O zagueiro Max, de 21 anos, do Botafogo de Ribeirão Preto, morreu no campo, na tarde de ontem. A morte foi súbita. Todo o socorro e a tentativa de reanimação dele foram inúteis, segundo o laudo feito pelo médico Dayr Kiomizu Kazava, do Serviço de Verificação de Óbito, do Centro de Medicina Legal (Cemel), da cidade. Max tinha uma lesão coronariana congênita, complicada por uma hipertrofia cardíaca e que o levou à morte por grande esforço. "É um caso raro e difícil de diagnosticar", diz Kazava. O jogador, que aparentemente não tinha problemas de saúde, foi sepultado na tarde desta quinta-feira, no Cemitério Bom Pastor, em Ribeirão. No laudo, o médico indicou como causa da morte uma cardiopatia isquêmica (falta de sangue) na ponte miocárdica. Essa ponte, segundo explicou o médico, é uma artéria que normalmente passa sobre o coração, mas, no caso de Max, ela passava por dentro do músculo (na superfície do coração). Com os fortes exercícios físicos, a musculatura se fortalece e fecha a artéria. "O que deve ter ocorrido no primeiro socorro, no campo, foi uma arritmia ou infarto agudo, quando faltou oxigenação no cérebro", diz o médico. Kazava explica que a lesão é rara e só é diagnosticada se a pessoa tiver algum sintoma, como dor no peito. "Mas só apareceria durante o esforço físico", lembra ele, acrescentando que só uma inecoronariografia poderia detectar a lesão na ponte miocárdica. Se a lesão de Max fosse diagnosticada, provavelmente ele teria que encerrar a carreira de jogador de futebol, pois ainda não existe tratamento para esse caso. Uma forma de diminuir a contração do coração seria o uso de uma droga, um betabloqueador, mas, mesmo assim, seria arriscado continuar jogando. O caso é raro, mas Kazava já trabalhou em três em Ribeirão Preto desde 1991, tanto que, naquele ano, publicou o trabalho "Pode a ponte miocárdica da artéria coronária descendente anterior estar associada com morte súbita durante o exercício?", com outros três colegas, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina, da USP, de Ribeirão Preto. O trabalho, publicado na Acta Cardiológica, uma revista especializada em medicina, foi feito após um médico de 38 anos morrer durante uma partida de tênis. Pouco tempo depois, um jovem de 18 anos morreu, com o mesmo quadro, quando praticava o halterofilismo numa academia da cidade. Max morreu na tarde de ontem (02), durante um treino coletivo do Botafogo. Ele estava no ataque, durante a cobrança de um escanteio. Disse aos colegas que estava tonto, não foi na bola e caiu. Tentou levantar-se e caiu novamente. O médico do clube, Alexandre Vega, chegou logo e o quadro convulsivo começou. O socorro foi prestado imediatamente e, em dez minutos, Max estava no Hospital Ribeirânia, a cerca de 500 metros do Estádio Santa Cruz. Por 50 minutos, Vega ainda tentou reanimá-lo. Tudo em vão, pois Max já tinha morrido no campo, segundo o laudo obituário. Max estava no Botafogo havia mais de dez anos, desde a escolinha, e foi emprestado duas vezes: Sertãozinho (2001) e Internacional de Limeira (no início deste ano). No Botafogo, era um dos titulares de Roberto Fonseca, que prepara o time para a Série C do Campeonato Brasileiro, no segundo semestre.
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