Iphan tomba Complexo do Ibirapuera e dificulta plano de concessão à iniciativa privada

Decisão publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União é provisória, mas impede mudanças estruturais no local

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Foto do author Ricardo Magatti

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decidiu nesta quinta-feira pelo tombamento provisório do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, onde está o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. A decisão do órgão ligado ao Ministério do Turismo, assinada pela presidente Larissa Peixoto, foi publicada no Diário Oficial da União.

O governo do Estado tem prazo de 15 dias, a partir desta quinta, data da notificação, para tentar impugnar a resolução, que dificulta o plano do governador João Doria (PSDB) de conceder a estrutura à iniciativa privada e fazer com que ela passe por um amplo processo de reformulação. Mais do que isso, o tombamento representa a manutenção das estruturas do local, utilizado pelos melhores atletas de São Paulo, e também na formação de novos competidores em várias modalidades esportivas.

Iphan determinou otombamento do complexo do Ibirapuera Foto: Werther Santana/Estadão

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O governo estadual se manifestou contrário ao tombamento durante todo o processo. A gestão de Doria - e outras tucanas nos últimos anos - tenta em São Paulo viabilizar a concessão do complexo à iniciativa privada. Mas atletas, ex-atletas e profissionais de outros setores da sociedade civil, como arquitetos e historiadores, se mobilizaram para impedir que a iniciativa fosse adiante.

"Nos últimos 12 meses, foram muitas as manifestações da sociedade civil, em defesa dos valores cultural, histórico e social do complexo, pedindo a revisão do projeto de concessão para que esse valores fossem respeitados", afirma Renato Luiz Sobral Anelli, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), pelo estudo de tombamento do complexo. 

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Com o tombamento provisório, agora, segundo a resolução do Iphan, "eventuais intervenções nele - bem tombado - e em seu entorno devem ser previamente autorizadas pela Superintendência do Iphan no Estado de São Paulo".

Em nota, o governo de São Paulo afirmou que "tomará todas as medidas, sejam elas administrativas ou judiciais, para reverter" a decisão do Iphan. Disse ainda considerar que "não há qualquer fundamento que ampare o tombamento provisório das instalações do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães".

O tombamento provisório ainda tem de ser confirmado pela assembleia geral do Iphan. No entanto, a medida sinaliza que o processo de concessão não deve ocorrer. Isso porque a decisão do órgão federal impede qualquer mudança estrutural no aparelho. "O bem ficará preservado até lá. Cabe agora à sociedade civil propor alternativas para o conjunto, que o preserve, pois o único projeto do Estado e município foi o da sua demolição. Que foi impedida hoje", diz Anelli.

O governo estadual queria construir no lugar da pista de atletismo uma arena multiuso com capacidade para 20 mil pessoas. A nova estrutura receberia eventos esportivos e culturais. O Ginásio do Ibirapuera seria transformado em um shopping center, enquanto que, no lugar do complexo aquático, seria construída uma torre comercial anexa a um hotel. 

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MOBILIZAÇÃO

Em novembro do ano passado, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) chegou a arquivar o processo de tombamento do local depois que Doria alterou, por meio do decreto 64.186, a composição do órgão. Nos últimos meses, o projeto de remodelar o complexo, porém, perdeu muita força. Em dezembro de 2020, uma decisão da Justiça suspendeu a publicação do edital de concessão da estrutura esportiva em resposta a uma ação popular.

A sociedade civil se mobilizou para fortalecer o processo que desencadeou o tombamento, proposto pelo arquiteto Ricardo Augusto Romano Sant'Anna. Há também um pedido de tombamento em andamento no Conpresp, órgão municipal, que, porém, não analisou a solicitação. 

No fim do ano passado, personagens importantes da história do vôlei brasileiro, por exemplo, protestaram contra a concessão do complexo à iniciativa privada. Nomes como William, Maurício e Fabiana usaram as redes sociais como forma de protesto. Eles publicaram uma foto do local em preto e branco com a mensagem “Luto! Pelo esporte de SP”.

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“A tentativa é de enterrar conquistas, histórias, lembranças e projetos futuros, pra dar lugar a um shopping center! Pelo visto, um complexo de lojas chiques vale muito mais do que proporcionar a população diversão, saúde e lazer!”, indignou-se Fabiana, na ocasião. Ela foi bicampeão olímpica pela seleção brasileira feminina de vôlei.

Há um ano, a Federação Paulista de Atletismo também se posicionou em defesa da permanência do Estádio Ícaro de Castro Mello, onde está a pista de atletismo do Ibirapuera, único equipamento estadual do gênero na capital paulista. Atletas de várias modalidades e corredores de rua iniciaram uma campanha para que o local não fosse demolido.

Houve também uma manifestação popular em frente ao complexo contra a proposta do governo paulista de transformar o ginásio do Ibirapuera em um shopping center. Maurren Maggi e Aurélio Miguel, ex-atletas e medalhistas olímpicos, participaram daquele protesto.

O Conjunto Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães tem uma área total de 105 mil metros quadrados, composto por cinco complexos distintos: Ginásio do Ibirapuera; Estádio Ícaro de Castro Mello; Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo; Palácio do Judô; quadras de tênis e prédios de administração.

Entre maio e setembro do ano passado, o local abrigou um hospital de campanha, construído para acomodar pacientes com covid-19. Nos últimos meses, a estrutura foi esvaziada. O Estadão visitou o complexo recentemente e constatou que há danos em várias partes. Mesmo sendo certificada pela World Athletics para receber competições internacionais, a pista de atletismo, por exemplo, está destruída e não tem condições de receber treinos ou campeonatos.