustavo Villani repetiu o que Fernando Diniz disse à beira do gramado num jogo do Fluminense: ‘sai da paralela cheia e flutua livre’.
O Estadão separou algumas dessas expressões do futebol moderno e vai tentar explicar para o torcedor o que seus autores quiseram dizer. A seguir alguns termos do novo glossário do futebol.
SISTEMA HÍBRIDO
Quando o time tem uma tática de ataque e outra de defesa
JOGO APOIADO
É o conceito de que o jogador que está com a posse de bola sempre tem de ter uma opção para trocar passe e, assim, prosseguir a jogada.
JOGO REATIVO
É quando o time faz pressão para recuperar a bola, diminuindo e ocupando os espaços.
EXTREMOS DESEQUILIBRANTES
Atacantes que atuam pelas laterais do campo e passam pela marcação
ENTRELINHAS
Espaço do campo entre a linha de zagueiros e do meio de campo, por exemplo
MARCAÇÃO ALTA
Marcação pressão na saída de bola do adversário
MARCAÇÃO BAIXA
Marcação mais forte no campo de defesa, na espera do adversário
TRANSIÇÃO
É o contra-ataque. Também é usado para a movimentação feita após a perda de bola e retorno rápido ao campo de defesa (recomposição).
PERDE E PRESSIONA
Quando o time perde a bola, logo em seguida inicia uma forte marcação para retomar o domínio da jogada.
LINHA DE 4 E LINHA DE 3
Defesa formada por quatro jogadores ou três
PRIMEIRA E SEGUNDA BOLA
A primeira bola é aquela direcionada pelo ‘chutão’ do goleiro ou lançamento do campo de defesa. A segunda bola é o rebote, oriundo da disputa da primeira
QUEBRAR AS LINHAS
Passar pela marcação. Driblar o adversário
JOGADOR TERMINAL
Geralmente é o centroavante. O atacante que define a jogada
RITMISTA
É o ‘maestro’ do time. O cara que arma a jogada. Antigamente era chamado de ‘gerente’ ou simplesmente de meia
WINGER/EXTERNO/PONTA
Meias que jogam pelo lado e têm funções ofensivas, defensivas e de armar as jogadas. Eles têm mais funções do que os pontas antigos, que buscavam sempre a linha de fundo.
PIVOTE
Nada mais é que o antigo volante, o cabeça de área.
VOLÂNCIA
É o jogador que atua de volante, no meio de campo.
PROPOR O JOGO
Times que tomam a iniciativa de jogar
TERÇO DO CAMPO
O gramado é dividido em três partes: defesa, meio-campo e ataque. O ‘terço final’ é aquele que fica mais perto do gol adversário.
FLUTUAR LIVRE
Jogar, geralmente pelo meio de campo, sem muita marcação
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.