Número 5 do mundo e maior mesatenista da história do Brasil, Hugo Calderano está pronto para conquistar a inédita medalha olímpica. O carioca de 26 anos voltou a jogar em seu melhor nível e começou 2023 com dois títulos em duas semanas consecutivas. Foi campeão do WTT de Durban, na África do Sul, e do WTT de Doha, no Catar, e ainda não perdeu um jogo sequer neste ano. Os dois torneios são etapas do Circuito Mundial e ponto de partida para ele brilhar nos Jogos de Paris-2024.
Número 3 do mundo no ano passado, Calderano passou por uma fase ruim até recuperar o seu melhor jogo e conquistar dois troféus. ”Foi muita reflexão, muitas conversas com meus treinadores e comigo mesmo para entender o que não estava dando certo”, explica ele em conversa com o Estadão de sua casa em Ochsenhausen, na Alemanha, onde vive há quase nove anos.
“Passei por uma fase não tão boa que durou mais do que estava acostumado. Sabia que seria só questão de tempo para voltar bem. E voltei com um nível mais alto do que já tinha apresentado antes”, constata.
No ranking mundial, à frente de Calderano estão apenas três chineses e um japonês. O brasileiro é, portanto, o melhor não asiático do mundo. Para ele, em Paris, nunca foi tão possível conseguir a tão sonhada medalha olímpica. “Se eu conseguir encaixar todos os aspectos do jogo, no meu melhor nível, consigo bater qualquer um”, afirma. Nos Jogos de Tóquio, ele caiu nas quartas de final, resultado inédito para o Brasil, e ficou perto de disputar medalha.
“Sei que com meu estilo de jogo bem agressivo e intenso na parte mental e física, consigo colocar pressão nos meus adversários”, acredita. O maior desafio, diz ele, é ser mais regular e constante. Jogar mais vezes por mais tempo no nível de excelência que alcançou. É esse atributo que diferencia os asiáticos, sobretudo os chineses, dos demais. A China ganhou 32 dos 37 ouros em disputa na história da Olimpíada.
“Mas acho que consigo compensar com a parte mental e física e brigar por uma medalha. Conquistar uma medalha é uma realidade. Dá para acreditar”, confia o brasileiro. “É difícil ganhar dos chineses com muita frequência, mas meu objetivo principal é ganhar deles na Olimpíada e no Mundial. Uma vitória basta. O importante é fazer isso na hora certa”.
Popularização do tênis de mesa
Enquanto treina para ser medalhista olímpico e mundial, Calderano trabalha para popularizar o tênis de mesa no Brasil, onde o esporte é praticado mais como lazer, como hobby por parte de crianças e jovens. “Popularizar o tênis de mesa no Brasil é tão importante quanto os troféus. Se a gente tiver mais ídolos, mais gente vai conhecer, assistir, torcer e jogar nosso esporte”, ressalta. Tornar popular a modalidade faz parte do legado que quer deixar quando parar de jogar.
“Quando me aposentar, quero olhar para trás e ver que pelo menos contribuí um pouco com o tênis de mesa brasileiro e que as novas gerações tenham mais estrutura e possibilidade de chegar no nível mais alto vindo do Brasil”.
Calderano “furou a bolha” do tênis de mesa com um lance genial que protagonizou durante a final do WTT de Doha contra o chinês Jang Woojin, que o brasileiro venceu por 4 sets a 1. Na jogada, mostrou habilidade e controle ao bater na bolinha passando o braço por trás das costas, sem olhar, quando tinha o set-point contra.
“Não fiz para humilhar o adversário, para tirar onda. Estava com um set point contra, então foi a única forma que achei no momento de pegar a bola, estava esperando a bola do lado direito e ela veio do esquerdo, não tinha tempo para passar a raquete pela frente do corpo”, detalha. “Acho legal quando jogadas assim furam a bolha do tênis de mesa para mais gente ver como nosso esporte pode ser atrativo, com jogadas espetaculares”.
Para que o tênis de mesa não seja popular não só como atividade física ou lazer, mas também no alto rendimento, Calderano lançou sua própria metodologia, inspirada nos conceitos e princípios de treinamento do mesatenista aprimorados ao longo de quase 20 anos, como liberdade, criatividade, disciplina e diversão. “A gente vai ajudar a introduzir mais pessoas no tênis de mesa”, considera.
A metodologia funcionará em sistema de licenciamento, oferecendo diferentes opções de programas e modalidades, certificação para treinadores e suporte em gestão, marketing e comunicação, além da participação do próprio atleta em determinadas ações. A ideia é levar a modalidade a academias, escolas, centros de treinamento, clubes, condomínios e empresas.
Poliglota
O brasileiro é poliglota. Fala cinco idiomas fluentemente: português, inglês, espanhol, francês e alemão. E se comunica bem em italiano e mandarim. Também desenvolve seu cérebro com outras atividades, como o cubo mágico e tocando instrumentos.
“Durante a pandemia, aprendi a tocar ukulele e violão, o que eu não me imaginava fazendo alguns anos atrás”, relata. “Isso ajuda a continuar trabalhando meu cérebro e não só pensar no tênis de mesa. A gente usa nosso corpo tão intensamente no esporte que às vezes nosso cérebro fica preguiçoso. É importante não deixar que isso aconteça”.
Calderano divide sua vida entre a Alemanha e o Japão, já que tem residência em Ochsenhausen, mas atualmente defende o clube japonês Kinoshita Meister Tokyo, no qual encontrou dificuldade para se adaptar. “Tive um começo difícil pelo fato de a cultura ser muito diferente. O formato da liga também é bem diferente. Agora já estou mais acostumado, me sinto melhor”, conta.
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