Nosso time do surfe em Tóquio foi gigante

Levamos uma equipe de peso à Olimpíada, que representaram muito bem o País

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Por Carlos Burle
Atualização:

Como se envolver emocionalmente de forma positiva em situações de estresse? A resposta dessa questão é com certeza um dos fatores mais importantes para que os atletas de alta performance conquistem bons resultados e tenham uma carreira longa e vencedora. No último dia das competições em Tóquio, o surfe brasileiro confirmou o favoritismo e conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil desses Jogos e o primeiro ouro do surfe na era olímpica.

Desde a chegada do Brazilian Storm e a conquista do primeiro título mundial em 2014, o surfe brasileiro vem amadurecendo e cada vez mais conquistando um espaço de relevância e domínio no cenário do esporte. Quando finalmente em 2016 o surfe foi aceito como esporte olímpico, era claro que o Brasil teria boas chances de medalhas em Tóquio. A questão naquele momento era trabalhar esse time para que pudéssemos ter uma boa representação. Demos o nosso melhor e conseguimos classificar um time de peso, Ítalo Ferreira, Gabriel Medina, Tatiana West e Silvana Lima.

Ítalo Ferreira, surfista brasileiro e medalhista olímpico. Foto: Jonne Roriz/COB

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Nosso time chegou inteiro à Olimpíada. Passamos as primeiras fases com uma certa tranquilidade. Perdemos a primeira representante nas oitavas, a Tati West. A perda seguinte foi nas quartas com a saída da Silvana Lima. Já os nossos meninos seguiram adiante tirando as melhores notas e fazendo excelentes médias. Tudo estava caminhando para uma final brasileira. A formação de um tufão perto da costa japonesa gerou uma ondulação de aproximadamente 2 metros de altura. O que deixou os surfistas, fãs e telespectadores do esporte entusiasmados com a possibilidade de um show ainda maior. E não foi diferente. As quartas de finais começaram com a performance incrível de Gabriel Medina. Mas faltavam poucos minutos para a bateria acabar quando Kanoa Igarashi conseguiu decolar e aterrissar com uma manobra perfeita. O que nós chamamos de uma aéreo full rotation, de frente para as ondas, ou seja, de fronte side!

O fato é: Gabriel já tinha feito duas manobras iguais ou bem parecidas com aquela só que de costas para as ondas. Ou seja, com grau de dificuldade maior. Mas o surfe é um esporte subjetivo e sabemos que as notas são dadas baseadas em critérios como o tamanho da onda, dificuldade da manobra, velocidade e inovação. Os juízes devem se orientar por essas regras e aplicar as notas de forma imparcial. A derrota do Gabriel Medina foi um banho de água fria nos nossos sonhos de uma final verde e amarela.

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Mas o que se viu na sequência foi uma dominância enorme do potiguar Italo Ferreira do começo ao fim da bateria final. Kanoa Igarashi não conseguiria virar a bateria nem se surfasse uma onda perfeita, nota 10.

Dois momentos fortes marcaram o último dia: a vitória do Italo, nos dando a medalha de ouro, e a derrota polêmica do Medina. De qualquer forma, todas as situações em nossas vidas nos trazem oportunidades de aprendizado. Na vitória, temos de exercer a humildade e continuar trabalhando com o propósito de evoluir. Na derrota, procuramos entender onde devemos melhorar para que possamos evitar que situações ruins se repitam. Acredito que no caso do julgamento do surfe devemos entrar com ajuda da tecnologia, assim como no futebol e outros esportes, que oferecem um julgamento muito mais justo.

Parabéns ao nosso time gigante, vocês todos são heróis e representaram muito bem o nosso país.

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